quinta-feira, julho 07, 2011

PELO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO AMAZÔNICA

A Amazônia é extensa e pouco povoada, apenas 25 milhões de habitantes, 70% concentrados em núcleos urbanos. No novo Atlas do IBGE, é perceptível o pequeno número de estabelecimentos agropecuários na região, em contraste com a grande e desproporcional expansão de desmatamento. São raras as cadeias produtivas e geralmente incompletas, pois a agregação de valor acontece fora da região. Não há economia organizada, mas destruição dos recursos naturais, sem benefício à população local. Para o futuro, é lícito reconhecer, portanto, que a Amazônia já é verde, mas necessita de uma base econômica capaz de assim mantê-la.
Através dos séculos, tem sido rica a pesquisa sobre a floresta, mas sempre atrelada a olhares e interesses externos, jamais tratando a região com respeito diante das demandas de sua população. As ciências naturais dominaram. Elas foram o deleite dos naturalistas, muitas vezes enviados pela realeza européia, demonstrando seus interesses econômicos. A ciência na Amazônia era uma cultura de inventário, em que se pesquisava espécie por espécie para classificação taxonômica. Inventários da flora, da fauna e de grupos indígenas foram sendo realizados, com crescente detalhamento à medida que a ciência avançava nos grandes centros europeus e, depois, americanos.
Esses inventários contribuíram para a formação de importantes acervos e para a presença de poucas instituições de pesquisa de boa qualidade. Nas últimas décadas, entretanto, um intenso choque na cultura científica vem abalando a região amazônica. Agora, o desafio é passar da cultura do inventário para a de pesquisa e desenvolvimento.
O governo vem tentando introduzir essa nova postura científica desde meados da década de 1990, pela importância da floresta no cenário internacional e pressão por sua preservação.
A estratégia para a modernização da pesquisa tem duas âncoras principais que causaram grande impacto.
A primeira é o estímulo à formação de redes de pesquisadores regionais, nacionais e internacionais, com a criação de grandes projetos científicos, como o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7) e, sobretudo, aqueles implementados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A segunda é a criação de um grande centro para pesquisa e aproveitamento industrial da biodiversidade, o Centro de Biodiversidade da Amazônia (CBA).
A biodiversidade torna-se a menina dos olhos da ciência por codificar a vida, abrindo novas fronteiras para a biologia. Por sua vez, a ciência e a tecnologia criam chances para o aproveitamento da biodiversidade em novos patamares. É o caso dos fármacos, essenciais à saúde pública, com grande interesse no mercado internacional. Os fitoterápicos, a dermocosmética e a nutracêutica se utilizam de elementos naturais para gerar bem-estar e vêm se expandindo bem com as terapias para a longevidade. Com a implantação da Universidade do Estado do Amazonas - UEA em 2001, esse cenário começou a passar por transformações, principalmente com a educação neste estado.
Mais recentemente, a bioenergia teve sua produção estimulada nas áreas alteradas, tanto a do Cerrado como a de floresta, com a demanda por energias renováveis. A associação da biodiversidade com a indústria eletrônica rumo à nanotecnologia já é realidade. E a economia da floresta é possível com um mínimo de destruição.
Lamentavelmente, contudo, essas potencialidades não se desenvolveram de forma expressiva na Amazônia. Os projetos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) oferecem significativo avanço ao conhecimento sobre a região, mas o CBA até agora não vingou e são poucas as pequenas e médias empresas locais voltadas para a utilização industrial da biodiversidade. A cultura da pesquisa e do desenvolvimento ainda não deslanchou, sobretudo em sua aplicabilidade.
Na última década, com a Implantação da Universidade do Estado do Amazonas – UEA novos cursos tanto de licenciatura e bacharelado foram sendo criados, desta forma 16 mil professores do ensino médio e fundamental completaram seu nível superior, bem como sua especialização, assim sendo a UEA criou cursos na área de: Ciências econômicas, biologia, geografia, turismo, pedagogia indígena, matemática, química, tecnologia em agroecologia, tecnologia em alimentos, licenciatura intercultural indígena, tecnologia em gestão ambiental, saneamento básico, tecnologia em análise e desenvolvimento de sistemas, tecnologia em arqueologia, tecnologia em produção pesqueira e licenciatura e bacharelado em Educação Física. Todavia, este último abrangendo diretamente o homem amazônico, com sua aplicação e interface voltado para qualidade de vida e saúde através da prática desportiva em todas as fazes da vida, promovendo desta forma um brilhante trabalho com a Universidade Aberta da Terceira Idade – Unati, além de parceiras com o Exército Brasileiro, Grupo S (SESI, SESC, SENAI), Associação Atlética Banco do Brasil – AABB, Ministério do Esporte (Programa Segundo Tempo, Programa Esporte e Lazer da Cidade - PELC), Governo do Estado (Programa Jovem Cidadão), desta forma, totalizando 480 alunos com bolsas de estudo de um total de 700 alunos matriculados em 16 municípios.
A ciência busca aprofundar uma dinâmica especializada nos diferentes tipos de vegetação - verdadeiro zoneamento que pode alterar a política de conservação. Avança também a face econômica quanto à utilização do capital natural da floresta. Se há séculos os homens mercantilizam os elementos dos ecossistemas, a novidade histórica é a mercantilização de suas funções, como serviços ambientais. Essa novidade está expressa, sobretudo, no mercado do carbono, que se tornou o principal instrumento das políticas ambientais, ultrapassando o âmbito da mudança climática. Ou seja, articula-se a floresta com o clima e passa-se dos recursos genéticos aos serviços ambientais.
Com essa concepção, o desenvolvimento da Amazônia requer inovação. Grosso modo, é possível distinguir duas grandes abordagens inovadoras para o desenvolvimento regional. Uma delas corresponde a estratégias conservacionistas com foco nos biomas. A mais difundida é a Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação (Redd), em que um pagamento é feito para não desmatar a floresta em troca da possibilidade de continuar emitindo CO2 em outro lugar. Trata-se de manter a floresta em pé, mas improdutiva. Isso limita a imensa potencialidade do bioma ao mercado do carbono, e não se sabe quem se beneficia do pagamento. Seriam os habitantes da floresta, os proprietários das terras, o governo?
Propostas para o Cerrado amazônico enfatizam a contenção de agronegócio, o reflorestamento e maior produtividade da pecuária. Alguns apontam também para a necessidade de apoiar os produtores familiares. O Macrozoneamento Ecológico-Econômico para a Amazônia Legal, aprovado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2010, lembra da necessidade de pressionar o agronegócio rumo à formação de uma agroindústria.
Outra abordagem desenvolvimentista propõe uma estratégia produtiva e com foco nas regiões. A região é a unidade básica de análise e atuação. Primeiro, porque nela se reconhecem as formas de organização ou desorganização das populações com base em suas culturas, relações sociais e interação sociedade-natureza.
A estratégia foca a produtividade, não só a conservação. Alguns princípios orientam nesse sentido: atribuir valor econômico à floresta em pé para que ela possa competir com as commodities e continuar em pé; organizar a base econômica regional, com o reconhecimento do zoneamento da natureza e seus tipos de vegetação; recuperar as cidades como nos logísticos das redes tangíveis e intangíveis; e criar cadeias produtivas completas.
Para cada uma dessas "zonas", se definem atividades e práticas adequadas com apoio da ciência, da tecnologia e da inovação. Redes de cidades localizadas nessas regiões devem ser equipadas para processar e agregar valor aos produtos, sediar laboratórios de pesquisa e assegurar a convergência das redes e das cadeias produtivas.
Eis uma reflexão para uma revolução tecnocientífica que não exclui nenhuma modalidade de pesquisa, pelo contrário, as integra. Das inovações nos grandes centros às inovações locais e ao saber tradicional, do inventário de biodiversidade às mais complexas interações moleculares, essas pesquisas podem ser capazes de impulsionar o desenvolvimento na Amazônia.


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