quinta-feira, junho 18, 2009

Que Orgulho é este?

Um projeto faraônico de Estádio para Copa do Mundo de 2014 não é conduta de orgulho, mas soberba. A mais cara entre as idéias arquitetônicas das cidades sedes é também a de futebol mais insignificante. Neste ponto, o contraste denota arrogância, pratica-se a prepotência de fazer o impossível apenas para marcar uma passagem pública no poder, como se obras de grande impacto financeiro fosse o único meio de Homens Públicos entrarem para a história.

Como sentir orgulho de um futebol recalcado na gestão, falido como competição e inexistente como esporte nacional? Com representante apenas na série D do Campeonato Brasileiro, criada este ano, o futebol afundou nas cheias da incompetência e se apresenta para a copa do mundo como um futebol faraônico, pior que as disputas de campeonato amador e porque não dizer de “peladão”, esta sim, mais atrativas ao público que lotam os campos de várzeas para sua prática, com à apresentação de times amadores.

José Miguel Wisnik em seu livro Intitulado, Veneno Remédio: O futebol e o Brasil (Companhia das Letras, 2008) classificam os estudos de grande abrangência sobre o futebol, à abordagem as questões políticas, socioeconômicas e comportamentais em torno do esporte bretão, costumam deixar de lado o essencial: o jogo em si, aquilo que faz dele uma atividade capaz de apaixonar bilhões de pessoas dos mais remotos cantos do mundo, e porque não dizer da Amazônia, como foi a festa de comemoração de Manaus como sede em 2014, onde o jingle de “Eu tenho orgulho de ser amazonense” imperou nos alto-falantes do Estádio Vivaldo Lima, fazendo com que a população chegasse ao delírio.

O futebol, tal como foi incorporado e praticamente reinventado no Brasil, tem muito a dizer, com sua linguagem não-verbal, sobre algumas de nossas forças e fraquezas mais profundas, ajudando a ver sobre outra ótica as questões centrais de nossa formação e identidade. Partindo dessa premissa, os governantes aproveitam-se de projetos sociais e esportivos, tais como: Jovem Cidadão, Esporte e Lazer da Cidade e programas como o Segundo Tempo, para utilizar de mão de obra dos bolsistas e acadêmicos de Educação Física, como massa de manobra para seus projetos faraônicos e megalomaníacos.

É com esta visão que, temas recorrentes da nossa realidade futebolística vem a tona, como a “democracia racial” e o “homem cordial” e a degustação antropológica de influxo cultural e estrangeiro, encontrando aqui um viés inesperado e original como um corta-luz, um drible de corpo, porque não chamar de finta, um lançamento com efeito ou uma folha-seca; Jogadas que os craques brasileiros e porque não dizer “políticos-craques” inventaram ou desenvolveram, encontrando novos caminhos para chegar ao que é a vitória da politicagem.

O bordão utilizado para enaltecer a escolha do Estado como Sub-sede da copa de 2014 e fortalecer a campanha “orgulho de ser amazonense”, do governo, brinca com a fonética, maquia a realidade socioeconômica e esportiva do Amazonas e reinventa o significado do vocábulo “orgulho”. Brinca com a fonética porque deixa escapar, na pronúncia do narrador uma simples campanha política.

Maquia a realidade porque desvia a atenção apenas para o que está aparentemente bom e reinventa o sentindo de orgulho porque valoriza a soberba, a arrogância e a vaidade em detrimento do brio e da altivez. Essa é a genialidade da propaganda: desfigurar real e enganar.No esforço de rotular o orgulho, seja lá qual for ele, a publicidade oficial flerta com a vergonha amazonense. Afinal há mais motivos para encobrir a cara do que mostrá-la ao mundo, isso tudo é pouco para um Estado que almeja atrair todas as atenções mundiais, mas corre o risco de decepcionar. A torcida é para que a sociedade amazonense mande para escanteio a omissão e contra-ataque os desmandos públicos. Apenas assim é possível não só salvar como sentir o orgulho de ser amazonense.

terça-feira, junho 16, 2009

A demolição do Estádio Vivaldo Lima

Não entendo o porquê da demolição do Estádio Vivaldo Lima, conhecido como “Vivaldão” sigo o pensamento do brilhante jornalista Juca Kfori da folha de são Paulo. Sobre a construção de Estádios para a copa de 2014, diz o jornalista: “nem em Barcelona, onde a seleção Brasileira jogou, havia estádios novos. Nem em Madri, palco da final. No México, em 1986, a mesma coisa: nenhum Estádio novo. Já na Itália em 1990, teve um, Turim, Os Estados Unidos, no País mais rico do mundo, em 1994, também, sendo que o Brasil jogou no Estádio Universitário de Stanford, em Campos de Futebol Americano adaptados para o futebol. Na frança, em 1998, de novo apenas o State de France, no subúrbio de Paris, mas o Parque dos Príncipes foi usado, jogou-lhe, alias, até no velho campo de Marselhe, construído para a copa de 1938!”

Após criticar a orgia de gastos em locais que serão usados, no máximo para receber, três jogos da copa, evento que dura um mês, indaga: Precisamos mesmo de novos Estádios ou de um mínimo de transparências e vergonha na cara?”

Trazendo a situação para Manaus, vende-se o absurdo de propostas de demolição do Estádio Vivaldo Lima, para a construção no local de um novo Estádio. Não tem sentindo, pois o velho campo, ainda pode servir muito bem. Feitas as necessárias adaptações. Vários clubes de futebol do município não têm se quer campo para treinamento, tais como: Rio Negro, Sulamérica, América, Libermorro, dentre outros, todavia porque não pensam nesta hipótese. Mas, admitindo-se as idéia, porque não se edifica o projeto em outro local, mantendo-se, o atual, que serviria para o treinamento das equipes. Por exemplo, na Zona Norte da Cidade mais precisamente na Cidade Nova, ou então do outro lado do rio, com vista para a cidade e seu belo entorno, fato que talvez justificasse um pouco o empreendimento da ponte, sem a menor razão econômica, para talvez justificar a tal região a metropolitana.

O historiador Hilário Franco Júnior em seu livro intitulado: A Dança dos Deuses: Futebol, Sociedade e Cultura. (Companhia das Letras-2007), onde o autor argumenta sem limites, porém, fazendo uma análise histórica entendendo que “o futebol é metáfora de cada um dos planos essenciais do viver humano nas condições históricas e existenciais das últimas décadas.” Nesse sentido, procura examinar aquele esporte como metáfora sociológica, antropológica, religiosa, psicológica e lingüística. Somos levados a pensar, por exemplo, sobre os diferentes usos políticos do futebol, seja por regimes autoritários ou democráticos, tanto uns quanto outros sempre abraçados ao nacionalismo.

Mas prevalece a megalomania cabocla, em cima de interesses nem sempre confessáveis e confiáveis. A nova arena, depois do Mundial, ficará aí, faraônica e vazia, como somos ricos, mais que os americanos, que não fizeram um estádio para receber o mesmo evento, e como já resolvemos todos os nossos problemas de: Educação, infra-estrutura, saúde, produção, transporte e saneamento, pouco importa.

Em estudo intitulado: Vitrine ou vidraça: desafios do Brasil para a Copa de 2014, publicado no dia 02 de junho, o SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Construtiva, alertando para a possibilidade de a copa agir como lupa para os defeitos estruturais do País. A avaliação toma Barcelona, na Espanha, como parâmetro positivo. Com recursos de 20 bilhões de dólares, a cidade foi totalmente remodelada a partir de diversas intervenções urbanas e revitalizações de equipamentos que precedem os Jogos Olímpicos de 1992. O parâmetro negativo está no próprio Brasil na preparação da cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Apesar de dispor de recursos bastante inferiores ao de Barcelona, o planejamento priorizou a construção de novos equipamentos mesmo quando havia possibilidade de adequação dos já existentes. Dessa maneira, os investimentos, de 3,6 bilhões de reais não se convertem em um legado de infra-estrutura urbana ou de benefícios para suprir as demandas diárias da população.

A referência mais significativa do insucesso da investida carioca é o estádio João Havelange, mais conhecido como Engenhão e erguido especialmente para o Pan de 2007 no bairro de Engenho de Dentro, na zona norte do Rio. O equipamento custou cerca de 380 milhões de reais, quase o dobro dos 200 milhões de reais previstos inicialmente, e sua construção não trouxe a prometida revitalização do bairro. Pelo contrário, a obra para degradação do entrono decorrente de sua implantação e ainda pela ociosidade a que está sujeita na maior parte do tempo – o estádio é usado somente para grandes jogos e permanece fechado para a comunidade carente de equipamentos para a prática de esportes e lazer. Somos campeões em tudo, haja subdesenvolvimento explícito, como a festa de comemoração que demonstrou, com direito a banda de música, socos no ar e espasmos incontroláveis por parte de organizadores. É demais para o coração hipertenso de um simples mortal.



Jornal do Comércio – 16/06/2009- Coluna Geolística.