quarta-feira, setembro 08, 2010

Quanto custa um Doutor?

A conversa girava em torno do avanço da ciência no mundo. Passamos pela vanguarda dos americanos e de outros povos que, ancorados em projetos de desenvolvimento e soberania, conseguiram construir em seu país a cultura dos investimentos em ciência e tecnologia como absoluta necessidade. Ficou claro que tais conquistas não se dão no curto prazo ou por puro milagre. Trata-se de projeto de nação desenvolvido ao longo de décadas que independe do bom ou mau humor de qualquer agente público. O dever desses agentes é cumprir com esse compromisso, espécie de pacto tacitamente assumido por todos. Conversa vai, conversa vem, chegamos aos custos dos investimentos para se alcançar esse fim. Afora os projetos estruturantes, necessários ao alicerce para uma plataforma dessa natureza, há custos altos com laboratórios e equipamentos sofisticados. Mas qualquer sonho nessa direção passa, sobretudo, pela formação de capital intelectual. Aí o caldo quase entorna. Falei para o meu interlocutor, burocrata competente no que faz, que o custo para formar um pesquisador fora do estado em nível de doutorado e ao longo de quatro anos requer investimentos de R$ 130.500,00, considerando o valor da bolsa de estudos da Fapeam. Diante do espanto, disse-lhe que nos EUA ou na Europa esse valor deve triplicar. Percebendo que não o convenceria com argumentos relativos aos impactos sociais e econômicos do avanço da ciência, naveguei pelo seu pragmatismo imediatista. Afinal, burocrata que se preza adora números. Com dois ou três anos de formado, um jovem pesquisador tem condições de trazer para o estado, de uma só vez, o valor correspondente aos investimentos feitos em sua formação. Na medida em que consolida academicamente sua posição, as possibilidades de, a cada ano, captar mais recursos aumentam. Basta concorrer aos editais nacionais e internacionais das agências de pesquisa. Quanto mais tarimbado se torna, mais o pesquisador abre frentes para ter projetos aprovados. Para ficar num só exemplo, seis pesquisadores do INPA, da Ufam e da UEA, no edital dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), captaram 19 milhões de reais em recursos federais para serem aplicados em pesquisa ao longo de quatro anos aqui no Amazonas, o que dá uma média de 3,1 milhões de reais por pesquisador. Calei o burocrata. Mas essa é a forma mais pobre de esclarecer alguém da importância de se investir em capital intelectual altamente qualificado.

Prof. Dr. Odenildo Senna Diretor Presidente da FAPEAM