quinta-feira, maio 03, 2012

Mormaço das calçadas


Na última quinta feira fui obrigado a caminhar pelas ruas Eduardo Ribeiro, Joaquim Sarmento e Lobo D’Almada. Como sempre acontece, foi para mim uma tristeza e motivo de indignação. Precisava fazer isso com o máximo de rapidez. Mas não foi como planejado. As lindas calçadas de mármore de liós de minha infância se transformaram em armadinhas perigosas. Na Lobo D’Almada, entre a Saldanha Marinho e a Henrique Martins, nos fundos de uma grande loja, há um enorme buraco. Para transitar nesses calçadas dilapidadas pela incúria de administradores municipais que odeiam a minha cidade, é preciso andar com muito cuidado. Todos os passeios estão esburacados, oferecendo perigo aos transeuntes. Nessas calçadas internas, não há camelôs. E não os há porque as calçadas são estreitas e acidentadas. O mais trágico é que o que se pode ver nesse pequeno trecho do centro histórico, pode ser generalizado para toda a capital amazonenses, esse imenso favelão, esse imenso monturo de lixo real e político. Observei como as pessoas passam por ali e usam aquele espaço urbano. Seguem pelas estruturas destroçadas como se campo minado fosse. Nos bairros, praticamente todos os frutos de invasões estimuladas por uma classe de políticos ignorantes e oportunistas, mais parece um urbanismo medieval. Não há calçadas, e quando há, são tão estreitas, com menos de um metro, e completamente desiguais, pois cada morador inventa a sua própria calçada. Vi muitos desses exíguos passeios de meio metro obstruídos por carros estacionados com meia roda sobre o espaço dos pedestres, obrigados a arriscar a vida no meio fio dessas ruelas tortuosas em que os infames moto taxis trafegam em alta velocidade e os motoristas particulares, que recentemente se motorizaram comprando carros em 30 meses, também exercem seu   novo poder fazendo seus veículos verdadeiros bólides. E o que se lix. Por isso não é de espantar que Manaus tenha recebido a pior classificação no quesito mobilidade urbana, entre as sedes da Copa do Mundo de 2014. Mobilidade significa vias organizadas, limpas e seguras. Além de calçadas que para o poeta Charles  Baudelaire, que nelas costumava flanar, significam modernidade, há a questão do transporte público de massas, a questão do estacionamento e a estruturas do trânsito. No item calçadas nossa cidade regrediu ao nível das aldeias mais infectadas e subdesenvolvidas. Mas isto não parece comover as autoridades municipais, muito menos aos vereadores. Para estes últimos, o assunto do momento é o auxílio paletó (que, aliás, os faz mais caipiras) e os subsídios do 13º, 14º e sabe-se lá que mais mumunhas vivem arrancando do erário público. Há na publicidade mentirosa da Prefeitura de Manaus um tal de Choque de Ordem em andamento. Só se for choque nos cofres públicos para favorecer as empreiteiras como a Delta e a Esparsanco, pois no mundo real das calçadas degradadas e da malha urbana apodrecida o que há é o choque da desídia. O estacionamento de veículos segue a mesma permissividade implantada como política de Estado. Lojas e restaurantes privatizam as calçadas em estacionamentos exclusivos. Na avenida Getúlio Vargas há um restaurante que atravanca a calçada com os carros de incautos fregueses, que pelo nível da cozinha bem merecem o diploma da barbárie. Outro dia vi duas viaturas do Detran estacionados naquela calçada, provavelmente comendo de graça a gororoba suspeita que ali servem. Na praça Oswaldo cruz, a Praça da Matriz, os infectos restaurantes que ocupam o passeio público são casos de vigilância sanitária, se isto existisse na cidade. É demais para um coração hipertenso de um simples mortal.

Autor: Márcio Souza.

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