sexta-feira, abril 30, 2010

O FUTEBOL NOSSO DE CADA DIA


Quando se fala em "futebol brasileiro", o que primeiro nos vem à mente é o esporte profissional: os torneios, os clubes, a seleção, os craques. Mas esta é apenas uma parte da coisa toda. Uma parte fundamental, é verdade, em ter­mos de visibilidade e de volume de capital movimentado1, mas relativamente muito pequena se pensarmos no conjunto da sociedade e nas múltiplas formas como o futebol é vivido por ela no dia a dia.

Se os futebolistas profissionais "federados" (isto é, inscritos em federações) pouco passam dos 20 mil no país, estima-se em nada menos que 30 milhões o número de praticantes amadores do esporte2. São 14mil os times amadores (os clubes com departamento de futebol profissional, ou semiprofissional, são cerca de 800) e isso não inclui, obviamente, os "peladeiros" que se reúnem eventualmente para jogar na praia, nas quadras de clubes, escolas e centros esportivos, nos campos de várzea, de fazenda ou de,fábrica, nos terre­nos baldios, nas miríades de campos de grama sintética espalhados pelas grandes cidades brasileiras.

No Brasil, para qualquer lado que se olhe, haverá sempre um gol improvisado, um campo traçado por cal, por giz ou simplesmente pela imaginação. O futebol se desdobrou entre nós numa série de modalidades deriva­das e adaptadas às mais diversas condições de realização: o futsal (antigo "futebol de salão"), o futebol society ou futebol suíço, o showball, o futebol de praia, o futevôlei. Isso para não falar de jogos de natureza totalmente dis­tinta, mas inspirados nas suas regras, na sua história e na sua mitologia: o pebolim (ou totó, como é chamado no Rio), o futebol de botão e os inúmeros games eletrônicos que têm o futebol como modelo e referência. Houve até, nos anos 1970, unia modalidade efêmera e bizarra, o "autobol", jogado por duas equipes de automóveis e uma bola de couro de 1,20 metro de diâmetro3.

O fato de o futebol ter-se popularizado no Bra­sil entre cidadãos que não têm acesso a clubes e boas escolas, e que portanto aprendem a praticá-lo desde a infância em carapinhos irregulares de terra, em ruas esburacadas, em praias e pastos, em meio a vacas, árvo­res ou automóveis, costuma ser evocado para explicar a habilidade ímpar dos jogadores brasileiros, seu "Jogo de cintura" e capacidade de improvisação.

Sem entrar na discussão do quanto pode haver de construto ideológico nessa ideia, o fato é que o futebol no Brasil tem assumido, há um século, as formas mais variadas e vencido os obstáculos mais difíceis.


FUTEBOL NA SELVA: DA COPA DOS RIOS AO PELADÃO


Um dos eventos mais emblemáticos da força mobili­zadora do futebol nos centos mais remotos do país é a impressionante Copa dos Rios, que reúne anualmente times representativos de municípios amazonenses loca­lizados à beira do Amazonas e de outros grandes rios da região, como o Negro, o Solimões, o Madeira, o Juruá e o Purus. Em sua primeira fase entram no torneio todas as seleções municipais que se inscrevem. Esse número inicial varia entre 40 e 50 a cada ano. Alguns dos times viajam até duas semanas de barco para realizar seus jo­gos. Os rios são, na maior parte dos casos, a única via de comunicação entre as cidades envolvidas4.

Também no Amazonas, mais precisamente em Manaus, ocorre há quase quatro décadas aquele que é considerado o maior campeonato amador de futebol do mundo, o Peladão, ou Campeonato de Peladas de Ma­naus. O torneio, que em 2009 realizou sua 37a edição, reúne anualmente entre 500 e mil times da região..Parale­lamente à competição, realiza-se um concurso de beleza entre torcedoras dos clubes participantes, para eleger a Rainha do Peladão. Desfilando com a camiseta dos res­pectivos clubes sobre sumários biquínis, as candidatas completam a dupla conotação da palavra "pelada"5.
Até entre os índios o futebol é uma diversão leva­da muito a sério. Desde 1996 acontecem anualmente os Jogos Olímpicos Indígenas, promovidos pelo Ministério dos Esportes em parceria com os Estados-sedes de cada edição. O evento reúne atletas de cerca de 60 diferentes etnias de todo o país. Desnecessário dizer que o futebol, tanto masculino como feminino, é um dos esportes mais concorridos, ao lado de modalidades mais caracteristica­mente indígenas, como a corrida de toras.
E em Roraima se realiza, desde 1997, o Campeonato das Comunidades Indígenas do Estado, com a participação de quase cem seleções de aldeias. É a maior competição fu­tebolística exclusivamente indígena de que se tem notícia.

Um dos estudos mais interessantes sobre a relação entre índios brasileiros e o futebol é o livro Boleiros do Cerrado, resultado das pesquisas de campo do antropó­logo e ex-futebolista profissional Fernando de Luiz Brito Vianna, que jogou no Juventus de São Paulo e no No­roeste de Bauru com o nome de Fedola. O pesquisador conviveu com os xavantes do cerrado mato-grossense, es­tudando não apenas os times e torneios entre aldeias, mas também o modo como os índios vivem o futebol no dia a dia. Chegou a atuar como treinador da equipe de uma al­deia — e descobriu pontos de contato entre o pensamento lúdico e dual dos xavantes e o universo do futebol6.

Se, até agora, o "futebol indígena" vinha se desenvol­vendo à margem do mundo do esporte profissional, limitando-se a jogos intertribais e com raros jogadores índios chegando aos clubes "brancos"7, em 2010 o Campeonato Paraense da segunda divisão contará com o surpreendente Gavião Kykatejê Futebol Clube. O time, que até o início de 2009 se chamava Castanheira e disputava campeonatos amadores da região, é formado por habitantes da aldeia Gavião Kykatejê situada a 25 quilômetros de Marabá. De seus 26 jogadores atuais, apenas três não são índios8.

Tudo isso sem falar nos jogos com bola praticados pe­los índios brasileiros antes (ou à margem) do contato com os brancos, o que levou alguns ufanistas radicais a apontá-los como precursores do futebol tal como o conhecemos hoje.

No polo oposto ao desse futebol praticado em aldeias e beiras de rio nos confins do país, cresceu ex­ponencialmente nos últimos anos, nas grandes cidades brasileiras, uma modalidade futebolística essencialmen­te urbana: o futebol society, também chamado de futebol sete, futebol suíço e futebol social.

Espécie de intermediário entre o futsal e o futebol propriamente dito, o society é jogado por equipes de sete jogadores, em campos de dimensões reduzidas, geral­mente de piso sintético, mas também eventualmente de areia ou de grama natural. Seus praticantes são, em geral, assalariados do comércio e do setor de serviços, profissio­nais liberais, estudantes, pequenos empresários, executi­vos — uma classe média ampla e heterogênea, em suma.

Apesar do nome estrangeiro, foi no Brasil que o futebol society surgiu, ou pelo menos se institucionali­zou. Um brasileiro, Milton Mattani, criou as suas regras e fundou, em 1996, a Confederação Brasileira de Futebol Sete Society.

Em poucos anos o society explodiu. Hoje há 25 fe­derações espalhadas pelo país e calcula-se em 9 milhões o número de praticantes, 4 milhões deles só no Estado de São Paulo9. Uma constelação de refletores ilumina as noites paulistanas, cariocas, porto-alegrenses... São os campos de futebol society, ocupados por grupos de amigos, vizinhos, parentes, colegas de firma ou de esco­la. A felicidade — ou ao menos a sua promessa — alugada por uma hora.
REFERÊNCIAS
1 – De acordo com um balanço elaborado pela Fifa e enviado em 2001 à Fundação Getúlio Vargas (FGV), o futebol movimenta US$ 440 milhões referem-se apenas às transferências de jogadores.

2 – Conforme levantamento feito pela FGV para a CBF, citado em reportagem do JB on-line de maio de 2001: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/esportes/2001/05/21/joresp20010521016.html

3 – A existência desse pitoresco derivado do futebol é lembrada no livro de Alex Bellos, Futebol – O Brasil em campo (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002); PP. 137-144.

4 – Histórias saborosas da Copa dos Rios de 1997 são narradas em Mário Magalhães, Viagem ao País do Futebol (São Paulo: DBA, 1988). Com fotos de Antônio Gaudérico, o livro reúne reportagens realizadas por Magalhães em 17 cidades de nove Estados brasileiros e publicadas na Folha de S. Paulo entre 1993 e 1997.

5 – Uma divertida descrição de uma das edições do Peladão, bem como uma reportagem sobre personagens e o contexto social da competição, encontra-se em Alex Bellos, op. Cit.; FutebolO Brasil em Campo, PP. 219-240.

6 – Ver Fernando de Luiz Brito Vianna, Boleiros do Cerrado – Índios Xavantes e o Futebol (São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008).

7 – O caso recente de maior visibilidade foi o do lateral-direito Índio (José Satiro Nascimento), bicampeão brasileiro com o Corinthians em 1998 e 1999. Membro da tribo xucuru-cariri, nasceu em Palmeira dos Índios (AL). Chegou a atuar no futebol sul-coreano.

8 – Ver revista Placar, edição n0 1.334, de setembro de 2009.

9 – Outros Estados com número expressivo de praticantes são Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com cerca de um milhão cada, de acordo com dados publicados no site oficial da Confederação Brasileira de Futebol Sete Society: http://www.7society.com.br/.







quinta-feira, abril 29, 2010

Vídeo de Apresentação do Projeto Praça da Juventude do Governo Federal, Ministério do Esporte.

Projeto Praça da Juventude - Governo Federal - Ministério do Esporte.

domingo, abril 25, 2010

PÃO & CIRCO

Após o Pan-Americano em 2007, no Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) acredita que o Brasil tem condições de sediar as olimpíadas de 2016. Lançou a candidatura do país a uma competição de proporções chinesas e já gastou algo em torno de R$ 1,5 milhão apenas com a promoção da candidatura. A Copa do Mundo de Futebol será no Brasil, em 2014, e há estados com projetos faraônicos, como o do Amazonas, estimado em R$ 6 bilhões. Um espanto, haja vista que o futebol profissional é decadente em nosso estado, pairando a célere filosofia: que legado ficara para Manaus?
Alguns de nossos pequenos e quase centenários clubes ainda não tem nem um Centro de Treinamento próprio. Na Alemanha, na ultima copa do Mundo, a Seleção Brasileira treinou no campo de um time de quarta divisão, e ele tinha gramado apropriado, pista de atletismo, e todos acessórios necessários para funcionar satisfatoriamente. Mesmo na África do Sul, e que não está entre os dez melhores do futebol africano, o que não falta é Centro de Treinamento. Na hora que chegarmos a esse ponto, teremos dado um passo iniciante na cambaliante ação de sediar uma copa.
Não vejo com muito otimismo o fato de Manaus como sede da Copa do Mundo, pois destruiremos parte da Fundação Vila Olímpica de Manaus (Danilo de Mattos Areosa), além do Kartódromo e do Sambódromo e quando teremos outra? Apesar da mesma está inoperante. O único legado que verifico é o das empreiteiras e construtoras locais, como também, os percentuais de políticos inescrupulosos de nosso estado. É com esta máscara de teatro de circo e pão, como dizia os gregos antigos que verificamos o cenário esportivo em nosso estado. Feliz e triste, falso e verdadeiro, cínico e honrado, que veremos a copa do mundo em nosso País.
Os argumentos a favor são a projeção internacional turística da Amazônia, principalmente a geração de empregos, a melhoria da infra-estrutura urbana da cidade e a atração de investimentos do setor privado, e porque não dizer também, do público.
São justificativas incontestáveis, de fato, países que promovem esses eventos atraíram milhares de pessoas durante as competições, melhorando a urbanização das cidades e atraíram capital. É o caso da Alemanha 2006, e China com a Olimpíada de Pequim. Mas nesses Países, o diferencial é que o projeto esportivo foi concebido para durar. Leis foram criadas para garantir verbas de manutenção aos estádios e complexos olímpicos, além de parcerias com a iniciativa privada, como concessão e até privatização.
Essa não é... finitivamente a cultura brasileira. E exemplo não falta, na fórmula1, a cada ano a prefeitura de São Paulo gasta milhões com reforma do Autódromo de Interlagos, as vésperas do GP do Brasil, porque não consegue manter a pista e a arquibancada em perfeitos condições durante o ano. No Rio de Janeiro, após o Pan-Americano 2007, não há mais competições de atletismo no Engenhão; apartamentos da Vila Olímpica estão abandonados porque não foram vendidos, estão emperrados pela burocracia pública, diante deste cenário real, não teatral quais as garantias que o COB e os governos estaduais estão dando para assegurar que a gastança com a possível olimpíada de 2016 e a copa de 2014 terão retorno aos cofres público e, claro ao bem-estar do contribuinte? Até agora nenhuma, sem falar na corrupção dos políticos que direcionam as licitações públicas como bem frisou o Senador Jarbas Vasconcelos do PMDB que o seu partido é um partido de corruptos.
Considerando que a cultura brasileira é fazer política com obra pública e não fazer política pública com obras, podemos esperar tudo, menos benefícios urbanos sociais e econômicos, com essas pretensões esportivas brasileiras, para ficar num exemplo próximo do amazonense, o sistema expresso foi idealizado para ser a maravilha moderna do transporte urbano em Manaus, como era um projeto de promoção política e não de bem-estar e qualidade de vida da população urbana, deu no que deu. A grande urbanista e arquiteta Ana Fanni Alessandri Carlos, em seu livro intitulado “A Cidade” argumneta que cidade a partir de 1,5 milhão de habitantes deveria começar a pensar no metrô, e isso já deveria ter sido pensado e executado no ano de 2000 em Manaus.
A copa é irreversível, vai acontecer e será um teste para o país e porque não dizer para Manaus, capital do Estado do Amazonas, em termos de organização, como o Governo Federal já avisou que não vai dar nenhum centavo para a reforma de estádios de futebol, resta aos cartolas e governantes competência em convencer investidores a apostar nesta proposta, e este filme já foi visto no Pan de 2007 onde o valor inicial foi 3 vezes modificado
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sexta-feira, abril 23, 2010

DO ESPAÇO URBANO DA EXCLUSÃO DA PESSOA PORTADORA DE NECESSIDADES ESPECIAIS A ACESSIBILIDADE

A vida em sociedade caracteriza-se pela permanente tensão existente entre os diversos segmentos que a compõem. É na trama das relações sociais que se definem os lugares e os papéis que as pessoas ou grupos irão ocupar e desempenhar no complexo palco da vida.
Esse processo de definição de lugares e papéis não constitui, todavia, um fenômeno estático. Ao contrário, o que gera a já mencionada tensão social é justamente o seu caráter dinâmico. Esse tensionamento se torna mais, ou menos, intenso na medida em que as tentativas de redefinição ou de manutenção dos lugares e papéis se intensificam ou se amenizam, gerando, por um lado, forças e criando instrumentos e estratégias de ocupação dos diversos espaços; enquanto que, por outro lado, forças se retraem, cedendo espaço para que outras avancem.
Cumpre ressaltar, todavia, que as práticas relativas à ocupação de espaços nunca são política e socialmente neutras; ao contrário, elas estão sempre carregadas de conteúdos de classe ou de outro conteúdo social qualquer, constituindo-se, muitas vezes, num conflitante foco de luta social. Neste sentido é que Foucault, (1994) afirma que "O espaço é fundamental em toda forma de vida comunicaria; o espaço é fundamental em todo exercício de poder...".
De modo geral, os empreendimentos feitos para ocupação dos espaços sociais concentram-se basicamente em duas direções: a ocupação do espaço físico e a ocupação do espaço discursivo, o que se dá, evidentemente, de forma simultânea e inter-relacionada.
As últimas décadas têm sido marcadas por manifestações de diversos grupos minoritários, os quais procuram cada um a seu modo, ampliar suas formas de ocupação dos espaços sociais. É o que ocorre, por exemplo, com as pessoas portadoras de deficiência. Cada vez mais esses indivíduos reivindicam direitos e deveres, tornando pública uma questão cuja reflexão se restringia, até há bem pouco tempo, somente aos próprios deficientes e a um número reduzido de pessoas não deficientes diretamente envolvidas com tal problemática, como são os casos dos familiares de deficientes e dos profissionais da área da Educação Especial.
Reunindo um grande número de profissionais de diversas áreas, a Educação Especial tem se constituído, ao longo dos anos, no mais importante fórum de discussão e de apresentação de propostas de melhoria da qualidade de vida das pessoas deficientes. Isto se deve por certo ao seu caráter eminentemente interdisciplinar, uma vez que as dificuldades enfrentadas por estas pessoas perpassam toda a sua existência.
No Brasil, os atuais critérios de definição da clientela da Educação Especial encontram-se elencados no documento Política Nacional de Educação Especial, publicado em 1994 pela Secretaria de Educação Especial — SEESP — do Ministério da Educação e Desporto -MEC.
De acordo com esse documento, tal clientela é constituída por três grandes grupos, cada qual reunindo, por sua vez, um numeroso grupo de tipos e graus de excepcionalidade.
No primeiro grande grupo, denominado Portadores de Altas Habilidades, situam-se as pessoas que apresentam, de forma isolada ou combinada, elevada potencialidade ou desempenho significativamente acima da média em um ou mais dos seguintes aspectos: intelectualidade, aptidão acadêmica específica, criatividade, produtividade, capacidade de liderança, aptidão para as artes e psicomotricidade.
No segundo grupo, identificado como Portadores de Condutas Típicas, encontram-se situadas as pessoas que apresentam alterações no comportamento social e/ou emocional, acarretando prejuízo no seu relacionamento com as demais pessoas.
Finalmente, no terceiro grupo, denominado Portadores de Deficiências, situam-se as pessoas que apresentam algum comprometimento em um ou mais dos seguintes aspectos: físico (aparelho locomotor ou da fala: deficientes físicos), mental (deficientes mentais) ou sensorial (sentido da visão: deficientes visuais, ou da audição: deficientes auditivos). A ocorrência na mesma pessoa de dois ou mais desses comprometimentos associados caracteriza o grupo dos chamados deficientes múltiplos.
A compreensão do processo de ocupação dos espaços físico é discursivo pelas pessoas portadoras de deficiência passa necessariamente pela identificação das respectivas formações discursivas, no interior das quais os discursos e os respectivos sentidos sobre o desvio são produzidos e movimentados.
A preocupação com a remoção das barreiras arquitetônicas remete ao fato de que elas foram um dia criadas pela própria ação humana, o que demonstra claramente o quanto a sociedade negligenciava e ainda negligência a existência de pessoas por ela consideradas anormais. Ao projetar e edificar prédios e vias de acesso somente para a utilização pelas pessoas tidas como normais, automaticamente se materializava a exclusão de tantas outras. O não rebaixamento de guias nas calçadas, a não existência de rampas de acesso, portas demasiadamente estreitas, pias e vasos sanitários instalados em locais inacessíveis aos usuários de cadeiras de rodas, objetos instalados em vias públicas sem qualquer esquema de identificação pêlos cegos (telefones públicos, lixeiras e caixas coletoras de correspondências, dentre outros), a falta de elevadores e rampas de acesso a transportes coletivos (ônibus, trens, etc.), a ocupação indiscriminada das calçadas por bancas, mesas e barracas são alguns dos muitos obstáculos produzidos pelo próprio homem e que ainda hoje dificultam demasiadamente a locomoção de um grande número de pessoas, principalmente na cidade de Manaus.
Muito embora sejam as pessoas portadoras de deficiências o referencial maior desta reflexão, cumpre destacar que a existência de barreiras arquitetônicas afeta diretamente a vida de um número muito maior de pessoas. As mulheres grávidas, as pessoas obesas, os idosos, as pessoas que empurram carrinhos de bebê ou de compras, dentre outras, também se vêem em apuros quando necessitam transitar pelas ruas ou acessar os espaços públicos ou particulares, Comerciais e residenciais, não tendo desta forma a acessibilidade.
Dessa prática de construção e imposição de inúmeras barreiras arquitetônicas a um número enorme de pessoas, pode-se apreender que tudo isto constitui um ato político cunhado pelo poder e pela ideologia dos defensores da dicotomia normalidade versus anormalidade.
Segundo Harvey (1994), “A parência de uma cidade e o modo como os seus espaços se organizam formam uma base material a partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de possíveis sensações e práticas sociais".
Neste sentido é que a sociedade de modo geral deve estar atenta à captação dos sentidos produzidos por seus diversos segmentos. Toda ação individual ou grupai representa um clamor à coletividade, com vistas a uma maior atenção à mensagem que está sendo veiculada, seja produzida por um artista, um arquiteto ou um simples cidadão, deficiente ou não. Com certeza, a ordenação estética do espaço social fundada na facilitação de acesso a todos os locais por parte de todos os cidadãos pela remoção das barreiras arquitetônicas constitui um lócus privilegiado para a instauração de uma forma mais justa de relacionamento e de reconhecimento de cada pessoa como um ser humano digno, cuja inserção social não seja encarada apenas como um direito político de cidadania, mas como um direito inerente à existência humana.
A cidade deve ser o lugar de todos, mesmo porque ela é construída, na maioria das vezes, pelas interações e diferenças de cada um, independente da vontade, orientação ou roteiro determinado por autoridade ou por leis, e, como se vê cotidianamente, sobrepondo-se a elas por razões impositivas da realidade, às vezes acima e além do permitido ou do autorizado. Em razão disso há um expressivo desafio para as sociedades e as estruturas de governo atuais: conviver e conciliar esta realidade com a imperiosa necessidade de ordenamento urbano; conseguiu efetivar o uso adequado da propriedade e a manutenção do espaço como o bem comum de todos, aspectos que permeiam outros de igual relevância para as cidades contemporâneas na busca, especialmente, da qualidade de vida de seus habitantes.
Admitindo-se novos usos conferidos aos bens edificados de valor histórico e arquitetônico pelas populações residentes, o que enfrenta questões econômicas atuais, a primazia deve ser a da preservação dos centros antigos para o que devem concorrer, necessariamente, o planejamento urbano e o planejamento físico territorial. Estes planos, de maneira a mais objetiva possível, têm que aproveitar as exigências textuais e práticas de conservação dos bens de interesse cultural aceitando os valores estéticos e culturais que os monumentos deste porte e classificação representam por si mesmos, o que eles traduzem no sentimento e na alma das populações e no espelho das suas tradições mais expressivas. Para o sucesso deste encaminhamento é necessário que dele participem todas as forças sociais, técnicos em assuntos culturais, artistas, restauradores, geógrafos, economistas, sociólogos, antropólogos, urbanistas, arquitetos e, principalmente, os habitantes e usuários destes espaços, com o fito de que a política de preservação conduza a que o patrimônio referenciado se (re) integre na vida social, ou antes, dela não se desintegre.

DESPORTO, CIDADE E NATUREZA

Importância e atualidade que resultam das profundas alterações que estão a ocorrer no pensamento e na doutrina cultural contemporâneas, face às práticas e aos modelos do Desporto, à organização das cidades, às novas relações com a natureza e às interdependências estabelecidas entre cada uma destas instâncias.
Vou buscar em alguns trabalhos que ultimamente publiquei, o enquadramento que julgo necessário para interpretar as relações entre o desporto, a cidade e a natureza.
Assim, começo por afirmar que este inicio de século assiste ao surgimento de novos paradigmas civilizacionais, que de forma lenta mas profunda, estão a alterar os estilos e os modos de vida, as relações sociais, as expectativas e motivações dos cidadãos.
Esses novos paradigmas, tem um contexto social, caracterizado por aquilo a que os cientistas sociais designam por sociedades industriais desenvolvidas e traduzem-se em mutações de ordem econômica, técnica, cultural e social.
Creio que, não existe hoje, no quadro da vida social, um setor que escape a estas transformações.
Também na cidade, também no desporto, também na atitude face ao uso da Natureza.
A cidade cresceu. Dividem-se as opiniões sobre como desenvolveu. Certo é que mudou radicalmente a sua geografia e topografia físicas e se alteraram as suas tradicionais funções.
Assistiu-se de forma crescente, a uma desenfreada terceirização, a um aumento de densidade do tráfego com conseqüentes disfuncional idades, a uma crescente especulação fundiária e imobiliária, à degradação dos espaços de uso público, à ruína do parque habitacional construído, à ausência de tratamento dos elevados índices de poluição atmosférica e sonora, à periferização dos locais para habitação.
A introdução da lógica do desenvolvimento industrial intensivo, assente na maximização dos meios e num crescimento ilimitado, cumulativo com um inadequado ordenamento do território e um inexistente planejamento urbanístico, criaram cidades de concreto armado, em que os especuladores imobiliários e os construtores civis, foram os verdadeiros arquitetos da paisagem das cidades, assumindo um papel semelhante, ao que outrora, haviam assumido os agricultores no desenho da paisagem rural.
Fenômenos cruzados de vária natureza sinalizam algumas patologias da cidade: graves disfuncionamentos nos transportes e na circulação, zonas inteiras marginalizadas, desenvolvimento de novas coroas de pobreza e exclusão social.
A cidade atual parece ser hoje mais funcional, mas também mais fria e mais anônima (Lypovetsky, 1991), o que cria novos fatores de risco nas relações humanas e sociais, dado que contrariamente a períodos anteriores a cidade ao amortizar as relações entre os cidadãos destruiu o espaço urbano, como um espaço de sociabilidade e solidariedade.
Este fenômeno, não deixa no entanto de comportar movimentos aparentemente contraditórios.
Por um lado assistimos a uma massificação ao nível das idéias e dos comportamentos, mas por outro a movimentos de autonomização e individualização de gostos e estilos de vida.
Contrariamente à visão de Marcuse, quando nos falava do homem unidimensional o que parece verificar-se é que o homem atual é cada vez mais pluridimensional.
De todo o modo, manda a verdade que se reconheça que este aparente individualismo é muitas vezes acompanhado por uma grande fragilidade no exercício da cidadania e pelo crescente aparecimento de uma sintomatologia urbana caracterizada a nível individual prestados de melancolia, estres, vazio e depressão, conduzindo a verdadeiros cortes com a realidade social envolvente, numa espécie de autismo do homem moderno.
Num outro plano, cresceu a sensibilidade pública para a problemática do ambiente.
Ultrapassada a fase fundamentalista e das correntes naturalistas, da natureza como universo salvador, e de todo o conjunto de clichês e signos mais ou menos folclóricos (o arroz integral, as sandálias de couro e as saias indianas), surgiram na cultura e na ação cívica contemporâneas, movimentos no sentido de procurar conciliar o desenvolvimento social com o equilíbrio dos ecossistemas.
As teorias desenvolvimentalistas que conduzem à utilização maciça dos recursos naturais fizeram surgir movimentos de opinião que aumentaram a percepção social sobre os problemas da qualidade de vida, nela incluindo a qualidade ambiental.
Estes movimentos têm permitido que progressivamente se crie uma consciência de cidadania, cujo exercício vai no sentido de obstar a que se rompam equilíbrios necessários à vida de todos nós, se consciencialize que os recursos naturais são finitos e que portanto sendo necessários à vida do homem e das sociedades não têm capacidades ilimitadas de auto-regeneração.
Estas preocupações cívicas tiveram de resto, tradução política no plano dos discursos e das representações partidárias, com o aparecimento de uma nova cultura ecológica, e com uma crescente "verdificação" da problemática do desenvolvimento; não devemos usar do ambiente nada que a natureza não possa repor por si, e portanto só se devem utilizar recursos totalmente renováveis.
Também no desporto as coisas se alteraram. Assistimos ao aparecimento de novos desportos, a novas maneiras de praticar desportos antigos, mas sobretudo a uma alteração na utilização desportiva do corpo.
Esta alteração correspondeu a novos modelos e práticas corporais, onde o
estatuto social do corpo adquiriu uma nova relevância sinalizadora de novos tempos.
A um corpo a quem eram solicitadas despesas essencialmente energéticas para a obtenção de objetivos que lhe eram exteriores (o resultado, a marca, a vitória) surgiram modalidades onde o corpo é meio e fim, de movimentos de prazer sensório-motriz.
Curiosamente estas práticas surgem tendo como palco, cenário e público, a natureza.
A água, a terra e o ar transformaram-se assim num grande ginásio. No mais amplo, belo e perfeito espaço desportivo, local para o namoro e o casamento, entre o corpo e o espírito, entre a razão e o prazer, entre o risco e a aventura.
Surf e Wind-surf, body-board, skateeskate-board, piraguismo, skate-snow, escalada, caminhada, asa delta, paraquedismo, parapente, rafting, triatlo e duatlo, aí estão a sinalizar novos tempos e diferentes investimentos.
A natureza passa assim a ser parceiro indispensável, exigindo a sua preservação, como condição necessária.
Mas também com a cidade, o desporto e a natureza, criaram novos cruzamentos.
Assistimos nos últimos anos a uma re-ecologização do espaço urbano, trazendo para o interior da cidade práticas de outros espaços, através de uma progressiva deslocalização dos seus territórios tradicionais.
A tradicional especialização dos espaços urbanos exige por isso uma reclassificação.
A cidade não é mais e apenas, o espaço de trabalho, de circulação, de troca e eventualmente de habitação. Ela torna-se também um espaço de uso desportivo, com diferentes espaços do tecido urbano, a serem objeto de novas apropriações e diferentes usos.
As praças, lugares tradicionais de encontro e convívio, de realização de atividades de natureza comercial (feiras, mercados, espetáculos) ou de mostra patrimonial, são ocupadas por práticas lúdico-desportivas.
Os passeios públicos, objeto de apropriação por parte de simpatizantes do roller do skate ou do jogging.
Os parques e jardins ultrapassaram a fase em que predominava como sinal lúdico o parque infantil para incluir na organização do espaço tipologias de equipamentos desportivos: o polidesportivo de ar livre, os campos de tênis até ao circuito de manutenção.
A própria rede viária, promove a bicicleta, como meio individual de transporte, (carregada de simbolismos ambientais por ser não-poluente), também denominada de ciclovias, como uma alternativa ao congestionamento de tráfego nas cidades, como meio de uso desportivo, ao estabelecer no desenho da rede viária, pistas ou corredores exclusivamente para bicicletas (pistas cicláveis).
As próprias zonas de habitação e os respectivos condomínios, têm, como fator de valorização dos respectivos espaços, a preocupação de incluir equipamentos desportivos disseminados ao longo da malha urbana, e aproximando o desporto do cidadão.
A esta alteração não são indiferentes, as conseqüências resultantes das alterações verificadas no mundo das práticas do desporto e que têm conduzido a uma progressiva desportivização da própria vida social.
O desporto surge deste modo, como interface frente aos grandes desafios que hoje se colocam na conciliação entre o desenvolvimento social, a organização da cidade e a proteção da natureza, num quadro de respeito pela qualidade ambiental da vida em sociedade.
A ser assim, o Desporto, elevar-se-á à qualidade de interlocutor privilegiado, ao supor para o seu desenvolvimento relações mais equilibradas entre o homem, a cidade e a natureza.
Vejamos sumariamente como: O aumento das práticas do desporto que supõe a presença de elementos naturais, como espaço indispensável à sua realização faz de imediato surgir a óbvia necessidade de defesa da natureza o que supõe um código de conduta desportiva na sua utilização.
Faz sentido introduzir, aplicado ao desporto, conceitos oriundos das ciências do ambiente como o "efeito do impacto" e da "compatibilidade" entre a natureza e o respectivo uso desportivo.
Esse código ambiental de conduta desportiva, deve ser peça de uma adequada educação e formação desportivas.
Mas para além desse código de conduta desportiva é indispensável medidas legislativas cautelares de utilização intensiva dos recursos naturais.
A procura de práticas desportivas em contato com a natureza fez surgir uma indústria de tempos livres que se não for devidamente enquadrada, corre o sério risco de consumir elementos naturais, ao nível da paisagem, ao nível dos recursos e ao nível de não respeitabilidade das características bio-físicas dos solos.
Acrescente massificação do turismo de tempos livres e a importância dada às atividades de contacto com a natureza, indiciam que estarmos perante um sério risco de progressiva dilapidação de bens não renováveis.
A oferta turística em tudo o que comporta de infraestrutura pública e de serviços privados, carece de uma rigorosa disciplina, no sentido de serem respeitados meios e índices de ocupação do solo e de exploração do meio.
Igual raciocínio no que concerne às atividades desportivas.
O fato de assistirmos a enormes pressões no uso indiscriminado, sobretudo do solo e da água, exige a introdução de fatores condicionadores, de modo a que se estabeleçam regimes de compatibilidades entre a procura social e a capacidade de utilização, recuperação e regeneração do meio natural.
Também no plano da organização das cidades é indispensável encontrar uma nova centralidade para o Desporto.
O Desporto como meio mais procurado pelo cidadão para a ocupação do tempo livre, emerge no interior de uma cultura do lazer, que não pode viver em relação à cidade, como um corpo estranho, intrometido às vezes, aparentemente clandestino muitas outras, periférico quase sempre.
A nova cidade deverá ser o lugar, do trabalho, da cultura e do tempo livre, e por isso também, do progresso, da tecnologia e do ambiente.
A nova cidade será plurifuncional. Os espaços para o desporto serão tendencialmente cada vez menos desportivos e mais multiculturais, onde se possa desenvolver um leque muito variado de atividades.
Mas a nova cidade será também dominada pelas modernas tecnologias e pela possibilidade de acrescentar ao espaço físico urbano, novas oportunidades de relação com a natureza.
O homem será o elemento central do novo ordenamento. A palavra de ordem é: reapropriação. Seja das praças, dos passeios, das estradas libertas de tráfego, dos espaços destinados a permitir do mesmo passo a fusão da ocupação dos tempos livres e da cultura (Longhi, 1991).
Tudo isto supõe um novo ordenamento do território, um outro planejamento urbano, uma outra lógica entre o espaço natural e o construído. Entre o espaço privado e o espaço público. Uma nova cultura urbana. Uma nova cidadania.
A moderna cidadania, compreende direitos civis, políticos e sociais os quais assentam em valores universalmente aceites. Sabemos pela análise histórica que o desenvolvimento da cidadania obedeceu a dois aspectos distintos: inclusão progressiva de novas categorias sociais no direitos de cidadania existentes; inclusão de novos tipos de direitos na cidadania.
Sumariamente podemos dizer que os direitos não nasceram todos de uma vez. E que ao nascerem não contemplaram, de imediato, todas as classes e categorias sociais.
Sabemos ainda que a igualdade de todos, perante os direitos, está nas sociedades modernas salvaguardada do ponto de vista jurídico-formal, mas que a igualdade do seu exercício numa sociedade dividida por condições de desigualdade, introduz diferenciações na prática da cidadania.
Pesem embora estas circunstâncias, o direito ao desporto, como um novo direito urbano de todo o cidadão é um dado indiscutível da cultura das sociedades modernas.
O exercício deste direito estimula os diálogos ambientalistas. É espantoso como no direito ao desporto e na preocupação ambiental se cruzam duas perspectivas oriundas de uma raiz comum.
O olhar e o pensamento ambientalistas surgem como um travão à ideologia do crescimento ilimitado, introduzido pela dinâmica do processo de desenvolvimento do capitalismo e assente na tecnologia consumidora da energia e das matérias primas.
O direito do cidadão ao desporto surge como alternativa ao modelo unitário do desporto de competição e de rendimento absoluto, o qual teve origem no processo histórico-social similar aquele outro.
Ambos a alertarem que o progresso não é assegurado automaticamente por nenhuma lei da história. E que o futuro não é necessariamente desenvolvimento (Edgar Morin).
O que hoje se coloca à ação política e governativa é difícil. Neste início de século trata-se, não de governar contra alguém, mas a favor de todos.
O mercado comum das idéias sobre o equilíbrio ambiental foi dado por essa grande vitrine mundial que foi a ECO 92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro.
A Terra é a nossa casa comum. É a nossa origem. Será o nosso destino.
A Natureza não é uma imagem de poetas ou pintores. A natureza é a realidade ecológica em si mesma, é o nosso planeta Terra (Edgar Morin).
Tal fato, reenvia-nos para algumas das perplexidades do mundo atual e para a urgência de uma estratégia comum para a salvaguarda de um meio, que também nos é comum.
Os buracos na camada de ozônio, o efeito estufa existente na atmosfera, a desflorestação progressiva de significativas florestas tropicais produtoras do nosso oxigênio, a esterilização dos oceanos, mares e rios, a poluição sem controle, as diferentes catástrofes ecológicas estão a avisar-nos a todos que o inimigo do homem não é nenhum ser extraterrestre. Ele está bem no interior de cada um de nós.
Será que o Desporto conseguirá reconciliar e realiar o homem à natureza, a natureza à vida, e vida a uma idéia de bem estar e de felicidade?
Eis o desafio que a todos se coloca
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POLUIÇÃO DO PULMÃO

A maioria das pessoas acreditam que a Floresta Amazônica é o pulmão do planeta. Que, se ela desaparecer, o aquecimento global vai se acelerar de modo calamitoso. Quanto a isso, vale uma ressalva. Para merecer o título de pulmão do planeta, a região precisaria parar de envenenar a atmosfera com gases do efeito estufa. Atualmente, as 260 usinas termelétricas em operação em sete estados amazônicos, a grande maioria movida a óleo diesel, despejam todo ano na atmosfera 06 (seis) milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o principal gás que causa o aquecimento global.
Parece pouco diante dos 770 milhões de toneladas de CO2 emitidas anualmente pelo desmatamento e pelas queimadas, na floresta. O CO2 produzido pelas termelétricas amazônicas, contudo, equivale ao dobro das emissões produzidas no mesmo período pela frota de veículos da cidade de São Paulo, a maior do país. Manaus abriga uma das mais bem sucedidas experiências de desenvolvimento sustentável, a Zona Franca, que produz riquezas sem precisar destruir um só graveto da floresta, Para movimentar suas indústrias, no entanto, a cidade depende quase integralmente da queima de óleo, As termelétricas respondem por 85% da eletricidade consumida no Amazonas, 70% no caso do Acre e 60% no do Amapá.
O pulmão do mundo encontra-se intoxicado pela fumaceira.
Numa região rica de recursos hídricos, não é nada de mais esperar que pelo menos 90% da energia elétrica consumida em suas cidades venha de fontes limpas, como as hidrelétricas. As termelétricas, além de poluidoras, não são confiáveis. Há grandes oscilações de energia ao longo do dia e às vezes falta luz. Isso representa um custo tremendo para as empresas, que instalam geradores próprios para se precaver das falhas de energia.
A poluição e o custo extra para as indústrias não são os únicos ônus da dependência da Amazônia das termelétricas. A região não produz uma só gota do óleo diesel queimado nas usinas. Ele vem de São Paulo, do Rio de Janeiro e até de outros países, como Índia, Estados Unidos e Venezuela. O resultado é uma energia até cinco vezes mais cara do que a utilizada no restante do país. Se fosse integralmente repassada ao consumidor final, essa diferença praticamente inviabilizaria a venda da energia das termelétricas. Por isso, existe um mecanismo para subsidiar o diesel usado na Amazônia, Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), estimada neste ano em 2,7 bilhões de reais. Esse valor é rateado todos os consumidores do país. Entre 2% e 3% da conta de luz que o brasileiro paga, more ele em Porto Alegre, Salvador ou Vitória, destina-se a subsidiar a energia da Amazônia.
Levar o óleo diesel as termelétrica da Amazônia é uma operação, além de custosa, complicada. Todos os meses atracam em Manaus cinco petroleiros carregados com 180 milhões de litros de óleo para abastecer as usinas e o setor de transportes da região norte. Os petroleiros percorrem quase 6000 quilômetros, do Sudeste até Manaus. De lá, o diesel é levado para outras cidades da Região Norte a bordo de quase 200 balsas-tanque e 500 caminhões. Há trechos, como o que se percorre até Cruzeiro do Sul, no Acre, que exigem mais de 4 000 quilômetros de navegação pelos rios.
A viagem dura 25 dias, ou mais, além dos quinze gastos inicialmente no transporte a partir do Sudeste, dependendo das dificuldades criadas pela natureza. Nos períodos de seca, quando o nível dos rios fica muito baixo, o transporte por balsas é interrompido durante quatro meses e o combustível precisa ser estocado para não haver desabastecimento na cidade. Essas condições adversas resultam às vezes em situações esdrúxulas. Dependendo do destino do diesel, chega-se a gastar 2 litros dele como combustível para transportar cada litro que vai alimentar uma termelétrica.
Além de produzir poluição e atrapalhar a atividade econômica, a dependência de diesel causa vários transtornos à população da Amazônia. Nas comunidades ribeirinhas onde a única fonte de energia é um pequeno gerador, os moradores precisam racionar combustível para ter luz o mês inteiro. E, mesmo assim, apenas parcialmente, porque nesses casos o equipamento só é ligado três horas por dia, geralmente à noite.
Acabar com a dependência do diesel na Amazônia é uma prioridade que esbarra sistematicamente na oposição de ambientalistas e do IBAMA. Há hoje no Brasil dezoito projetos de hidrelétricas que não saem do papel ou cujas obras estão atrasadas por causa de ações judiciais que questionam seu impacto ambiental. Os motivos são variados: os rios que receberão as turbinas passam por reservas indígenas ou áreas de preservação. No Madeira, gastou-se em estudos sobre o impacto na piracema dos bagres (a conclusão foi que bastava deixar uma passagem para os peixes, como normalmente é feito em barragens).
A oposição do IBAMA e dos ambientalistas a obras energéticas necessárias ao desenvolvimento da Amazônia não interessa a ninguém, muito menos aos moradores da região. O Brasil precisa ampliar sua produção d energia em 50% até 2017. As usinas hidrelétricas constituem a forma mais limpa e barata de produzi-la. A tecnologia hoje permite que os reservatórios das hidrelétricas tenham apenas 15% do tamanho que tinham no passado. Ou seja, seu impacto ambiental é muito menor. Mesmo assim, no Brasil, por incrível que pareça, os ambientalistas têm mais fôlego para combater as hidrelétricas do que as carvoarias.
Como a Amazônia tem características geográficas complexas, com rios gigantescos e florestas densas, levar as linhas de transmissão de eletricidade a muitos pontos da região é difícil. Estudos mostram que, nessas áreas, o ideal seria recorrer às fontes alternativas de energia, Entre elas, a eólica tem potencial restrito.
Poderia ser explorada quase exclusivamente na costa do Amapá, com condições de vento semelhantes às do Nordeste. A opção que se mostra mais viável nesses casos é a energia solar. A Amazônia tem média de radiação solar três vezes superior à de países como a Alemanha, líder mundial em energia produzida por painéis fotovoltaicos. A implantação da energia solar em municípios de porte médio ou pequeno é uma operação relativamente rápida que poderia, em pouco tempo, reduzir o uso das usinas termelétricas em diversos pontos da Amazônia. Em comunidades ribeirinhas, as fontes alternativas de energia podem substituir por completo os geradores a diesel.
É preciso tirar do papel os projetos de grande porte, como as hidrelétricas, e apostar nas energias alternativas para livrar a Amazônia da fumaceira poluente e cara do óleo diesel.

sábado, abril 10, 2010

PORQUE NÃO A COPA EM MANAUS?

Sei que o que vou escrever aqui vai de encontro ao pensamento de muitos, se não da grande maioria de meus conterrâneos.
O Estado do Amazonas, no que pese o discurso contrário das autoridades locais, oferece um serviço público de péssima qualidade, na maioria das áreas em que a lei determina a ação do Estado na prestação de serviços e atendimentos.
Que nota devemos dar ao transporte coletivo em Manaus?
Que nota dar aos postos e hospitais públicos de nosso Estado?
Que nota atribuir a qualidade do ensino em nosso no Amazonas?
Que conceito temos sobre as condições viárias de Manaus?
Qual o nível de saneamento básico em nosso Estado?
E a segurança pública, quer na prevenção de crimes, no esclarecimento e eventual julgamento e condenação de culpados, o que dizer?
Poderia apresentar centenas de questionamentos sobre a precariedade das condições de atendimento público no Amazonas, mas não quero me alongar muito, sei que o espaço não é para tanto.
Evidentemente, sendo o futebol um esporte que mobiliza as paixões de milhões de brasileiros, no Amazonas não é diferente, existe certo movimento adesista a idéia de se trazer para cá os chamados jogos periféricos, do referido campeonato. No entanto, gastar o volume de dinheiro que será gasto para um espetáculo efêmero, em meio a realidade caótica que circunda a grande maioria da população, não me parece algo nada racional.


Cerca de sete bilhões de reais “serão gastos com a infra-estrutura”, o equivalente a cerca de 12 pontes sobre o Rio Negro, como bem cita o Holanda. Mas não é apenas isso, agora pouco assisti a entrevista do Dr. Tancredo na TV Amazonas, salvo engano Diretor do CECOM, onde afirmava que os pacientes acometidos de doenças graves no sangue, como os cânceres, ao contrário do que determina o Ministério da Saúde, não terão seus tratamentos transferidos do HEMOAM para a Fundação CECOM, tendo em vista o hospital de referência no combate ao câncer no Estado, no caso o CECOM, não dispor de hematologistas suficientes, só teria um, para o atendimento dos pacientes e que os mesmos, devem permanecer no HEMOAM, segundo as palavras do Dr. Tancredo, essa é uma situação que se arrasta a 20 anos. A 20 anos, 20 anos.
O Estado do Rio de Janeiro, terceira economia do país, ficando atrás apenas de S. Paulo e Minas Gerais, gastará um bilhão de reais a menos e ficará com os jogos principais do campeonato.
A infra-estrutura deixada pela copa será expressiva, porém terá a importância de investimentos necessários, como o citado pelo eminente médico, e negligenciados a mais de 20 anos?
Haja pão e circo. Com sete bilhões de reais, daria para construir:
70 hospitais no valor de 100 milhões cada, ou 420 viadutos a 20 milhões de reais cada, ou 1400 grandes escolas no valor de cinco milhões de reais cada, ou.
Cerca de 280 mil casas populares, a 25 mil reais cada, Manaus inteira possui hoje aproximadamente 400 mil domicílios.
Quantos quilômetros de rede de esgoto poderiam ser construídos?
Quantos quilômetros de metrô?
Nos corredores dos hospitais públicos, macas são enfileiradas com pacientes a espera de atendimento, pessoas precisam dormir em calçadas para assegurar o recebimento de uma bendita ficha, que lhe levará a marcação de consultas, faltam remédios em hospitais postos de saúde.

Precisamos melhorar o nível de instrução da população em geral, aumentar o número de doutores, de centro de excelência, se quisermos um dia sermos uma sociedade desenvolvida, respeitada e prospera. Aprimorar técnicas e procedimentos de alta complexidade, para cardiopatas, renais crônicos, dependentes de transplantes de órgãos etc. O melhor atendimento de saúde para o amazonense precisa deixar de ser o Aeroporto Eduardo Gomes.
Gosto de futebol e torço pela seleção brasileira em todas as copas, só penso que um povo com tantas mazelas e deficiências, deveria ser mais responsável com o seu dinheiro público.
Torcer pela TV sai muito mais barato para o contribuinte.

Texto do Psicólogo Marcelo Pardo
www.twitter.com/equilibriumpsi

ATE QUE ENFIM UMA PRAÇA, QUE NOS DEIXOU SAUDADE

A Praça da Saudade ou 5 (cinco) de setembro foi fundada em 1865 em frente ao antigo cemitério da cidade, conhecido como cemitério da saudade, onde hoje está localizada a sede do Rio Negro Clube. Ela fica entre as ruas Epaminondas, Simão Bolívar, Ferreira Pena e Ramos Ferreira. Seu limite original se estendia até o Instituto de Educação – IEA. Conhecida como Saudade, a praça de fato se chama 5 de setembro em homenagem a elevação do Amazonas à condição de província. O monumento homenageia o homem que à época lutou para a conquista: João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Apesar da importância da data, o nome que realmente pegou foi o de Praça da saudade.

Nesta Praça tivemos a construção de um prédio na década de 1960, reza a “lenda amazônica” que a obra foi construída para afrontar torcedores e dirigentes do Rio Negro. Independente do motivo, o ato foi uma tragédia para o desempenho original da praça. Neste mesmo prédio funcionou a Secretaria Estadual de Educação e Cultura, Secretaria de Habitação do Amazonas e Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos.

Com decisão de restaurar o espaço, a prefeitura esboçou novo projeto, que pretende seguir as linhas originais da época de sua construção. A obra orçada em R$ 2,2 milhões, teve que receber um aditivo no valor de R$ 571 mil para ser concluída, como é comum em obras neste Estado.
O caso da Praça da Saudade, onde uma rivalidade esportiva destruiu a beleza da Praça. Na década de 50, o ex-governador e presidente na época no Nacional Futebol Clube, Sr. Plínio Ramos Coelho(1955 - 1959) e (1963 - 1964), iria receber o cargo do então governador Gilberto Mestrinho e resolveu insultar o Rio Negro com a construção bem em frente à sede do clube rival, mesmo sabendo que é proibido construir prédios em logradouros públicos.

O Atlético Rio Negro Clube foi arquitetado e projetado com uma vista panorâmica para a frente da Praça da Saudade e isso ficou impossibilitado pela construção do prédio (foto 1). Os diretores do clube na época se revoltaram e tentaram impedir a construção, mas não havia um peso político para combater o poder público e somente em setembro de 2007 começou a sua demolição.


Foram anos de espera, década de um erro que revelou de forma exemplar o descanso com o patrimônio arquitetônico da cidade a partir da quebra da economia amazonense baseada há Hevea Brasiliensis, a conhecida seringueira, que com seu leite viscoso, colocou o Amazonas no mapa do Brasil. A queda do “mostrengo”que enfeava a praça da Saudade aponta para o resgate de uma história.

De suntuosa e opulenta capital dos "seringueiros" - como se referiu o escritor e reportes nas horas vagas Euclides da Cunha – a decadente e esquecida pelo país, Manaus mergulhou em sua depressão econômica que durou meio século após a quebra da borracha (1890 - 1920). Tempo suficiente para garantir a extinção de grande parte das casas, palacetes e praças construídas com o dinheiro do latex.

As Praças foram as que mais sofreram. Quando não apagadas do mapa da cidade, sofreram processo de desfiguração, como foi o caso da Praça da Saudade que brindada há 40 anos por uma construção extra de péssimo gosto na parte frontal encobrindo totalmente o monumento a João Batista Figueiredo Tenreiro Aranha, que foi o primeiro presidente da província do Amazonas de (01 de Janeiro de 1852 a 27 de Junho de 1852) e uma piscina com duas estátuas em bronze de gosto duvidoso, ficou impossibilitada de ser vista por quem passava pela rua Epaminondas, no centro.

Prefeitura resgata história e tradição ao recuperar Praça.

A volta dos caramanchões e a reconstituição do projeto original da Praça da Saudade é só uma questão de tempo. A determinação da Prefeitura é retomar a praça em sua forma original, trabalho que inclui as residências no entorno como aconteceu com o Largo de São Sebastião para que a população tenha orgulho deste importante logradouro público.

O projeto de revitalização preparado pelos técnicos do Instituto Municipal de Planejamento Urbano - IMPLURB e da Secretaria de Estado de Cultura - SEC, resgata a história da Praça e prevê a volta dos caramanchões que existiam em suas laterais. A idéia é fazer com que a Praça da Saudade seja utilizada não apenas como área de lazer, mas também como um espaço cultural, a exemplo do que acontece hoje na Praça São Sebastião.

Revitalização traz monumento de volta.

Pouca coisa restou da Praça atual. Todas as intervenções que foram feitas ao longo dos anos e que descaracterizaram a Praça do traçado original foram retiradas. Além do prédio, que foi demolido, assim como os banheiros públicos e o palco, foram removidos também, o espelho d'água e as estátuas que representam o homem primitivo e o homem moderno assim como o monumento a Bíblia.

O único monumento que faz parte da história da Praça da Saudade, a estátua de Tenreiro Aranha, primeiro presidente da Província do Amazonas, foi retirada há alguns anos. A Secretaria de Estado da Cultura fez a restauração do monumento ao mesmo tempo em que a Prefeitura Municipal de Manaus concluio a obra de recuperação do traçado original da praça.

No traçado original da praça, datado de 1932, o monumento a Tenreiro Aranha ficava no centro e a partir dele surgiam os passeios em forma radial com oito braços de acesso e duas circunferências ao seu redor que por sua vez possibilitavam o tráfego ao redor da praça. Foi sobre esse traçado que trabalharam os técnicos do Implurb e da Secretaria de Estado da Cultura (figura 2).


Bancas padronizadas.

Todo o comércio ambulante foi retirado da praça e será recolocado no entorno, onde a SEC executará um trabalho de revitalização das residências, algumas delas sendo transformadas em centros gastronômicos, a exemplo do que aconteceu no Largo de São Sebastião. Cento e dezenove pessoas foram cadastradas pela Associação dos Expositores da Praça da Saudade. Essa lista será comparada ao levantamento feito pelo Ministério Público Estadual.

A proposta apresentada pelos técnicos prevê no espaço físico da praça apenas bancas de tacacá e de revista, e telefone público, todas seguindo o estilo adotado no Largo, e ainda, alguns vendedores de pipoca. As demais atividades que hoje se estabeleceram no local ficarão no entorno.

Uma História continuada...

Em Manaus, os homens públicos tem como praxe a construção de prédios em praças públicas, além da desfiguração da arquitetura, outras simplesmente desapareceram como foi o caso da praça que existiu onde hoje funciona o Instituto Federal do Amazonas – IFAM, antigo Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET, na Av. 07 de Setembro. Há também o exemplo da Praça da Cachoeirinha, onde hoje está localizado o Hospital Militar de Manaus – HMM. Existem ainda as que foram privatizadas como é o caso da Praça General Osório (1808 - 1879), onde acontecia o Festival Folclórico do Amazonas. O exemplo que mais chocou foi o ocorrido no bairro da Praça 14 de Janeiro com a extinção da Praça 14 de Janeiro, a Praça que deu origem ao bairro do mesmo nome, hoje ela é um aglomerado de boxes, lojinhas, quadra de escola de samba e até a Igreja tomou parte do espaço público, e o que é o mais impressionante: Tudo isso aconteceu a menos de 10 anos. Aproveitando a oportunidade, estava esquecendo do também absurdo da ocupação da Praça Francisco Pereira da Silva (1890 - 1973), Deputado idealizador do Projeto da Zona Franca de Manaus, atual Pólo industrial de Manaus - PIM, mais conhecido como Bola da Suframa que tem um Anfiteatro utilizado umas ou duas vezes no ano, como também houve a construção do Centro Cultural dos Povos da Amazônia – CCPM. Fico com o poema do grande Mário Quintana (Poeminha do contra)... Todos aqueles que aí estão travessando o meu caminho, eles passarão. Eu passarinho! É demais com o descaso público e nínguem diz nada...

sexta-feira, abril 09, 2010

A DEMOLIÇÃO DO ESTÁDIO VIVALDO LIMA

Não entendo o porquê da demolição do Estádio Vivaldo Lima, conhecido como “Vivaldão” sigo o pensamento do brilhante jornalista Juca Kfouri da folha de são Paulo. Sobre a construção de Estádios para a copa de 2014, diz o jornalista: “nem em Barcelona, onde a seleção Brasileira jogou, havia estádios novos. Nem em Madri, palco da final. No México, em 1986, a mesma coisa: nenhum Estádio novo. Já na Itália em 1990, teve um, Turim, Os Estados Unidos, no País mais rico do mundo, em 1994, também, sendo que o Brasil jogou no Estádio Universitário de Stanford, em Campos de Futebol Americano adaptados para o futebol. Na frança, em 1998, de novo apenas o State de France, no subúrbio de Paris, mas o Parque dos Príncipes foi usado, jogou-lhe, alias, até no velho campo de Marselhe, construído para a copa de 1938!”
Após criticar a orgia de gastos em locais que serão usados, no máximo para receber, três jogos da copa, evento que dura um mês, indaga: Precisamos mesmo de novos Estádios ou de um mínimo de transparências e vergonha na cara?”
Trazendo a situação para Manaus, vende-se o absurdo de propostas de demolição do Estádio Vivaldo Lima, para a construção no local de um novo Estádio. Não têm sentindo, pois o velho campo, ainda pode servir muito bem. Feitas as necessárias adaptações. Vários clubes de futebol do município não têm se quer campo para treinamento, tais como: Rio Negro, Sulamérica, América, Libermorro, dentre outros, todavia porque não pensam nesta hipótese. Mas, admitindo-se as idéia, porque não se edifica o projeto em outro local, mantendo-se, o atual, que serviria para o treinamento das equipes. Por exemplo, na Zona Norte da Cidade mais precisamente na Cidade Nova, ou então do outro lado do rio, com vista para a cidade e seu belo entorno, fato que talvez justificasse um pouco o empreendimento da ponte, que vai do nada pra lugar nenhum, conforme Nilson Chaves, sem a menor razão econômica, para talvez justificar a tal região metropolitana.
O historiador Hilário Franco Júnior em seu livro intitulado: A Dança dos Deuses: Futebol, Sociedade e Cultura. (Companhia das Letras-2007), argumenta sem limites, porém, fazendo uma análise histórica entendendo que “o futebol é metáfora de cada um dos planos essenciais do viver humano nas condições históricas e existenciais das últimas décadas.” Nesse sentido, procura examinar aquele esporte como metáfora sociológica, antropológica, religiosa, psicológica e lingüística. Somos levados a pensar, por exemplo, sobre os diferentes usos políticos do futebol, seja por regimes autoritários ou democráticos, tanto uns quanto outros sempre abraçados ao nacionalismo.
Mas prevalece a megalomania cabocla, em cima de interesses nem sempre confessáveis e confiáveis. A nova arena, depois do Mundial, ficará aí, faraônica e vazia, como somos ricos, mais que os americanos, que não fizeram um estádio para receber o mesmo evento, e como já resolvemos todos os nossos problemas de: Educação, infra-estrutura, saúde, produção, transporte e saneamento, pouco importa.
Em estudo intitulado: Vitrine ou vidraça: desafios do Brasil para a Copa de 2014, publicado no dia 02 de junho, o SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Construtiva, alertando para a possibilidade de a copa agir como lupa para os defeitos estruturais do País. A avaliação toma Barcelona, na Espanha, como parâmetro positivo. Com recursos de 20 bilhões de dólares, a cidade foi totalmente remodelada a partir de diversas intervenções urbanas e revitalizações de equipamentos que precedem os Jogos Olímpicos de 1992. O parâmetro negativo está no próprio Brasil na preparação da cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Apesar de dispor de recursos bastante inferiores ao de Barcelona, o planejamento priorizou a construção de novos equipamentos mesmo quando havia possibilidade de adequação dos já existentes. Dessa maneira, os investimentos, de 3,6 bilhões de reais não se convertem em um legado de infra-estrutura urbana ou de benefícios para suprir as demandas diárias da população.
A referência mais significativa do insucesso da investida carioca é o estádio João Havelange, mais conhecido como Engenhão e erguido especialmente para o Pan de 2007 no bairro de Engenho de Dentro, na zona norte do Rio. O equipamento custou cerca de 380 milhões de reais, quase o dobro dos 200 milhões de reais previstos inicialmente, e sua construção não trouxe a prometida revitalização do bairro. Pelo contrário, a obra para degradação do entrono decorrente de sua implantação e ainda pela ociosidade a que está sujeita na maior parte do tempo – o estádio é usado somente para grandes jogos e permanece fechado para a comunidade carente de equipamentos para a prática de esportes e lazer. Somos campeões em tudo, haja subdesenvolvimento explícito, como a festa de comemoração que demonstrou, com direito a banda de música, socos no ar e espasmos incontroláveis por parte de organizadores. É demais para o coração hipertenso de um simples mortal.