sexta-feira, fevereiro 26, 2010

QUALIDADE DE VIDA E O MUNDO DO TRABALHO

Os trabalhadores, considerados aqueles que aplicam sei conhecimento e força de trabalho na produção de bens e serviços, sejam operários, donas de casa, administradores ou profissionais liberais, quase sempre, em nosso país, têm sua condição de saúde e Qualidade de Vida relegada a segundo plano, diante das demandas por sobrevivência e dos interesses corporativo; relativos à produção e ao lucro.
A sociedade, a empresa e o próprio trabalhador pouco se questionam acerca das responsabilidades sobre a saúde dos envolvidos no processo de produção. De acordo com o senso comum, tais responsabilidades são atribuídas ao governo e ao aparelho de assistência, como hospitais e mais recentemente, aos convênios médicos para os poucos que a eles têm acesso.
Espera-se do trabalhador, em primeiro lugar, que ele não adoeça e, em segundo, que concentre sua energia na realização bens e serviços, geração de lucro e manutenção da "saúde corporativa".
Nossa sociedade experimenta, nos últimos sessenta anos, uma breve história de trabalho industrial organizado e, mais recentemente, vê a expansão dos setores geradores de bens e serviços. Durante esse tempo, poucos esforços foram dirigidos à aplicação de conceitos e estratégias gerenciais relativas à promoção da saú¬de e à Qualidade de Vida no local de trabalho, hoje considerado "locus" privilegiado onde podem ser realizados conjuntos de ações integradas entre o indivíduo, o grupo e a sociedade.
Cresce a percepção de que, para o local de trabalho, confluem muitas das forças capazes de estruturar muitos significados, objetivos e estados de condições de saúde e bem estar que resultem em boa Qualidade de Vida. No entanto, o desencadeamento de um processo positivo, gerador de ambientes e condições facilitadoras nucleadas no local de trabalho, parece depender, em especial, da mobilização e da atitude dos empregadores para ela¬borar, financiar e encorajar a implantação de programas de Qualidade de Vida nas empresas.
De fato, vem ganhando espaço, entre a comunidade empresarial brasileira, o tema da responsabilidade social das corpora¬ções sobre a Qualidade de Vida do trabalhador, da família e da comunidade. Segundo essa proposta, o local de trabalho serve para mobilizar idéias e práticas de responsabilidade social, relativas aos processos industriais de produção, gerenciamento e ofe¬recimento de serviços, sendo tais práticas extensíveis ao conjunto de empresas que se relacionam na cadeia produtiva.
Nesse novo contexto relacional, o empresário passa a entender o processo industrial como elemento paralelo de sustentação da estrutura onde interagem fornecedores, empregados e consumidores, sendo valorizadas a conduta ética, o bem-estar dos funcionários e o impacto das ações corporativas em toda a comunidade e sociedade. A empresa passa a ter permanente preocupação com os processos industriais, sua influência sobre a saúde do trabalhador, repercussões no meio ambiente, origem das matérias-primas, modos de extração na natureza e o impacto do produto e das ações da empresa.
Essa visão integradora, no entanto, é pouco difundida e aplicada no meio empresarial nacional, sendo mais comum o estabelecimento de convênios com setores prestadores de serviços de saúde e lazer ativo, redes fornecedoras de bens de consu¬mo e itens de alimentação, financiados, quase sempre com exclusividade, pelo usuário. Esporadicamente, vêem-se ações relacionadas à análise ergonômica, adequações de mobiliário e instalações de equipamentos no posto de trabalho, além de programas de atividade física preventiva, como a ginástica laborai.
Problemas e Variáveis que Influenciam a Qualidade de Vida do Trabalhador
A ausência de políticas empresariais e governamentais, e mesmo de metodologias integradoras dirigidas à promoção da saúde do trabalhador, resultam em séries de problemas que atin¬gem o trabalhador, a família, a empresa e toda a sociedade.

INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA

Qualidade de Vida significa várias coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e compreendem seu cotidiano. Envolve, portanto, saúde, educação, transporte, moradia, trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como vive o mundo. Compreende, desse modo, situações extremamente variadas, como anos de escolaridade, atendimento digno em caso de doenças e acidentes, conforto e pontualidade nas condições para se dirigir a diferentes locais, alimentação em quantidade suficiente e com qualidade adequada e, até mesmo, posse de aparelhos eletrodomésticos (Pires et al., 1998). Mais que tudo, exige exercício do chamado controle social – mediante o acompanhamento da administração de bens estatais, privados e públicos, como escolas, produtos de consumo pessoal, pavimentação e conservação de ruas e locais coletivos para o lazer - con¬duz à cidadania, com o exercício democrático da cobrança da transparência das medidas e procedimentos dos governantes e dirigentes. É a própria "cidadanização".
Minayo et ai. (2000) identificaram a expressão Qualidade de Vida (QV) com a figura do discurso conhecida como polissemia, isto é, quando uma única palavra ou um conjunto de vocábulos implica muitos sentidos. Assim, ao dizer Qualidade de Vida, pode-se estar querendo indicar bem-estar pessoal, posse de bens ma¬teriais, participação em decisões coletivas e muito mais. De fato, são tão numerosos os sentidos possíveis que já se afirmou que QV é daquelas palavras que, querendo dizer muito, acabam por pouco significar.
Diante de tanta complexidade de concepções e práticas so¬bre Qualidade de Vida, visualiza-se o quanto há de controvér¬sias no que se refere a seus indicadores, isto é, em como medi-la.
De fato, reconhece-se que nos dias atuais a quantificação de aspectos populacionais da saúde de grupos humanos visa basi¬camente, segundo publicação em periódico oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS), prover informações para conhecimento de três conjuntos de situações (Robine et ai., 1999):
I) sua vitalidade e estado funcional;
II) suas condições epidemiológicas atuais; e
III) sua Qualidade de Vida.
Historicamente, os primeiros indicadores utilizados, para medir saúde, por paradoxal que pareça, foram relacionados à sua ausência, ao seu contraponto, à morte. De fato, logo se observou que a medida mais global da magnitude da morte, a taxa de mortalidade geral, se eleva para as populações de piores condi¬ções de saúde. Num momento subseqüente, passou-se a contar com a taxa de mortalidade infantil (TMI), definida como o número de mortes em menores de um ano dividido pelo total de nativivos no período, multiplicado por base decimal, em geral 1000: países ou regiões com melhores condições de vida apresentavam TMI totalmente inferiores que as demais, o que levou ao entendimento de que esse indicador seria o vetor mais sensível das mudanças materiais de saúde-doença de um povo. Acompanhamento por maior tempo, no entanto, veio revelar o que poderia ser esperado: trata-se de um quantificador vulnerável a melhorias na assistên¬cia setorial à faixa etária considerada, como redução de bron¬copneumonias e doenças diarréicas (Gonçalves , 1997), por incremento nutricional decorrente, por exemplo, de suplementação alimentar específica (Gonçalves , 2001).
Atualmente já se dispõe, na literatura especializada, de massa suficientemente ampla, profunda e coerente de informa¬ções básicas sobre sentido e características dos indicadores setoriais para uso corrente, em especial em relação às exigências para com suas propriedades, como validade, confiabilidade, es¬pecificidade, sensibilidade, mensurabilidade, custo-efetividade e coerências interna e externa: nesse sentido, revela-se fundamen¬tal a aplicação sistemática de definições operacionais e procedi¬mentos de mensuração e cálculos padronizados, a fim de garantir qualidade e comparabilidade.

PROMOÇÃO DA SAÚDE: UMA ABORDAGEM PARA A QUALIDADE

As questões emergentes sobre o enfoque da Qualidade de Vida relacionada à saúde, direcionam o debate atual contrapondo a declarada falência do modelo de atendimento em hospitais e clínicas destinado a "remediar" as enfermidades já instaladas e as propostas de redirecionamento dos recursos públicos para o fortalecimento de políticas de promoção da saúde. Surgem, por¬tanto, questões de caráter aplicado que passam a exigir dos gestores de saúde a definição de elementos prioritários para o fortalecimento da promoção da saúde das populações. Quais são e como proceder para que os investimentos tenham efeitos multiplicadores nas esferas de influência dessas ações? Há indicadores que apontam para abordagens complementares entre a avaliação individualizada dos problemas e condições afeitas à saúde das pessoas e um conjunto de ações públicas nas áreas da educação, habitação e outras que estruturam o conceito de atuação inter-setorial em ações concorrentes à Qualidade de Vida. Parece crescer a consciência sanitária para a resolução conjunta de problemas enfrentados, analisados e resolvidos pela ação po¬pular, acompanhada pêlos setores administrativos do poder público e respaldada com o apoio técnico e com recursos financeiros para a busca da Qualidade de Vida.
Na busca de maior esclarecimento sobre essas questões, pudemos notar, até o momento, neste capítulo, que as condições de saúde determinam as percepções e os sentimentos sobre o próprio estado de Qualidade de Vida. Ponderamos, também, que o estilo de vida, estruturado por hábitos e comportamentos influencia a saúde individual e a conseqüente Qualidade de Vida. Consideramos que nossa saúde é controlada e limitada, em especial, pela expressão estrutural e funcional do patrimônio genético individualizado e único. Sabemos que a expressão genômica é ampliada ou reduzida, em razão da capacidade adaptativa do organismo de reagir aos estímulos ambientais sobretudo no que diz respeito às condições de saúde. Dessa forma, estabelecendo vínculos entre as premissas e os argumentos, pode parecer extremamente simples atingir os padrões convencionados ao que é caracterizado como o "ideal de vida saudável". Mas, na realidade, como se promove saúde?
Em publicação recente, Buss (2001) conceitua claramente a Promoção da Saúde. Principia por expressá-la como estratégia promissora "para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornes", i.e., não se tra¬ta de um fim em si mesmo, mas de transformar realidades so¬ciais a partir da saúde". A seguir, distingue que o entendimento da saúde se faz em dois sentidos: no mais estrito deles, consiste nas ações dirigidas às mudanças de comportamento das pessoas, de natureza individual, familiar e "no máximo no ambiente das culturas das comunidades em que se encontram". No segundo sentido, entretanto, identifica os determinantes gerais das condições de saúde como protagônicas e reconhece a saúde como produto de amplo espectro de fatores relacionados à Qualidade de Vida: suas atividades se situam, portanto, "mais voltadas ao coletivo de indivíduos e ao ambiente, compreendido num sentido amplo de ambiente físico, social, político, econômico e cultural, por políticas públicas e de ambientes favoráveis ao de¬senvolvimento da saúde".
A observação realista dos resultados atingidos pelas políticas públicas dirigidas à saúde demonstra boas intenções para a destinação de recursos e ações, mas erra o alvo ao investir no modelo de atuação curativa e nas abordagens polemica de con¬trole e mudança individualizada dos hábitos e comportamentos. Esse modelo de ação curativa tem-se mostrado ineficiente ao diri¬gir recursos apenas à rede de atendimento de serviços de saúde, tendo em conta os elevados custos de implantação, manutenção e investimento na atualização de equipamentos, gastos com materiais de consumo, além dos custos relativos aos encargos pessoais e administrativos. Torna-se mais ineficiente, ainda, por dar conta de atender mal e a uns poucos, os que acorrem ao "serviço de saúde" apenas quando a enfermidade já se dá por instalada, ten¬do sido destruída importante parte da condição orgânica e emocional, provavelmente vital, para dar conta das reações ao curso do processo patológico e/ou de reabilitação. Constata-se, portanto, que o modelo de atenção à saúde individualizada, idealizado, praticado e reproduzido há décadas, não foi capaz de prover condições de vida que permitam às pessoas a expressão do po¬tencial biológico e cultural acumulado pela evolução humana.
Alguns países desenvolvidos, partidários da implementação de políticas públicas de saúde, considerada direito fundamental do cidadão e responsabilidade do Estado, investem seus recursos era um conjunto de elementos essenciais. São ações voltadas para:
 Educação;
 Saneamento;
 Imunização;
 Suprimento de alimentos;
 Abastecimento de água potável;
 Prevenção de doenças endêmicas;
 Distribuição de medicamentos;
 Tratamento e prevenção de doenças comuns.
Essas ações são preconizadas pela OMS, especialmente divulgadas na Declaração de Alma-ata, documento produzido em 1978, na Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde. No entanto, mesmo nos países considerados desenvolvidos, acumulam-se contingentes expressivos de grupos popula¬cionais atingidos por doenças metabólicas, reumáticas, oncológicas e associadas a estilos de vida inadequados à manutenção de padrões de Qualidade de Vida considerados ideais.
Vimos nos tópicos iniciais que os instrumentos de avaliação sobre a Qualidade de Vida centram-se na integração de concepções subjetivas (percepção individual) e na multidimensionalidade (vários domínios de relações do indivíduo com o meio). Além da definição da OMS e do instrumento idealizado para avaliação da Qualidade de Vida (WHOQOL-100), a maior parte dos instrumen¬tos mais utilizados na avaliação da Qualidade de Vida também considera as percepções individualizadas como a principal fonte de dados. Interessa saber o que o indivíduo percebe sobre sua Qualidade de Vida diante do mundo de relações. Os conceitos de Qualidade de Vida atribuem significados diferenciados segundo as faixas etárias consideradas, os aspectos históricos, culturais e de estratificação social, baseando-se especialmente nas sensações vividas e interpretadas nos domínios biológicos, psicológicos, emocionais e de relacionamento com o ambiente. Não há, portanto, como desconsiderar a importância da avaliação individual.

BEM-ESTAR PSICOLÓGICO E SATISFAÇÃO NA VELHICE

Havighurst (1963) caracterizou satisfação na velhice como o aspecto interno e subjetivo da boa qualidade de vida nesse período. A elaboração de uma escala para avaliar satisfação (Life Satisfaction Index) e a sua conseqüente aplicação a diferentes amostras de idosos permitiu derivar uma explicação fatorial contendo cinco componentes: envolvimento e apatia, resolução e fortaleza, senso de equilíbrio entre metas desejadas e alcançadas, autoconceito positivo e humor (Neugarten, Havighurst e Tobin, 1961).
Um volume considerável de pesquisa gerontológica emergiu dessa formulação inicial, permitindo que fosse mais elaborada e incluísse outras dimensões tais como felicidade, ajustamento, moral, saúde, longevidade, bem-estar subjetivo e equilíbrio entre aspirações e realizações.
A questão chave na integração desses conceitos e de evidências de pesquisa é saber qual ou quais variáveis são mais preditivas dos estados descritos. Saúde, status socioeconômico, idade, raça, emprego, status conjugal, disponibilidade de transporte, residência, atividade e in¬tegração social parecem ser os preditores mais importantes, mas não os únicos. Nesse sentido, Cutler (1979) advertiu que se trata de um construto multidimensional. A complexidade das dimensões particulares que o compõem é considerável. Além disso variam de grupo para grupo (apud Ryff, 1982).
Entre os anos de 1965 e 1984, Rudinger e Thomae empreenderam um estudo longitudinal com 222 pessoas de classe média baixa, nascidas na Alemanha Ocidental entre 1890 e 1895 e entre 1900 e 1905. Assim como os estudos de Berkeley (Shock, 1984) e Duke (Busse e Mad-dox, 1985), essa pesquisa, denominada The Bonn longitudinal studtj ofaging, ofereceu informações valiosas sobre o ajustamento e a satisfação na velhice.
As principais conclusões do trabalho de Rudinger e Thomae (1990) que sintetizam os dados gerados por esta tendência de pesquisa foram:
1. A saúde biológica é um dos mais poderosos preditores do bem-estar na velhice.
2. A saúde percebida e as maneiras como as pessoas lidam com problemas de saúde são ainda mais preditivas do que as condições objetivas de saúde, valiadas segundo parâmetros médicos.
3. A satisfação com a família é uma importante condição do bem-estar na velhice.
4. Há efeitos da iriteração entre status social, variáveis de personalidade, interações dentro da família, atividades desempenhadas fora da família e satisfação na vida.
5. A situação econômica e psicológica oferece suporte material para o bem-estar subjetivo. Este por sua vez influencia os modos de lidar com os diferentes graus de qualidade da habitação, com a vizinhança, com a independência econômica e com as expectativas relativas à estabilidade fi-nanceira.
6. A capacidade de iniciar e manter contatos sociais, mediada por fatores motivacionais e cognitivos, influencia a percepção sobre a qualidade da vida diária. A uniformidade e a variação na vida diária podem ser percebidas como prazerosas ou desagradáveis por diferentes pessoas, ou até pela mesma pessoa, em diferentes momen¬tos de sua vida. De qualquer forma, este é um importante preditor de satisfação na velhice.
7. A avaliação que o idoso faz de sua situação atual é outro mediador importante de sua satisfação na vida. O senso de bem-estar pode variar em função do número de eventos importantes e de pressões percebidos durante o ano anterior; do ponto de vista individual sobre a redução de oportunida¬des e contatos sociais; da forma como o idoso lida com a morte; da extensão de sua perspectiva de tempo futuro: de como valoriza seu passado, e de como faz uso de suas possibilidades atuais.

BEM-ESTAR PSICOLÓGICO E SENSO DE CONTROLE NA VELHICE

A teoria original sobre o desamparo aprendido, formulada por Seligman (1975), focalizava a sincronia entre o desempenho e a conseqüência como determinante do senso de controle. Ou seja, as pessoas podem sentir-se desamparadas se suas ações não são suficientes para alterar o que lhes acontece.
Em 1978, Abramson, Seligman e Teasdall reformularam essa noção e propuseram que o desamparo é causado por crenças ria própria incapacidade de comportar-se para alterar o ambiente. Três outras dimensões de julgamento podem explicar o desamparo:
1. Internalidade x externalidade (o fracasso é causado por elementos pessoais, como a capacidade, ou ambientais, como a incompreensão dos ou-tros?)
2. Estabilidade x transitoriedade (as causas do ma¬logro são duradouras ou passageiras?)
3. Generalidade x especificidade (as causas do fracasso fazem sentir seus efeitos em muitas ou em poucas situações?
A atribuição de fracasso a deficiências pessoais, generalizadas e duradouras, podem produzir em qualquer pessoa de qualquer idade, e não só sobre as mais velhas, um profundo senso de ineficácia (Peterson e Seligman, 1984).
Os problemas de auto-eficacia de idosos estão centrados tanto em estimativas reais quanto em perspectivas distorcidas sobre suas possibilidades, as quais ocorrem num inundo em que, de um modo geral, as pessoas só enxergam as perdas e o declínio da velhice.
Embora em parte esta percepção seja condizente com a realidade de uma grande quantidade de idosos, também é verdade que eles dispõem de reservas fisiológicas sufi¬cientes para manter o seu funcionamento psicossocial em um nível adequado. Além disso, o desenvolvimento de capacidades, como por exemplo a especialização e a me¬mória, podem compensar outras perdas. O grande
problema é a interferência do senso de ineficácia, que pode ser intensificado por preconceitos do próprio idoso e das pessoas que o cercam. O declínio contínuo do senso de auto-eficácia pode ocasionar declínio cognitivo e perdas no funcionamento do comportamento (Bandura,1986).
Brandtstádter e Baltes-Gõtz (1990) realizaram uma pesquisa longitudinal com l .228 adultos de 35 a 59 anos, com o objetivo de verificar se ocorrem mudanças no senso de controle pessoal ao longo do desenvolvimento. (Os aspectos do desenvolvimento avaliados pêlos sujeitos foram saúde e bem-estar físico, estabilidade emocional, sabedoria e compreensão madura da vida, auto-estima, reconhecimento social, eficiência ocupacional, assertividade, companheirismo, empatia, independência pessoal, segurança da família, prosperidade e estabilidade, eficiência intelectual, auto desenvolvimento, preparo físico, amizades e alcance de ideais.) Observaram que essas mudanças estão sujeitas a variações culturais, muito embora se saiba que na maioria das culturas ocorram sentimentos de depressão e desamparo em situações de morte, doença e perdas de um modo geral. Afirmam que, com a idade, tende a aumentar a noção de vulnerabilidade a influências externas e provenientes do envelhecimento biológico, muitas das quais são vistas como incontroláveis. Verificaram também que quanto maior o senso de controle pessoal mais intensos são os sentimentos de satisfação e que, quanto menor, maio¬res as possibilidades de depressão, preocupação e desamparo.

ATIVIDADE FÍSICA E A QUÍMICA NA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA

Muita gente acha que para melhorar a saúde basta praticar exercícios físicos. A melhora da saúde não depende somente da pratica regular de alguma atividade física, mas também, de uma melhora na qualidade do sono, reeducação alimentar e mudança de hábitos relacionados com o estilo de vida, tais como tabagismo, etilismo e o estresse.
Qualquer atividade física, por mais rápida e simples que seja, deve ser precedida de avaliação médica e acompanhada por um profissional de Educação Física qualificado, para que uma simples caminhada matinal aliada a hábitos saudáveis, não evolua para um excesso de treinamento e conseqüentes stress físico. Toda prescrição de treinamento deve ser individualizada e respeitar todos os sinais, sintomas e hábitos do aluno, todos esses fatores são indissociáveis e juntos promovem não só uma melhora da saúde, como da qualidade de vida.
As atividades mais recomendadas são as atividades aeróbicas de baixo Impacto (hidroginástica, natação e caminhada), por estarem associadas a um menor índice de lesões, assim como é fundamental um trabalho de força muscular, já que sua perda está associada à instabilidade, perda de massa óssea e até mesmo incapacidade funcional. A prática da atividade física como forma de prevenir doenças é extremamente importante, barata e eficaz, porém muitas vezes é necessário um trabalho compensatório realizado de forma terapêutica para corrigir posturas inadequadas e relaxar a musculatura que se contraem de forma excessiva e desnecessária.
Praticando alguma atividade física por pelo menos 30 minutos, melhorando a qualidade do sono, diminuindo os níveis de stress, hidratando-se e alimentando-se de forma adequada, você melhora não só a sua saúde física, mas também, as saúdes mental e espiritual, promovendo um envelhecimento saudável da química da vida.
A química está presente em todos os seres vivos. O corpo humano, por exemplo é uma grande usina química. Reações químicas ocorrem a cada segundo para que o ser humano possa continuar vivo. Quando o nosso cérebro processa milhões de informações para comandar nossos movimentos, nossas emoções, o que está ocorrendo é química. Quando não há mais química, não há mais vida.
Sem a química, a civilização não teria atingindo o atual estágio científico e tecnológico, que permite ao homem sondar as fronteiras do universo, deslocar-se à velocidade do som, quebrar recordes, produzir alimentos em pleno deserto, tornar potável a água do mar, desenvolver medicamentos para doenças antes consideradas incuráveis e vencer barreiras em diferentes campos de aplicação.
A industria química transforma elementos presentes na natureza em produtos úteis e sustentáveis ao homem, substâncias são modificadas e recombinadas através de avançados processos para gerar matérias-primas que serão empregadas na formulação de medicamentos, na purificação da água, na fabricação de bens como automóveis e computadores, na construção de moradias e na produção de uma infinidades de itens, como roupas, utensílios domésticos e artigos de higiene.
A química nos acompanha 24h por dia. Ela está presente em praticamente todos os produtos que utilizamos no dia-a-dia, do sofisticado computador a singela caneta esferográfica, do possante automóvel ao carrinho de brinquedo, não hà produto que não utilize matérias-primas fornecida pela indústria química. A maioria dos alimentos chega às nossas mãos, em embalagens desenvolvidas pela química. E nossas roupas, há fibras sintéticas e corantes de origem química. Em nossa casa, há uma infinidade de produtos fornecidos, direta ou indiretamente, pela industria química é para ajudar o homem a ter mais saúde, mais conforto, mais lazer e mais segurança que a indústria química investe dia-a-dia em tecnologia, em processos seguros e no desenvolvimento de novos produtos. O resultado é o progresso.
Muito no futuro do homem e do planeta está sendo desenhado hoje pela indústria a química. A indústria química investe em pesquisa para jogar limpo com a vida. Um jogo limpo em que todos ganham.

ATIVIDADE FÍSICA E A QUÍMICA NA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA

Muita gente acha que para melhorar a saúde basta praticar exercícios físicos. A melhora da saúde não depende somente da pratica regular de alguma atividade física, mas também, de uma melhora na qualidade do sono, reeducação alimentar e mudança de hábitos relacionados com o estilo de vida, tais como tabagismo, etilismo e o estresse.
Qualquer atividade física, por mais rápida e simples que seja, deve ser precedida de avaliação médica e acompanhada por um profissional de Educação Física qualificado, para que uma simples caminhada matinal aliada a hábitos saudáveis, não evolua para um excesso de treinamento e conseqüentes stress físico. Toda prescrição de treinamento deve ser individualizada e respeitar todos os sinais, sintomas e hábitos do aluno, todos esses fatores são indissociáveis e juntos promovem não só uma melhora da saúde, como da qualidade de vida.
As atividades mais recomendadas são as atividades aeróbicas de baixo Impacto (hidroginástica, natação e caminhada), por estarem associadas a um menor índice de lesões, assim como é fundamental um trabalho de força muscular, já que sua perda está associada à instabilidade, perda de massa óssea e até mesmo incapacidade funcional. A prática da atividade física como forma de prevenir doenças é extremamente importante, barata e eficaz, porém muitas vezes é necessário um trabalho compensatório realizado de forma terapêutica para corrigir posturas inadequadas e relaxar a musculatura que se contraem de forma excessiva e desnecessária.
Praticando alguma atividade física por pelo menos 30 minutos, melhorando a qualidade do sono, diminuindo os níveis de stress, hidratando-se e alimentando-se de forma adequada, você melhora não só a sua saúde física, mas também, as saúdes mental e espiritual, promovendo um envelhecimento saudável da química da vida.
A química está presente em todos os seres vivos. O corpo humano, por exemplo é uma grande usina química. Reações químicas ocorrem a cada segundo para que o ser humano possa continuar vivo. Quando o nosso cérebro processa milhões de informações para comandar nossos movimentos, nossas emoções, o que está ocorrendo é química. Quando não há mais química, não há mais vida.
Sem a química, a civilização não teria atingindo o atual estágio científico e tecnológico, que permite ao homem sondar as fronteiras do universo, deslocar-se à velocidade do som, quebrar recordes, produzir alimentos em pleno deserto, tornar potável a água do mar, desenvolver medicamentos para doenças antes consideradas incuráveis e vencer barreiras em diferentes campos de aplicação.
A industria química transforma elementos presentes na natureza em produtos úteis e sustentáveis ao homem, substâncias são modificadas e recombinadas através de avançados processos para gerar matérias-primas que serão empregadas na formulação de medicamentos, na purificação da água, na fabricação de bens como automóveis e computadores, na construção de moradias e na produção de uma infinidades de itens, como roupas, utensílios domésticos e artigos de higiene.
A química nos acompanha 24h por dia. Ela está presente em praticamente todos os produtos que utilizamos no dia-a-dia, do sofisticado computador a singela caneta esferográfica, do possante automóvel ao carrinho de brinquedo, não hà produto que não utilize matérias-primas fornecida pela indústria química. A maioria dos alimentos chega às nossas mãos, em embalagens desenvolvidas pela química. E nossas roupas, há fibras sintéticas e corantes de origem química. Em nossa casa, há uma infinidade de produtos fornecidos, direta ou indiretamente, pela industria química é para ajudar o homem a ter mais saúde, mais conforto, mais lazer e mais segurança que a indústria química investe dia-a-dia em tecnologia, em processos seguros e no desenvolvimento de novos produtos. O resultado é o progresso.
Muito no futuro do homem e do planeta está sendo desenhado hoje pela indústria a química. A indústria química investe em pesquisa para jogar limpo com a vida. Um jogo limpo em que todos ganham.

O EXERCÍCIO E A QUALIDADE DE VIDA NA IDADE TARDIA

Cada vez mais estudos vêm evidenciando a atividade física como recurso importante para minimizar a degeneração provocada pelo envelhecimento, possibilitando ao idoso manter uma qualidade de vida ativa. Visto que ela tem potencial para estimular várias funções essenciais do organismo, mostra-se não só um coadjuvante importante no tratamento e controle de doenças crônico-degenerativas (como diabetes, hipertensão, osteoporose), mas é também essencial na manutenção das funções do aparelho locomotor, principal responsável pelo desempenho das atividades da vida diária e pelo grau de independência e autonomia do idoso.
O fenômeno do envelhecimento populacional que ocorre no mundo levanta questões importantes, seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de vista socioeconômico , questões estas que são interdependentes. A mais importante dentre essas questões, segundo Spirduso (1989), é a de saber se o ciclo de vida aumentando pode ser vivido com qualidade, ou se tratará apenas de um período de aumento de estados patológicos e morbidade que precede a morte.
A duração do período de morbidade tem implicações sociais, pessoais e médicas de amplas dimensões. Para o individuo, tal período, vivido por um prazo longo, representa sofrimento físico e psicológico e possibilidades de dificuldades financeiras muito sérias. Para a sociedade, limite do ciclo de vida aumentado pode ser vivido até seu final de forma saudável, com autonomia, independência e qualidade para o indivíduo, isto representa um período de tempo que reflete um mosaico de memórias felizes, bem como a culminância e a síntese de projetos de uma vida bem vivida, e não acarreta em desastre econômico-social para as nações.
Para que haja uma diminuição desse período de morbidade ou de estados disfuncionais de pré-morbidade, devem-se criar planos e programas que previnam tal situação. Dentre esses mecanismos preventivos, certamente a atividade física deve ser um componente importante, pois o envelhecimento associa-se, obrigatoriamente, à redução da capacidade aeróbia máxima, da força muscular, das respostas motoras mais eficientes, da capacidade funcional geral, ou seja, á redução da aptidão física. Como uma conseqüência da diminuição da tolerância ao esforço físico, um grande número de pessoas idosas vivem abaixo do limiar da sua capacidade física, necessitando somente de uma mínima intercorrência na saúde para tornarem-se completamente dependentes.
Estudos em gerontologia têm demonstrado que atividade física , junto com hereditariedade, alimentação adequada e hábitos de vida apropriados podem melhorar em muito a qualidade de vida dos idosos. De acordo com vários autores – dentre os quais citamos Berger (1989) e Shephard (1991) -, o declínio linear natural das capacidades funcionais, que se inicia ao redor dos 30 anos, pode ser substancialmente modificado pelo exercício, pelo controle do peso e pela dieta. Evidências demonstram que mais da metade do declínio da capacidade física dos idosos é devida ao tédio, à inatividade e à expectativa de enfermidade. Pesquisas sugerem que 50% do declínio, freqüentemente atribuído ao envelhecimento biológico, na realidade é provocado pela atrofia por desuso, resultante da inatividade física que caracteriza os países industrializados (Spirduso 1989; Paffenbarger et al. 1994).
A atividade física regular e sistemática aumenta ou mantém a aptidão física da população idosa e tem o potencial de melhorar o bem-estar funcional e, conseqüentemente, diminuir a taxa de morbidade e de mortalidade entre essa população. A atividade física e a aptidão física também têm sido associadas à diminuição da incidência de morbidade e mortalidade produzidas por doenças crônicas entre indivíduos de meia idade. Dentre estas, são citadas as doenças coronarianas, a hipertensão, a hiperlipidemia, o diabetes não-insulino dependente e o câncer. Resultados recentes mostram uma associação favorável ente atividade física e fatores de risco para doenças cardiovasculares entre a população idosa, sugerindo um efeito da atividade física como fator de proteção para esse grupo de pessoas (Pescatello e Di Pietro 1993; Matsudo e Matsudo 1992).
Nos últimos anos, os profissionais da saúde têm enfatizado a necessidade de prevenir ou retardar o desenvolvimento das doenças crônicas que acometem a população idosa, numa tentativa de aumentar a expectativa de vida ativa, através da manutenção do bem-estar funcional. Para Pescatello e Di Pietro (1993), muitas das alterações nas estruturas e funções fisiológicas que ocorrem com a idade resultam da inatividade física. Como exemplo, as autoras citam a alteração na sensibilidade à insulina, na massa corporal magra, na taxa metabólica basal e na capacidade aeróbia. Além disso, apontam o impedimento que muitos idosos podem ter para manter suas atividades diárias por problemas de diminuição da resistência física (diminuição da capacidade aeróbia), fraqueza generalizada e/ou quedas sistemáticas (diminuição na força).

EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR

O envelhecimento envolve mudanças na estrutura e na fisiologia cardiovascular, que não levam, necessariamente, à ocorrência de patologias. No entanto, observa-se um declínio da função cardiovascular que implica uma diminuição da capacidade do coração em adaptar-se ao estresse imposto pelas doenças cardiovasculares. Observa-se, também, a ocorrência do processo arterosclerótico com uma mudança prejudicial para o idoso. Tem-se observado que as atividades aeróbias melhoram a função cardiovascular, tanto em jovens quanto em idosos. Contudo, os mecanismos fisiológicos que levam a essa melhora ainda não estão bem compreendidos.
Dentre as mudanças estudadas, Green e Crouse (1993) relacionam as adaptações fisiológicas e estruturais e os efeitos no transporte de O2 na circulação. Em relação às primeiras, verifica-se: o aumento da densidade capilar nos músculos em exercício; um possível desenvolvimento da vascularização colateral; a regressão de lesões arteroscleróticas, que é obtida pela associação do controle do estresse, dieta pobre em gorduras exercício moderado (a extensão na qual a atividade física contribui para a regressão é desconhecida); o aumento ventricular, decorrente do aumento da espessura da parede do ventrículo esquerdo e do miocárdio, o que é comum para atletas jovens e idosos; o declínio na duração da contratação do miocárdio; a melhora no eletrocardiograma e exercício.
Quanto às segundas, os autores citam: diminuição na freqüência cardíaca de esforço, diminuição esta que pode atingir 10 bpm (batimentos por minuto), e que é menor em mulheres e homens treinados com idade de 70 a 80 anos, quando comparados aos seus pares não treinados. No entanto, a freqüência cardíaca de repouso, que decresce com o treinamento nos indivíduos jovens, não apresenta a mesma resposta para o individuo idoso, a não ser naqueles que foram praticantes durante toda a vida. O volume sistólico, tanto em repouso quanto em esforço, aumenta no idoso com o treinamento. Em relação ao débito cardíaco do idoso, a maioria dos estudos sugere que o treinamento não altera suas respostas, tanto durante o repouso, quanto durante o exercício submáximo. Entretanto, também há sugestões de que esta função aumente com o treinamento, ao redor de 6%, como conseqüência do aumento do volume sistólico.
Em relação à pressão sangüínea de repouso e à resistência vascular, os autores apontam resultados, também, bastante controvertidos. Há observações de que, no individuo idoso, tanto a pressão sangüínea sistólica quanto a diastólica não sofrem nenhum efeito de treinamento, porem essa queda não é estatisticamente significativa. Já a comparação entre atletas idosos com não-atletas mostra, nos primeiros, uma pressão sangüínea e uma resistência vascular significativamente menor.
Em relação a alterações no consumo Maximo de O2 ou V2max, constata-se seu declínio com a idade, que não pode ser prevenido, mas diminuído com treinamento aeróbio. Alguns estudos indicam um aumento no V2max, numa grande magnitude que varia de 8% a 38%, em indivíduos de 50 a 84 anos. Assim, tais resultados sugerem que o declínio no V2max com a idade podem ser minimizados através de treinamento sistemático.
Os valores da diferença arteriovenosa de O2 (a- VO2) no idoso aumentam com o treinamento, sendo que a magnitude desse aumento parece variar diretamente com a intensidade do treinamento. A a-VO2 é a capacidade total da extração de oxigênio pelo corpo, através dos tecidos periféricos (Blair et al. 1994). Outros efeitos do treinamento aeróbio no idoso referem-se à condução e à utilização do oxigênio. Isso inclui aumento de hemoglobina, de mitocôndrias, da atividade de enzimas aeróbias e do volume sangüíneo total.

ATIVIDADE FÍSICA PARA TERCEIRA IDADE E O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

O envelhecimento é uma decorrência direta do bem-estar social. Hoje a maior expectativa de vida no país é a da região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul); 70,4 anos, e a menor é a do Nordeste; 64,8 anos. Segundo o Plano Integrado de Ação Governamental para o Desenvolvimento da Política Nacional do Idoso de 1997, o principal impacto na composição etária na sociedade brasi¬leira, nesta Segunda metade de século, tem sido proporcionado pelo aumento absoluto e relativo da população adulta e idosa, a faixa etária de 60 anos ou mais é a que mais cresce em termos proporcionais. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde, entre 1950 e 2025 a população de idosos no Brasil crescerá 16 vezes contra cinco vezes da população total.Este crescimento populacional é o mais acelerado no mundo. Estas projeções estatísticas demonstram que a proporção de idosos no país passará de 7,5% em 1991 (11 milhões) para cerca de 15% em 2025, que é a atual proporção de idosos da maioria dos países europeus. Tal aumento colocará o Brasil, em termos absolutos, como sexta população de idosos no mundo, com mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Estas projeções são baseadas em estimativas conservadoras de fecundidade e mortalidade, sendo que se houver uma melhora acentuada nas condições sociais nas zonas mais miseráveis, como o Nordeste, o envelhecimento da população brasileira ocorrerá numa proporção muito maior.
Muito embora o Brasil esteja posicionado entre as primeiras economias do mundo, ainda apresenta indicadores sociais equiparados aos da sociedade afro-asiáticas, sendo um país caracterizado por marcantes contrastes. Assim, é comum, para um grande percentual da população brasileira, a acumulação sucessiva de deficiências sociais ao longo do ciclo de vida, com agravamento subs¬tancial com o avançar da idade.

ENVELHECIMENTO SOCIAL

A preocupação antológica do homem para com o seu futuro não é do mundo moderno, vem de milênios. A idéia fixa do ser humano com relação à incerteza do porvir, com a ameaça de faltar bens materiais que garantam sua subsistência até o final da vida, pode ser detectada no código de Hamurábi, de 23 séc.a.C. no código de Manu, do séc. XIII a.C., e nas leis das doze tábuas, de 300 anos a.C. Dentro de todos os agrupamentos sociais o estado de velhice foi tomado como elemento de valorização, graduado conforme a condição social, desde o simples anonimato até a posição mais dignificante. Em algumas tribos esquimós, o envelhecimento só chegava para os indivíduos no momento em que não mais conseguiam, pôr si sós, provere m suas próprias necessidades e colaborarem no trabalho geral do grupo. Sentindo-se, então, pesados aos demais, recorriam ao suicídio, solução indicada pela própria cultura para aqueles que, incapacitados para a vida normal, eram considerados velhos e deviam desaparecer. As sociedades da Antiguidade, em geral, consideravam o estado de velhice altamente dignificante e acatavam como um sábio todo aquele que atingia essa etapa.
Para entender melhor a questão dos idosos no Brasil, é preciso conhecê-los nos dois brasis: o do nordeste e o do sul. No nordeste ainda predomina a família patriarcal, onde é muito forte a presença da cultura indígena, em que o velho desempenha papel de destaque, de transferir para os jovens a cultura da tribo, seu folclóre, suas crenças, suas histórias, sendo o mais respeitado de todos os indivíduos, justamente pela experiência acumulada ao longo da vida. No sul, predomina a sociedade industrial, marcada pelo acirramento da competição entre as pessoas, na busca de promoção social e humana, resultante direta da estrutura de produção. Dentro deste quadro, os inabilitados são reduzidos socialmente. Da mesma maneira, esta sociedade extremamente competitiva, segrega e discrimina a pessoa que ingressa na terceira idade. Em muitas cidades onde estão funcionando grupos organizados de idosos, com programas que incluem diferentes atividades sociais, culturais e esportivas, tem sido observado que a atividade física é um excelente caminho para que as pessoas se libertem de preconceitos, percam complexos e re-descubram a alegria e a espontaneidade, reintegrando-se à sociedade.
Para aqueles que participam dos gn pôs de convivência, a vida possui outro sabor. Cooperação, determinacão e iniciativa passam a fazer parte do seu dia a dia. O idoso reduzido socialmente fecha-se para o mundo à sua volta. É comum encontrar nos asilamentos idoso alheios às atividades que se desenvolvem no seu ambiente.


ENVELHECIMENTO PSICOLÓGICO

Na velhice, o equilíbrio psicológico se torna mais difícil, pois longa história da vida acentua as diferenças individuais, quer pela aquisição de um sistema de reivindicações e desejos pessoais, que pela fixação de estratégias de comportamento. Atrás de uma barreira de isolamento social, pessimismo face à existência, passividade queixas somáticas, que têm sido erroneamente considerados com parte do processo normal de envelhecimento, mascara-se a ansiedade a depressão e a insónia, precursoras comuns de infarto do miocárdio. No decorrer dos anos, certas modificações se processar no íntimo do indivíduo, de forma que ficam alterados seus valores atitudes. Os entusiasmos são menores, a motivação tende a diminuir e são necessários, ao idoso, estímulos bem maiores para fazê-lo empreender uma nova ação. É como se ele carecesse da reserva; de força física ou psicológica para lutar contra fatores, tanto externos como internos, que ameacem a vida. Perdendo o diálogo harmonioso com seu corpo, apresenta problemas de postura, rigidez coordenação motora comprometida e medo de caminhar, aumentando dessa forma, as tensões psíquicas. Por não manter mais uma relação dos movimentos corporais, se voltam para dentro. Por isso, a utilização da atividade física como forma de expressão corporal é bastante importante, pois proporciona o funcionamento normal do organismo, fonte de satisfação elementar que contribui para produzir eutonia. Além disso, com a atividade física regular procura-se eliminar a ociosidade e estimular o indivíduo. O fato de se fazer uso do corpo de forma correta aumenta a disposição para participação nas atividades do dia a dia. Entretanto, a motivação para a atividade física depende muito de características comportamentais e de experiências vivenciais. As pessoas mais saudáveis possuem uma condição maior de adaptação. No Brasil, onde as pessoas das classes desfavorecidas são em maior número, observam-se, nos ambulatórios de hospitais e postos de saúde, a manifestação dos sentimen¬tos desagradáveis acumulados, através de uma "linguagem física" que evidencia sintomatologias diversas. A atividade física atua de for¬ma benéfica nessa fase, contribuindo para a liberação das tensões e estados de insegurança através da aquisição de novos valores.



ENVELHECIMENTO BIOLÓGICO

As mutações de ordem biológica verificáveis no declínio do organismo humano decorrem, fundamentalmente, do processo de senescência, responsável por perdas orgânicas e funcionais.Tais modificações são caracterizadas por uma tendência geral à atrofia e por diminuição da eficiência funcional. Entretanto, um organismo pode também decair, em sua força e função, por moléstias, por uma utilização inadequada de sua capacidade, ou mesmo por má nutrição. Assim, nas considerações sobre o decréscimo funcional do organismo humano, devem-se introduzir questões que estabeleçam e distingam condições naturais e condições patológicas do processo, a fim de se conhecerem as redu¬ções irreversíveis e as que podem ser evitadas.
De particular interesse primariamente é a maior tendência a erros na réplica do DNA, RNA e proteínas, ou na redução na capacidade de reconhecimento e reparação destes erros. Durante o cur¬so da evolução humana, o desenvolvimento de linhagens celulares altamente diferenciadas, tais como as células do sistema nervoso, cardiovascular e imunitário, propiciou uma vantagem seletiva. Todavia, estas células altamente especializadas são mitostáticas, tendo perdido a capacidade de regeneração. A partir da idade de 30 anos, uma diminuição progressiva do número de células nervosas (desa¬parecem cerca de 100.000 por dia) é evidenciada e acentuada em algumas zonas do sistema nervoso central. Células menos especializadas, como as da mucosa intestinal, mostram menos efei¬tos de envelhecimento, portanto são capazes de reproduzir-se constantemente antes que ocorra qualquer degeneração das células mães, sendo gradualmente substituídas por tecido conjuntivo. Modificações das estruturas da membrana ocasionam alterações de permeabilidade e flutuações no ambiente intracelular. Lipofucsina, um pigmento que se desenvolve com o avançar da idade e predomi¬na em neurônios e células miocárdicas, é considerado como resultado de uma degradação oxidativa de lípides instaurados e estruturas de membranas intercruzadas. Em seguida a essas alterações, acrescentam-se as atrofias celulares, que representa a expressão mais evidente do envelhecimento. Apresentando-se de forma desigual e desarmônica, resulta em um aspecto desordenado e irregular dos vários tecidos.
As células do tecido conjuntivo também apresentam uma redução numérica e diminuição da capacidade mitotica, mas readquirem a capacidade proliferativa para dar solução de continuidade aos tecidos. A substância fundamental mostra uma diminuição dos mucopolissacarídeos ácidos e da glucosamina. As modificações do colágeno são devidas à formação de ligações cruzadas intra e intermoleculares, ocasionando um endurecimento, com alterações estruturais e físico-químicas. Há uma diminuição da elastina nas fibras elásticas e um aumento da elastase, degeneração granular e hialina, adelgaçamento, desfibrilação, encolhimento, com menor resistência aos álcalis. Não há modificações significativas nas fibras reticulares. Os sinais de sofrimento e degeneração do tecido colágeno são considerados como indicadores da idade biológica dos organismos. Como a velocidade do envelhecimento não é a mesma para todos os organismos da espécie humana, é possível que indivíduos da mesma idade apresentem situações biologicamente diferenciadas por maiores ou menores capacidades. Com efeito, essa velocidade, que ocorre, sobretudo no interior do organismo, determina formas diferentes de declínio para cada órgão. É possível que, apesar da alta idade, existam em um organismo velho um ou alguns órgãos com funcionamento típico de jovens. Segundo Hollmann, (Citado em Baur & Egeler, 1984) a idade biológica de uma pessoa com 50 anos podem variar em até 30 anos.



ENVELHECIMENTO FUNCIONAL

No envelhecimento do organismo as alterações morfológica e funcionais dos órgãos e tecidos não são patológicas no seu senestrito, mas não se encontram numa normalidade fisiológica. O sistema respiratório, entre todos os sistemas orgânicos, é o que só as maiores perdas funcionais fisiológicas condicionadas pela idac A expansibilidade do tórax é reduzida pela ossificação da parte anterior das costelas, cuja função é garantir sua mobilidade com relação esterno e permitir as variações de diâmetro da caixa torácica, redução do vigor dos músculos respiratórios acessórios contribui com o processo. O aparecimento de fibras cruzadas do tecido pulmonar caracteriza envelhecimento do colágeno e, somando-se à diminuição do número de capilares alveolares, desenvolve um "enfiser da velhice". O volume residual não-mobilizável e a capacidade rédual funcional aumentam. Com o aumento do volume pulmonar 1 tal, há redução progressiva da pressão de O2 no sangue arteri com pressão de CO2 inalterada.
Esse aumento de volume gasoso intratorácico, que correspom à capacidade residual funcional, é a mais significante expressão diminuição da elasticidade pulmonar, tendo estreita relação com aumento da resistência brônquica ao fluxo respiratório. A determinação dos valores dos volumes pulmonares é influenciada pela superfície corporal, pelo sexo, peso, grupo étnico, grupo social e hábito fumar.
As alterações do esqueleto cardíaco compreendem as estruturas do tecido conjuntivo e válvulas. No miocárdio, o colágeno esclerosado, aumentando a sua espessura. Entre as fibras musculares formam-se pequenos focos de calcificação. Processos esclerosantes semelhantes são encontrados no endocárdio atrial e na superfície das válvulas AV, havendo um espessamento que con¬siste de colágeno adicional e de fibras elásticas, caracterizando, pela deposição de lipofucsina, o processo de senescência. O sistema de estimulação e condução não é excluído destas alterações senis gerais. No nódulo sino-auricular, no feixe de His e em suas ramifica¬ções encontra-se aumento do tecido conjuntivo e adiposo e perda de fibras funcionais.
A elasticidade da aorta diminui com a idade e seu calibre aumenta. As alterações de grandes vasos baseiam-se em modificações na camada média, onde o colágeno aumenta e onde as texturas elásticas apresentam interrupções. O resultado é o aumento da velocidade das ondas de pulso e da pressão dependente do pulso,
f resultando em aumento da pressão sistólica com discreta alteração da diastólica. A redução global do volume e peso cardíacos está
f relacionada com a baixa massa corporal total na senilidade.
A redução da massa total a partir dos 40 anos de idade se faz
acompanhar de uma redução no consumo de oxigénio sob condições basais e sob condições de sobrecarga. As alterações fisiológicas refletem as anatômicas e acometem principalmente a capacidade do sistema cardiovascular de responder a maiores exigências.
As ações do trabalho físico sobre a função cardíaca na senilidade
provocam a diminuição do volume sistólico máximo e da freqüência cardíaca, significando uma redução da capacidade máxima de capitação de oxigênio, para qualquer tipo de trabalho.
A distribuição do volume-minuto cardíaco é influenciada pelo aumento da resistência nas diferentes regiões do fluxo. Há uma diminuição no fluxo renal pela perda de néfrons, assim como no esplâncnico, hepático, coronariano, cerebral, musculares e cutâneos de repouso. À medida que as reservas de redistribuição são limitadas pêlos baixos valores do débito esplâncnico e renal no repouso, a redução dos débitos musculares durante o exercício é relativamente mais significativa do que a do débito cardíaco. Combinada com a redução do número de fibras musculares, de sua vascularização e capacidade oxidativa, a redução dos débitos musculares contribui para a queda do volume máximo de oxigênio.
Na involução sofrida pelo sistema nervoso, há uma diminuição do volume do encéfalo e da medula espinhal. O peso do cérebro alcança seu máximo por volta dos 14 anos nos homens e dos 25 anos nas mulheres. Aos 80 anos, o peso do cérebro médio declina ao nível típico de uma criança de três anos de idade. Os neurônios se atrofiam, as ramificações dendríticas se tornam menos densas e as fibras perdem sua mielina, o que reduz as diferenças de aparên¬cia entre as substâncias cinza e branca. Ao nível do sistema nervo¬so periférico, há uma diminuição da velocidade de condução do es¬tímulo e do central a um retardamento na compreensão das situações. Essas modificações afetam as funções cognitivas e afetivas, mas não necessariamente o declínio das faculdades intelectuais, que possuem como fatores primordiais os meios sociais, psíquicos, pedagógicos e antecedentes pessoais. São da mesma forma os defits sensoriais que afetam, sob o aspecto motor, a visão e a sensibilidade proprioceptiva, alterada pelas modificações do sistema nervoso. Em particular, as alterações proprioceptivas modificam a atitude natural do indivíduo, e sobre este fundo proprioceptivo vêm se enxerte as modulações afetivas, porque a atitude é também um comporte mento; um comportamento social e um modo de expressão da personalidade profunda.
Contrariamente ao que se observa em outras regiões do sistema nervoso, no tecido muscular não parece haver diminuição n número de motoneurônios alfa dos cornos medulares anteriore: entretanto, há desnervação de um certo número de fibras muscuk rés, em conseqüência da degeneração de sua placa motora, causando uma atrofia das mesmas. São parcialmente substituídas pç tecido conjuntivo fibroso e adiposo, sendo que as demais sofrer uma hipertrofia compensatória, não deixando de diminuir o volume total muscular. A transmissão do comando motor às fibras ainda ei funcionamento se altera devido à redução do fluxo axônico. As placas motoras que subsistem são mais finas e estão distribuídas irregularmente no músculo.
Há uma redução da quantidade de proteínas contrateis consequentemente, de estriação transversal. As alterações no tecido muscular da pessoa idosa são concordes com a redução de si força muscular e de sua capacidade aeróbica e anaeróbica. Observa-se que a atividade física habitual facilita a manutenção dos nível de proteína corporais e dessa forma, retarda a redução da força observada com o envelhecimento. A atrofia dos fusc neuromusculares, que acompanham a do músculo todo, desempenha sem dúvida um papel nos déficits da sensibilidade próprio cep e do controle motor na rapidez de reação e da capacidade de controlar novos movimentos, especialmente aqueles que exigem, pela si complexidade, maior habilidade. A fibrose do tecido conjuntivo de apoio, que aumenta de importância com relação ao tecido muscular, também contribui para reduzir a flexibilidade.
A partir da Quarta década de vida, o peso do esqueleto diminui com a osteoporose nos ossos do tronco e dos segmentos, e se manifesta por diminuição da sua espessura. O tecido ósseo está em constante transformação, à ossificação periostal prossegue durante a vida toda, acarretando um aumento do diâmetro externo, mas a reabsorção medular é mais rápida, resultando no alargamento do canal e adelgamento das paredes, tendo como causas problemas relacionados à nutrição e absorção e modificações das funções endócrinas. As alterações que ocorrem no tecido conjuntivo da cápsula articular levam ao espessamento e ao conseqüente aumento do tempo de trânsito das substâncias metabólicas e distúrbio na nutrição da cartilagem articular. Observam-se alterações paralelas no osso subcondral, danos nos condrócitos devido a impactos repetidos, e perturbações anatômicas; alteração do metabolismo do colágeno e proteoglicanos. A microarquitetura do colágeno torna-se desorganizada e a matriz extracelular, superidratada; há fibrilação e ruptura das camadas superficiais. O aparelho musculotendinoso altera-se com armazenamento intersticial de gordura e perda da elasticidade. A perda generalizada da elasticidade do aparelho de sus¬tentação e locomoção provoca uma diminuição da capacidade coor¬denadora e da habilidade motora. A forma de andar modifica a fim de manter um equilíbrio cada vez mais incerto, o comprimento dos passos diminui, o tempo de apoio no chão é maior, e a amplitude de movimento dos tornozelos e quadris se reduz, bem como o movimento da cintura pélvica, tronco e membros superiores, que se afastam para auxiliar o equilíbrio.
"A ciência e a tecnologia têm o propósito de criar condições para uma existência mais prolongada. Não basta simplesmente sobreviver: é necessário viver e participar da civilização. Não basta simplesmente prolongara existência: é necessário dar maior vida há f estes anos. A capacidade de mover-se, andar e atuar está ligada a esta percepção corporal; o estar consciente e presente no corpo!"
Etapas do Envelhecimento
Segundo Nicola, 1986, existem quatro etapas de envelhecimento, diferenciadas da seguinte forma:
-Idade do meio ou crítica - dos 45 aos 60 anos, aproximadamente - Encontram-se os primeiros sinais de envelhecimento, que representam frequentemente uma tendência ou predisposição ao aparecimento de doenças.
- Senescência gradual dos 60 aos 70 anos, aproximadamente - É caracterizada pelo aparecimento de alterações fisiológicas e fun¬cionais instaladas, típicas da idade avançada.
- Velhice - Nesta idade, que se inicia por volta dos 70 anos, está-se frente ao velho ou ancião no sentido estrito.
-Longevo- ou grande velho - Aquele com mais de 90 anos.
De maneira geral, os estudiosos em gerontologia são unânimes em salientar que a idade cronológica não corresponde à idade biológica, e essa classificação é utilizada como uma orientação para o profissional quanto à maneira de se abordar a problemática apre¬sentada pelo indivíduo: se preventiva, de reabilitação ou paliativa

EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE A APTIDÃO MUSCULAR NA TERCEIRA IDADE

O foco de atenção das pesquisas relacionando aptidão física e saúde no idoso tem recaído sobre a atividade física de natureza predominantemente aeróbia, devido a sua associação com melhoras na condição da saúde biológica e na melhora de certas doenças crônicas diretamente relacionadas com o sistema cardiorrespiratório. Porém, em termos práticos, tal melhora relaciona-se muito mais com a redução dos fatores de risco das doenças cardiovasculares do que com a capacidade do individuo em permanecer funcionalmente independente. Ou seja, para um idoso realizar suas tarefas cotidianas como subir escadas, carregar suas compras e abaixar-se, ele necessita de pouca aptidão cardiovascular, mas mais de um conjunto de capacidades como força muscular, resistência muscular localizada e flexibilidade, conjunto este denominado “aptidão muscular” pelo American College of Sports Medicine (Blair et al. 1994).
Os efeitos funcionais resultantes das alterações musculares são a diminuição da força e o aumento na dificuldade de coordenação, que contribuem para uma diminuição da capacidade em realizar atividades diárias e elevam o risco de incapacitações físicas. É bem conhecido o fato de que, com o decorrer da idade, a elast icidade e estabilidade dos músculos torna-se menor pela atrofia muscular e a massa muscular diminui em proporção ao peso do corpo, o que leva a uma redução da força muscular . Além disso, observa-se um prejuízo na flexibilidade, ocasionado por degenerações e danos nas articulações.
Esses processos reduzem consideravelmente a mobilidade das pessoas idosas. A atrofia muscular aumenta o risco de incapacitações ortopédicas e diminui o controle sobre o corpo esse menor controle aumenta o risco de acidentes, sobretudo quedas. Somas-se a essas alterações a diminuição da flexibilidade, que prejudica a resolução de problemas simples do cotidiano como vestir-se, lavar-se, limpar a casa, entre outros (Meusel 1984).
Há a sugestão da existência de um “limiar” de força mínimo para a realização das AVDs e das AIDVs, que estaria relacionado com a quantidade de peso corporal que a pessoa pode sustentar na realização de tais atividades. Abaixo desse limiar, o individuo torna-se incapaz de manter sua independência e autonomia, ao passo que a melhora na força pode capacitá-lo a realizar suas tarefas cotidianas. Além disso, há estudos sobre quedas em idosos que associam redução da força de membros inferiores à incapacidade em levantar-se de uma cadeira, com instabilidade ou pouco controle postura, com redução da amplitude de passada e da velocidade do andar (Phillips e Haskell 1995).
Vários autores observam que o processo de envelhecimento do sistema muscular reduz tanto as forças estática e dinâmica máximas, quanto a potência e a velocidade máximas, mas afirmam que elas pode ser aumentadas para os idosos que se submetem a programas regulares de força. Buskirk e Segal (1989), revisando vários estudos sobre força em mulheres e homens de 60 a 65 anos, concluíram que homens e mulheres, na sexta década de vida, têm uma capacidade semelhante e podem ter um aumento de 30% a 40% na sua força. Aoyagi e Shephard de força, que dentre os aspectos observados podem ser citados hipertrofia muscular, prevenção da atrofia muscular e lentificação no decréscimo do número de fibras. Quanto aos ganhos em força, os autores verificaram que estes variam de 10% a 44%, dependendo do tempo do treinamento e de sua intensidade.
É duvidoso ainda se a melhora desse desempenho pode ser atribuída a ganhos de massa muscular ou a um melhor recrutamento neural, ou mesmo a uma melhoria na habilidade de execução dos movimentos em estudo. Esses autores sugerem ainda que o treinamento regular da força pode manter a velocidade de contratação pela preservação da combinação excitação-contração, mais do que pela diminuição de fibras tipo II. Essas respostas levam ao aumento tanto da força estática quanto da dinâmica. No entanto, não se observam mudanças no pico da velocidade da contração.
Puggaard et al. (1994) acompanharam a evolução dos efeitos de cinco meses de programas de ginástica, dança e natação sobre a força máxima, a coordenação, o equilíbrio, o tempo de reação e a flexibilidade de 59 homens e mulheres, com idade entre 60 e 82 anos. Observaram que, independentemente do tipo de atividade praticada, o treinamento sistemáticos teve um efeito fisiológico importante em todas as variáveis estudadas, indicando um aumento nas funções neuromusculares.
Para Fleck (1993), o treinamento sistemático da força pode desacelerar a perda da massa muscular e assim manter seus níveis. Ele observa que a atividade física moderada, para indivíduos de 30 a 70 anos, pode resultar num ganho de força de 10% a 20%. Acrescenta, também, que atletas que treinam sistematicamente a força mantêm valores altos de força e de potência muscular até a sexta década de vida. O autor também aponta estudos evidenciando aumento na força muscular na nona década de vida, numa proporção de 15% a 28% após 10 a 12 semanas de treino, sendo esta uma resposta ao treinamento semelhante à dos indivíduos mais jovens. Não há dúvida de que tais ganhos de força têm um impacto significativo sobre a qualidade de vida desses indivíduos.
O autor também ressalta a existência do mito de que o treinamento de força resulta em hipertensão. Embora a pressão sangüínea se eleve substancialmente durante o treinamento de força, em repouso ela não apresenta alterações. Segundo o autor, essa elevação da pressão arterial durante o treinamento decorre de problemas cardiovasculares já portados por alguns indivíduos, não tendo sido observado nenhum acidente de treinamento em programas de reabilitação cardíaca. Para o autor, apesar de serem poucos em indivíduos idosos, as conclusões obtidas são seguras.
Phillips e Haskell (1995) comentam o fato de que, até recentemente o treinamento de força para idosos era visto como inefetivo, uma vez que esta diminui com o passar dos anos. Quando estudos com idosos encontravam aumento da força muscular, este era atribuído aos efeitos da aprendizagem do movimento. Os autores consideram que os achados sobre a aparente falta de respostas aos programas de força podem ser explicados mais como uma atitude social negativa dos pesquisadores para com os idosos do que como uma insuficiência de fundamentos teóricos. Há 20 anos, os treinamentos de força para idosos baseavam-se e recomendações de cuidados excessivos e as prescrições de treinamento tendiam, exclusivamente, para trabalhos com carga de baixa intensidade.
Contudo, essa visão dos fatos vem se modificando atualmente, pois verifica-se nos últimos anos um crescente aumento de pesquisas muito bem controladas, que vêm mostrando, convincentemente, que o treinamento de força muscular de alta intensidade pode produzir um aumento significativo da força muscular, bem como hipertrofia muscular, de um modo seguro, seja em idosos que vivem na comunidade, seja em idosos institucionalizados e com idade cronológica bastante avançada.
Fiatarone et al. (1990) corroboram essas afirmações. Esses autores, considerando que o treinamento de força é seguro e eficaz em idosos saudáveis, procederam a um estudo com idosos institucionalizados (os quais são poucos estudados sob este aspecto). Desse modo, submeteram dez indivíduos com mais de 90 anos a um treinamento de força de alta intensidade e puderam observar um aumento da força dos membros inferiores de 174% em média, demonstrando uma relação linear entre força do quadríceps e velocidade do andar em indivíduos nonagenários.
Também Binder (1995), preocupada com a qualidade de vida de idosos institucionalizados e demenciados, buscou verificar os efeitos de um trabalho de força com essa população. Num estudo piloto, submeteu um grupo de 25 idosos (idade média de 88,7 anos) a um treinamento semanal de força dos membros inferiores com essa população. Embora seu estudo apresente alguns problemas de ordem metodológicas, a autora recomenda que esse tipo de trabalho faça parte da rotina semanal dessas pessoas, visto que o risco de queda pode ser diminuído com os ganhos de força.
A artrite à instabilidade da maioria das articulações, tais como a dos joelhos, exacerbando outras causas de quedas nesse grupo etário. A força dos músculos responsáveis por essa articulação é a chave para compensação da sua instabilidade. Também tem semelhante importância a velocidade de contração muscular, fundamental em situações de restauração do equilíbrio quando, por exemplo, ocorre algum tropeção (Aoyagi e Shephard 1992).
Cama et al. (1994) observaram em seu estudo que mulheres e homens com idade entre 63 e 79 anos aumentaram sua força (extensores e flexores do joelho). Inicialmente, homens e mulheres mostraram força similar, mas, ao final do treinamento, os homens melhoraram mais. Morini et al. (1994) constataram em seus estudos com idosos de ambos os sexos um aumento significativo na força dos músculos extensores e flexores do joelho, após um treinamento isocinético.
Em relação à dependência final, Work (1989), Aoyagi e Shephard (1992) e Schroll (1994) indicam que a insuficiência de força muscular pode tornar árduas ou impossíveis tarefas como levantar o próprio corpo de uma cadeira, sentar-se sobre vaso sanitário, sair da cama, carregar compras e até mesmo destampar uma garrafa. As pessoas que se confrontam a tais situações passam a ser dependentes de outras, perdem sua autonomia e sua qualidade de vida.
Esses estudos indicam que, se o treinamento da força muscular em indivíduos idosos leva a incrementos dessas capacidades, os aspectos funcionais relativos à marcha, ao equilíbrio (quedas) e a outras ações motoras que dependem da locomoção serão altamente beneficiados por esse tipo de treinamento. Portanto, esse treinamento tem um importante papel na prevenção e reversão de tais mudanças, uma vez que resulta em efeitos positivos para aquisição da força, mesmo numa população mais idosa. Se tal capacidade física deteriora 5% por década e o treinamento a aumenta em 10%, então pode-se retardar em aproximadamente 20 anos a idade na qual a força pode torna-se insuficiente para a realização das tarefas diárias (Buskirk e Segall 1989).
Além da força muscular, Meusel (1984) destaca a flexibilidade como um dos mais importante fatores de segurança, pois ela auxilia na prevenção de acidentes. A flexibilidade, definida como a capacidade de movimento da articulação com a maior amplitude possível, declina de 20% a 30% dos 20 aos 70 anos, com um aumento nesse percentual depois dos 80 anos. A falta de flexibilidade, particularmente nas articulações da coluna, do quadril e dos joelhos, está associada a dificuldade na realização de vários componentes das AVDs e AIVDs, podendo ser a principal causa de desconforto e incapacidade no idoso.
Segundo Phillips e Haskell (1995), a flexibilidade pode mais ser relacionada à “aptidão do tecido” do que ser considerada um componente da aptidão muscular, particularmente no idoso. Isso por que umas das principais limitações na amplitude do movimento articular com a idade resulta do aumento da proporção do tecido conectivo na massa muscular, da desidratação da articulação e da mudança de sua composição em colágeno e elastina. Este conjunto de alterações leva ao aumento da densidade e da rigidez da articulação, levando à diminuição da amplitude de movimento.
A flexibilidade tem sido muito menos estudada do que a força muscular, porém os estudos feitos a esse respeito encontraram efeitos positivos do treinamento na amplitude de movimento do idoso, seja através de programas específicos de alongamento, seja através de outros tipos de programas. É importante ressaltar que são observados efeitos positivos mesmo em pessoas muito idosas.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

FESTIVAL FOLCLÓRICO DE MANAUS: A TRADIÇÃO POPULAR QUE VEM SE PERDENDO

O Centro Cultural dos Povos da Amazônia (CCPA), antiga Bola da Suframa, em Manaus, é palco do tradicional Festival Folclórico do Amazonas, que há 53 anos reúne diversas manifestações culturais da capital e do interior amazonense. Este ano do dia 31 de Maio a 21 de junho, o evento contou com cerca e 200 atrações folclóricas, entre cirandas, quadrilhas, danças internacionais e apresentação dos três bois – bumbas de Manaus. Garanhão, Corre Campo e Brilhante.
Personagens e danças típicas que marcaram a vida de muitos amazonenses revelam-se no palco, durante quase um mês de evento, que reuniu em média de 8 mil pessoas por noite, conforme a organização.
O Festival Folclórico do Amazonas começou em 1947, com uma quermesse, pela iniciativa do Professor e Historiador Mario Ypiranga Monteiro, no bairro da Cachoeirinha, nas proximidades da igreja do Pobre Diabo, onde hoje funciona o Hospital Geral de Manaus, mais conhecido como Hospital Militar. Depois passou para a rua Ajuricaba, em um festival para apresentação de grupos folclóricos. Em 1957 mudou-se estádio General Osório, sob a organização do Jornal Diário da Tarde e ganhou um outro formato, de um grande arraial com um tablado, comissão julgadora, premiação e desfiles de diversos grupos.
Na década de 70, foi organizada a primeira associação de grupos folclóricos que levou o festival para a Bola da Suframa. Depois de perambular por vários lugares, até que, no Governo atual, foi trazido novamente para a praça Francisco Pereira da Silva, conhecido como Bola da Suframa, com condições definitivas de ficar ali. Só que de 40 grupos transformou-se hoje em 300. A cidade também saiu de 300 mil habitantes, na década de 60 para 1,85 milhão hoje, segundo estimativa do IBGE, e aquilo que tinha uma expressão de identidade de determinados grupos e de determinadas linhas de pesquisa cultural, hoje infelizmente não preserve tanto essa identidade.

CULTURA E MODERNIDADE

A cultura amazônica tem peculiaridades, influencia por mistura de povos indígenas, negros e europeus, ela vem sofrendo mutações com o passar do tempo.
No inicio a migração, principalmente dos nordestinos para a região com o objetivo de fugir da seca e para explorar a borracha, foi fundamental para modelar as tradições e costumes da população.
Os aspectos nos identificam com , as peculiaridades, a linguagem, a culinária, o folclore, a música, as tradições populares, tudo isso gera uma identidade cultural de um povo. Dentro disso é de extrema importância uma política pública de cultura com resultados significativos. Uma política com continuidade seqüência e que esteja focada em alguns pontos fundamentais. A identidade que gera uma população, a reabilitação de patrimônios material e imaterial, que inclui prédios, danças, folclore, o resgate dos brinquedos infantis, das danças folclóricas do interior, e etc.
É com esta visão histórica que verifico com pesar o nosso festival folclórico, principalmente pela cópia do festival de Parintins, que infelizmente com seus carros alegóricos mais parece um carnaval que um festival, o festival tem uma caricatura dessas alegorias e dessa forma de elaboração da festa. Isso não é bom, cada festival tem sua tradução e tradição, seu tempo e seu espaço, como também, sua forma. Nós estamos vivendo uma intraglobalização no Estado, como também, perdendo a mesma linha de conceitos tradicionais históricos.

ECONOMIA E CIDADE

O progresso material obtido nestes últimos anos no Brasil teve como base a aceitação extrema de uma racionalidade econômica exercida pelas firmas mais poderosas, estrangeiras ou nacionais, e o uso extremo de força e do poder de Estado na criação de condições gerais de produção propícias à forma de cresci¬mento adotada. Essas condições gerais da produção não se cingiam à criação de infra-estruturas e sistemas de engenharia adequados, mas chegavam à formulação das condições políticas que assegurassem o êxito mais retumbante à conjugação de esforços públicos e privados, no sentido de ver o país avançando, em passo acelerado, para uma forma "superior" de capitalismo. Por isso, a noção de direitos políti¬cos e de direitos individuais teve que ser desrespeitada, se não fre¬quentemente pisoteada e anulada. Sem esses pré-requisitos, seria im¬possível manter como pobres milhões de brasileiros, cuja pobreza viria de fato a ser criada pelo modelo econômico anunciado como reden¬tor. Aliás, muitos pobres acreditaram nos slogans com que se popula¬rizou o discurso cientificista dos economistas do regime, e acabaram mais pobres ainda. O modelo político e o modelo cívico foram instrumentais ao modelo econômico. As esperanças com que este último acenava às massas eram por demais sedutoras, e estas massas eram despertadas para a necessidade, o interesse, a vantagem de ampliação do consumo, mas não para o exercício da cidadania, que era cada vez mais amputada.
Colocada de fato a serviço do encontro de combinações entre pos¬sibilidades técnicas mais produtivas e logo apontadas como as que convinham melhor a toda a sociedade, a economia se tornava, ao mesmo tempo, a técnica das técnicas e o modelo, a referência maior, de uma elaboração intelectual destinada a se tornar, sem debate váli¬do, concreto histórico e vivido.
Assim, a compreensão do movimento social ou, pelo menos, seu equacionamento intelectual com vistas à intervenção pelo planeja¬mento ou, simplesmente, pelas ações cotidianas do poder público ganha como referência maior não propriamente a economia (o que já seria abusivo), mas as chamadas necessidades econômicas, o que, nas condições acima enunciadas, consiste em abandonar toda preocupa¬ção teleológica e em valorizar um pragmatismo que atribui o coman¬do, sem base filosófica, da vida social aos instrumentos e à sua utiliza¬ção racional, em nome do lucro.
A partir da idéia de infalibilidade da ciência como fator decisivo da atividade produtiva em nossos dias, a ciência da economia se viu atribuir uma aura mística, por conferir credibilidade, por meio de uma formulação teórica, a práticas mercantis com diverso conteúdo moral. Ao descobrir a possibilidade de novas técnicas, a ciência ape¬nas alcança ser história quando serve de base a uma ação econômica planejada, isto é, à política econômica. Essa fornece as fórmulas mais adequadas à obtenção do maior lucro, à competição entre firmas e à vitória de algumas, orientando os consumos, justificando o compor¬tamento indutor seletivo do Estado e das organizações internacionais, escrevendo, em suma, o manual de procedimentos imprescindíveis para que, pelo progresso técnico, o processo de subordinação das fir¬mas menores às maiores, de países pobres a países ricos e, de um modo mais geral, do trabalho ao capital, aprofunde-se e amplie-se.
Desse modo, a economia tende a se apresentar como uma técnica a mais, voltada exclusivamente para as mais diversas modalidades de maximização do chamado econômico, escondendo a sua condição de ser um meio e erigindo-o em verdadeira finalidade. Esse papel que a economia neoclássica se atribui merece ser examinado à luz da histó¬ria recente do mundo e, sobretudo, de certos países.

CIDADE E ESPAÇO URBANO: UMA NOVA VISÃO DO URBANISMO SUSTENTÁVEL

A ocupação do solo deve ser repensada e aproveita a oportunidade, já que estamos fazendo a revisão do Plano Diretor para sugerir algumas mudanças. Devemos sim trabalhar o urbanismo sustentável, todos nós defendíamos um contra ponto ao crescimento das cidades como são hoje, que dão preferência ao automóvel, onde há uma separação das funções e fazem com que os cidadãos precisem usar o automóvel para conseguir saúde, lazer, moradia e trabalho, além de outros afazeres.
Existem ao todo nove conceitos que guiam o urbanismo sustentável: uso misto, densidade controlada, prioridade de pedestre, equilíbrio, conectividade, paisagismo, prédios verdes, espaços públicos atraentes, cidades apropriadas para os cidadãos.
Estes conceitos resgatam uma forma antiga das cidades, que é ter apartamento, escritórios, lazer e trabalho tudo na mesma rua, a uma distância caminhável. O carro é uma forma de transporte burro, causa o aquecimento do planeta, ocupa o espaço e as calçadas públicas, que deveria ser das pessoas, torna a cidade barulhenta, suja, desumana. Por isso a idéia é resgatar a mistura de funções da cidade. Isso já está tão forte que em alguns lugares da Europa existem prédios com até três funções.
Além do uso misto, se deve priorizar, o pedestre. Fazemos isso através da largura das calçadas, ciclovias, dimensão das ruas e paisagismo.
A cidade deve ser confortável para quem caminha.
Outra questão é o censo de comunidade. As cidades hoje sofrem com espalhamento, por isso elas foram perdendo identidade. Ninguém mais tem a sensação de pertencimento, não sabem mais de onde são. Por isso, criar esse senso é importante, já que torna as pessoas mais felizes, mais seguras.
Também devemos nos preocupar com a densidade. A cidade tem que fugir da moradia familiar elas são essencialmente danosas ao meio ambiente porque carecem de muitos serviços de infra-estrutura para poucas pessoas e isso é caro para o morador, como também, ao meio ambiente. Se todo mundo morasse em casa, nós já teríamos nos mudado paro o terceiro planeta porque não haveria mais espaço. O ideal seriam entre 400 a 800 habitantes por hectare, isso otimiza os serviços urbanos, reduz o consumo de CO2, a poluição atmosférica da luz, etc.
As cidades também precisam de conectividade, ou seja, elas precisam estar ligadas fisicamente e integradas às áreas de entorno. Ainda tem a questão da diversidade econômica dos cidadãos. Isso significa que não podem ter só ricos nem só pobres no mesmo bairro, todos podem conviver mais ou menos em harmonia no mesmo lugar. Porque uma pessoa teria que morar a três, quatro horas de distância do trabalho só porque é mais pobre ou mais rica? Tem que ter mistura social.
Também é preciso ter equilíbrio no ambiente entre áreas construídas e áreas naturais, isso infelizmente não é visível em Manaus, onde o que não observamos são áreas verdes em cidades da Amazônia. As cidades perderam contato com a natureza. Você olha 360 graus e não vê nenhuma árvore, por isso tem que haver ligação com ambientes naturais, principalmente em cidades dos trópicos úmidos como é o caso de Manaus na Amazônia. Ligações, com rios, matas. lagos, igarapés e parques para onde quer que você olhe, deve haver natureza. Isso faz bem às pessoas, além de trazer outros benefícios, como evitar as ilhas de calor.

A COPA DO MUNDO E O MONOTRILHO

A melhor alternativa para a cidade, na avaliação do arquiteto do instituto, que leva o nome de um dos maiores especialistas do País no assunto, Carlos Ceneviva, é o Bus Rapid Transit (BRT), implantado com sucesso em Curitiba (PR) ainda na década de 1970.
Em Manaus, o Expresso se espelhou no BRT, mas faliu em 2004 porque não seguiu o que prevê o sistema. Ele foi idealizado e implantado pelo arquiteto Jaimer Lerner em 1974, durante sua gestão como prefeito em Curitiba. O projeto da Capital do Estado do Paraná é tido como modelo e foi copiado por várias cidades brasileiras e de outros Países.
Mesmo com a vantagem de ser um veículo rápido, uma única linha de monotrilho, como defende o governo estadual não atenderá a demanda local, sendo muito para sustentar o contingente de pessoas que uma competição desse porte traz, muito menos a demanda do Estado, podendo apresentar os mesmos problemas de Manaus, o principal deles é a superlotação.
O modelo que poderá melhorar o transporte coletivo de Manaus é o Metrô, nos modelos das grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo e em Segundo Plano o Bus Rapid Transit, que consiste em um sistema que trafegam em corredores exclusivos. Diferente do que foi feito em Manaus com o Expresso, se o projeto original do BRT for seguido, os efeitos são mais duradouros.
O modelo original de BRT prevê o alargamento das ruas e a construção de faixas exclusivas alem da já existentes, diferentes do que foi feito no Expresso na administração do ex-prefeito Alfredo Nascimento, atual Ministro dos Transporte. O sistema que custou inicialmente R$ 112 milhões aos cofres da prefeitura de Manaus em 2002, foi desativado dois anos após essa data por ineficiência.
Além de Curitiba, o BRT foi implantado com sucesso em outros países, como na cidade Bogotá Capital da Colômbia. Nesses lugares que tem populações superiores a de Manaus, foi utilizado o projeto original e os resultados obtidos foram positivos.
O monotrilho em Manaus, pode se tornar ocioso após a realização da copa de 2014, o alto custo do sistema pode elevar o preço da passagem ao ponto de tornar o serviço pouco utilizado pela população. A melhor opção para Manaus é o BRT porque a cidade é muito extensa e com grandes vazios urbanos, que é resultado da ocupação desordenada.
Ao custo de R$ 995 milhões do projeto apresentado pelo Estado prevê a construção de uma linha com 13,8 km de extensão ligando a zona norte ao centro de Manaus, a partir do terminal 3 (T3) de integração do bairro Cidade Nova.
De acordo com o projeto do Estado, a população de Manaus pagará uma tarifa de R$ 2,50. Quem comprar a passagem com integração terá que desembolsar R$ 3,50. A modalidade dará o direito, segundo o governo, ao uso do transporte coletivo convencional no desembarque do monotrilho no terminal de integração.
O governo defende que o monotrilho reduzirá, em média 26 minutos a viagem da zona norte ao centro de Manaus. Na sua defesa o Estado sustenta ainda que o monotrilho foi escolhido porque além da mobilidade, irá reduzir o nível de poluição do ar, uma vez que será movido a energia elétrica.

A GEOPOLÍTICA DO FUTEBOL

É muito freqüente, quase um lugar comum, o comentário de que o futebol é uma arte. Em geral, esta afirmação se baseia nas belas jogadas executadas, nos dribles perfeitos, nas boas defesas, nos jogadores míticos etc. É esta a idéia que estrutura, por exemplo, a conhecida oposição entre os assim chamados "futebol-arte" e "futebol de resultados". Ao primei¬ro, associa-se a beleza do espetáculo, o prazer lúdico do jogo; ao segundo, a frieza dos objetivos, que, muitas vezes, segundo esse ponto de vista, estaria transformando esse esporte em um antiespetáculo, na medida em que sacrificaria a beleza do jogo em favor de um resultado final favorável, ainda que este seja obtido por meio de uma dinâmica pouco criativa e sem muitos atrativos para os espectadores. Sem querer entrar diretamente nessa polemica, é possível, todavia, introduzir uma outra pers¬pectiva sobre as relações entre esse esporte e sua dimensão estética.
Podemos, na verdade, procurar a "arte" do futebol não somente em seus grandes momentos, na excelência e na excepcionalidade de seus grandes mestres, mas em sua própria con¬cepção e na transformação da sua idéia em ato, ou seja, em sua execução. De forma mais simples, podemos ver essa atividade como uma arte, na medida em que ela produz uma estetização correspondente a uma atitude comum a várias dinâmicas sociais: a disputa territorial.
De fato, o futebol narra um combate. Duas equipes de igual número de jogadores dividem um terreno composto de dois lados dispostos simetricamente. Nesse campo estão dese¬nhados os limites e os movimentos principais que guiam o jogo. Se tomarmos o esquema traçado no campo de cada uma das equipes, veremos que dois semicírculos em posição oposta sig¬nificam principalmente a idéia de frentes, uma de ataque e outra de defesa, definindo um espaço que costuma ser chamado de "intermediária". Recuada em relação ao semicírculo da defesa, encontra-se a "pequena área". Este espaço demarca a idéia de iminência do gol, último bastião da defesa antes da meta.
Entre os jogadores e o campo há a intermediação de uma bola. Ela constitui, à primeira vista, o elemento central de dis¬puta. Observemos, no entanto, que a bola não é cobiçada pelo simples interesse de guardá-la mais tempo ou de simplesmente possuí-la; ela é a forma explícita de demonstrar um domínio de uma equipe sobre a outra. Este fato é mais ou menos evidente, uma vez que os jogadores se distribuem pelo campo de forma a guardá-lo ou ocupá-lo, e, diferentemente das conhecidas peladas, não há a precipitação permanente de todos os jogadores em torno da bola. Mais ainda, esse domínio se traduz em gol quando a bola alcança o espaço mais guardado do campo do adversário. Em um certo sentido, é a posição da bola no campo, seu deslocamento, que, em última instância, informa-nos sobre a força e a fraqueza das duas equipes. Assim, quan¬do na maior parte do jogo o predomínio do controle da bola se fez sobre o campo do adversário, dizemos que aquela equipe que a manteve mais tempo em situação de ataque, ou seja, no campo do outro, dominou o jogo; em outras palavras, dominou o adversário.
Queremos dizer que na organização de um jogo de futebol a bola é um instrumento de agressão e de imposição de um domínio, mas o verdadeiro objetivo, ou ainda para usar um vocabulário mais próximo desse universo, a meta é colocá-la entre as traves do adversário e demonstrar assim o domínio de uma das equipes sobre o campo como um todo.
Eis por que podemos ver nesse esporte uma estetização; ele fala de um combate, em igualdade de condições, entre dois grupos que disputam um campo entre si. Esta disputa não é direta, ou seja, os jogadores não se digladiam entre eles, para impor pela força um domínio este passa pela intermediação da bola. Assistir a um jogo de futebol significa assim, de alguma forma, reatualizar de forma metafórica um tipo de disputa pelo espaço.
Uma partida de futebol instala assim uma dinâmica de grupo, na qual são seguidas estratégias de combate, respei¬tando-se as regras que garantem os direitos e os deveres iguais para as duas equipes, ou seja, garante-se o combate dentro de um universo em que a violência deve permanecer controlada. Em sua expressão mais simples, o espetáculo se compõe de uma luta entre dois grupos coordenados, em disputa pelo domínio de um terreno, que se traduz no domí¬nio da bola. Chamamos isso de esporte, mas poderíamos tam¬bém chamar de arte, pois nesse espetáculo cada gesto é ritualizado e de fato, em seu conjunto, metaforiza os combates terri¬toriais que ocorrem no mundo. Neste último, no entanto, nem sempre as regras são estáveis; em geral, não há igualdade de condições, e a violência não é controlada.

A DEMOLIÇÃO DO ESTÁDIO VIVALDO LIMA

Não entendo o porquê da demolição do Estádio Vivaldo Lima, conhecido como “Vivaldão” sigo o pensamento do brilhante jornalista Juca Kfouri da folha de são Paulo. Sobre a construção de Estádios para a copa de 2014, diz o jornalista: “nem em Barcelona, onde a seleção Brasileira jogou, havia estádios novos. Nem em Madri, palco da final. No México, em 1986, a mesma coisa: nenhum Estádio novo. Já na Itália em 1990, teve um, Turim, Os Estados Unidos, no País mais rico do mundo, em 1994, também, sendo que o Brasil jogou no Estádio Universitário de Stanford, em Campos de Futebol Americano adaptados para o futebol. Na frança, em 1998, de novo apenas o State de France, no subúrbio de Paris, mas o Parque dos Príncipes foi usado, jogou-lhe, alias, até no velho campo de Marselhe, construído para a copa de 1938!”
Após criticar a orgia de gastos em locais que serão usados, no máximo para receber, três jogos da copa, evento que dura um mês, indaga: Precisamos mesmo de novos Estádios ou de um mínimo de transparências e vergonha na cara?”
Trazendo a situação para Manaus, vende-se o absurdo de propostas de demolição do Estádio Vivaldo Lima, para a construção no local de um novo Estádio. Não têm sentindo, pois o velho campo, ainda pode servir muito bem. Feitas as necessárias adaptações. Vários clubes de futebol do município não têm se quer campo para treinamento, tais como: Rio Negro, Sulamérica, América, Libermorro, dentre outros, todavia porque não pensam nesta hipótese. Mas, admitindo-se as idéia, porque não se edifica o projeto em outro local, mantendo-se, o atual, que serviria para o treinamento das equipes. Por exemplo, na Zona Norte da Cidade mais precisamente na Cidade Nova, ou então do outro lado do rio, com vista para a cidade e seu belo entorno, fato que talvez justificasse um pouco o empreendimento da ponte, sem a menor razão econômica, para talvez justificar a tal região a metropolitana.
O historiador Hilário Franco Júnior em seu livro intitulado: A Dança dos Deuses: Futebol, Sociedade e Cultura. (Companhia das Letras-2007), onde o autor argumenta sem limites, porém, fazendo uma análise histórica entendendo que “o futebol é metáfora de cada um dos planos essenciais do viver humano nas condições históricas e existenciais das últimas décadas.” Nesse sentido, procura examinar aquele esporte como metáfora sociológica, antropológica, religiosa, psicológica e lingüística. Somos levados a pensar, por exemplo, sobre os diferentes usos políticos do futebol, seja por regimes autoritários ou democráticos, tanto uns quanto outros sempre abraçados ao nacionalismo.
Mas prevalece a megalomania cabocla, em cima de interesses nem sempre confessáveis e confiáveis. A nova arena, depois do Mundial, ficará aí, faraônica e vazia, como somos ricos, mais que os americanos, que não fizeram um estádio para receber o mesmo evento, e como já resolvemos todos os nossos problemas de: Educação, infra-estrutura, saúde, produção, transporte e saneamento, pouco importa.
Em estudo intitulado: Vitrine ou vidraça: desafios do Brasil para a Copa de 2014, publicado no dia 02 de junho, o SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Construtiva, alertando para a possibilidade de a copa agir como lupa para os defeitos estruturais do País. A avaliação toma Barcelona, na Espanha, como parâmetro positivo. Com recursos de 20 bilhões de dólares, a cidade foi totalmente remodelada a partir de diversas intervenções urbanas e revitalizações de equipamentos que precedem os Jogos Olímpicos de 1992. O parâmetro negativo está no próprio Brasil na preparação da cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Apesar de dispor de recursos bastante inferiores ao de Barcelona, o planejamento priorizou a construção de novos equipamentos mesmo quando havia possibilidade de adequação dos já existentes. Dessa maneira, os investimentos, de 3,6 bilhões de reais não se convertem em um legado de infra-estrutura urbana ou de benefícios para suprir as demandas diárias da população.
A referência mais significativa do insucesso da investida carioca é o estádio João Havelange, mais conhecido como Engenhão e erguido especialmente para o Pan de 2007 no bairro de Engenho de Dentro, na zona norte do Rio. O equipamento custou cerca de 380 milhões de reais, quase o dobro dos 200 milhões de reais previstos inicialmente, e sua construção não trouxe a prometida revitalização do bairro. Pelo contrário, a obra para degradação do entrono decorrente de sua implantação e ainda pela ociosidade a que está sujeita na maior parte do tempo – o estádio é usado somente para grandes jogos e permanece fechado para a comunidade carente de equipamentos para a prática de esportes e lazer. Somos campeões em tudo, haja subdesenvolvimento explícito, como a festa de comemoração que demonstrou, com direito a banda de música, socos no ar e espasmos incontroláveis por parte de organizadores. É demais para o coração hipertenso de um simples mortal.

ZONA FRANCA VERDE

A região amazônica é hoje pelo menos duas vezes mais rica do que há três décadas, segundo indica o PIB dos estados que a compõem. Esse crescimento econômico, no entanto, se deu em grande parte graças a atividades que têm como base a destrui¬ção da floresta — a exploração madeireira e a pecuária exten¬siva. Quem estuda a Amazônia a sério concorda que, para evi¬tar que a região continue a ser explorada de forma predatória, é preciso desenvolver atividades econômicas que não exerçam pressão sobre a floresta, promo¬vam riquezas e assegurem emprego e renda à população. A experiência mais bem-sucedida nesse sentido, até agora, é a Zona Franca de Manaus, um enclave de eficiência tecnológica na Amazônia. Criada em 1967, como parte do pla¬no do regime militar de integrar a Amazônia ao restante do país, essa região de livre-comércio compreende uma área de 10000 quilômetros quadrados, in¬cluindo a capital amazonense. Para via¬bilizar seu projeto, o governo federal passou a conceder incentivos fiscais às empresas que se dispusessem a instalar fábricas no meio da selva.
A isenção fiscal sobretudo impostos sobre produtos industrializados (IPI) para mercadorias que entram e saem da área, resultou na criação de um dos maiores e mais diversificados complexos industriais da América La¬tina. Pouco mais de quatro décadas após sua fundação, a Zona Franca de Manaus concentra 550 indústrias mo¬dernas, que fabricam desde lentes of¬talmológicas até motocicletas. No ano de 2008, essas companhias alcançaram juntas, um faturamento de 60 bi¬lhões de reais, o dobro do PIB da Bolívia. Nessa conta não estão com¬putados os resultados obtidos pelas duas centenas de empresas dos setores de comércio e prestação de serviços que gravitam em torno das fábricas.
Até o início da década de 1990, a Zona Franca de Manaus funcionava basicamente como um entreposto para a importação de produtos, sobretudo eletroeletrônicos. Na maior parte dos casos, os equipamentos eram apenas montados no PIM e, depois, distribuídos para o resto do país. Após a abertura da economia brasileira ao mercado in¬ternacional e a redução generalizada das alíquotas de importação, antes res¬trita à Zona Franca, as indústrias locais tiveram de se reinventar para sobrevi¬ver. Graças aos investimentos em tec-nologia e à intensa qualificação da mão de obra, elas conseguiram agregar valor à produção e tornar-se competiti¬vas. Atualmente, uma média de 30% dos componentes de seus produtos são fabricados na própria região. Outros 20% são produzidos em outros estados brasileiros. No ano passado, as com¬pras de insumos feitas dentro do Brasil pelas indústrias do pólo ultrapassaram a casa dos 14 bilhões de reais. Em al¬gumas fábricas, o índice de nacionalização da produção é muito superior.
Para que o pólo industrial de Manaus se consolide, falta desatar alguns nós. Um deles é o da infraestrutura logística da região. Manaus é ainda hoje uma cidade praticamente isolada: o acesso a ela só é possível de avião ou por meio de longas viagens de barco ou navio. Há também o gargalo da energia, que, a exemplo do que acontece no restante do estado, é alimentada pelo poluente e caro óleo combustível. Ainda na visao da logística, é necessário que a estrutura portuária da cidade seja mo¬dernizada. A orla de Manaus, ao longo do Rio Negro, é um verdadeiro caos, com o engarrafamento diário de cente¬nas de embarcações de passageiros e de cargas.
A consolidação da Zona Franca de Manaus passa também pela capacidade das indústrias locais de agregar mais valor a seus produtos. Para isso, ajuda¬ria atrair uma indústria de semicondu¬tores para a região. Atualmente, esses dispositivos, que funcionam como o "coração" de diversos equipamentos, são todos importados o que encare¬ce muito os custos, "Esse melhoramen¬to só será possível se houver uma deci¬são política de transformar o pólo em um centro de produção de ciência e alta tecnologia, como ocorre no Vale do Silício americano". Entre os produ¬tos que utilizam a microeletrônica es¬tão os marca-passos, os aparelhos des¬tinados a suprir deficiências motoras e sensoriais, os vinculados a defesa e gestão de território e os associados aos conversores da TV digital. A ampliação da Zona Franca de Manaus em direção à alta tecnologia produziria empregos suficientes para modificar a vida de mi-lhares de habitantes da Amazônia.
A criação de pólos semelhantes ao de Manaus poderia transformar a economia da Amazônia. Com investimentos maciços em educação e formação de mão de obra, estados cuja economia, se baseia no extrativismo e na pecuária, poderiam deslanchar como centros industriais capazes de desviar da floresta atenção de seus habitantes. Em Rondônia, um novo pólo que alcançasse metade do sucesso da Zona Franca de Manaus seria suficiente para triplicar PIB do estado. Em estados menores como Acre e Amapá, um pólo industrial os faria produzir doze vezes mais riquezas do que agora. É o desenvolvimento de costas para a floresta.

RECURSOS AGROFLORESTAIS

Em anos recentes, uma estratégia de conservação tem atraído crescente atenção: a criação e a expansão de mercados para produtos coletados de forma sustentável da floresta tropical. Essa idéia está embasada na premissa de que pessoas terão maior tendência para proteger seus recursos naturais se elas também possuírem um inte¬resse econômico no uso sustentável desses recursos.
Estudos recentes mostraram que um amplo espectro de produtos da floresta - incluindo madeira e, em particular, produtos não-madeireiros, como frutas, castanhas, látex, óleos, palha, palmito e plantas medicinais - pode ser coletado com um impacto ambiental mínimo. Outros estudos revelam as formas intrincadas com que os povos nativos usam e manejam os ecossistemas florestais. Tais fatos sugerem a possibilidade de novos mercados e oportunidades para produtos florestais coletados de forma sustentável, ou seja, de forma a não degradar a base de recursos naturais necessária para futuras coletas (Clay, 1996).
Os críticos contestam que essa estratégia de "coleta florestal" poderia servir como um incentivo para a destruição tanto ecológica como cultural. Eles apontam numerosos casos em que o desmatamento nos trópicos tem seguido rapidamente a penetração dos mercados ocidentais. Dizem ainda que o impacto tem sido igualmente devasta¬dor nas populações humanas que vivem nas florestas, na medida em que as atividades orientadas ao mercado e os valores desse mercado infiltram-se nas culturas tradicionais e alteram-nas.
Embora o registro histórico seja de fato pouco encorajador, os mercados globais são uma realidade - mesmo nas regiões mais remotas do mundo. As culturas tradicionais hoje dependem rotineiramente de grande número de mercadorias e serviços fornecidos por mercados. Isolar essas culturas dos mercados já não é possível e, do ponto de vista da maioria dos habitantes da floresta, nem desejável. Não se discute se os mercados podem ser mantidos fora da floresta, mas como os mercados podem ser estruturados de forma a ser benéficos tanto ambiental como socialmente.
A crescente preocupação do mundo com a degradação do ambi¬ente e a perda da biodiversidade gera um mercado-prêmio para produtos que conservam os recursos naturais. Fatias cada vez maio¬res do mercado internacional para madeira, tanto em países de alta renda como em países em desenvolvimento, como o Brasil, compram madeira certificada, produzida de acordo com padrões exigentes, tanto em termos sociais como ecológicos. Da mesma forma, novos mercados surgem para produtos florestais não-madeireiros. Essas tendências, tanto no nível global como no local, fornecem novas oportunidades para modificar as maneiras pelas quais os recursos naturais são explorados e abrem a possibilidade de mudar também as regras do jogo dos próprios mercados.