Na última quinta feira fui obrigado a caminhar pelas ruas
Eduardo Ribeiro, Joaquim Sarmento e Lobo D’Almada. Como sempre acontece, foi
para mim uma tristeza e motivo de indignação. Precisava fazer isso com o máximo
de rapidez. Mas não foi como planejado. As lindas calçadas de mármore de liós
de minha infância se transformaram em armadinhas perigosas. Na Lobo D’Almada,
entre a Saldanha Marinho e a Henrique Martins, nos fundos de uma grande loja,
há um enorme buraco. Para transitar nesses calçadas dilapidadas pela incúria de
administradores municipais que odeiam a minha cidade, é preciso andar com muito
cuidado. Todos os passeios estão esburacados, oferecendo perigo aos
transeuntes. Nessas calçadas internas, não há camelôs. E não os há porque as
calçadas são estreitas e acidentadas. O mais trágico é que o que se pode ver
nesse pequeno trecho do centro histórico, pode ser generalizado para toda a
capital amazonenses, esse imenso favelão, esse imenso monturo de lixo real e
político. Observei como as pessoas passam por ali e usam aquele espaço urbano.
Seguem pelas estruturas destroçadas como se campo minado fosse. Nos bairros,
praticamente todos os frutos de invasões estimuladas por uma classe de
políticos ignorantes e oportunistas, mais parece um urbanismo medieval. Não há
calçadas, e quando há, são tão estreitas, com menos de um metro, e
completamente desiguais, pois cada morador inventa a sua própria calçada. Vi
muitos desses exíguos passeios de meio metro obstruídos por carros estacionados
com meia roda sobre o espaço dos pedestres, obrigados a arriscar a vida no meio
fio dessas ruelas tortuosas em que os infames moto taxis trafegam em alta
velocidade e os motoristas particulares, que recentemente se motorizaram
comprando carros em 30 meses, também exercem seu novo
poder fazendo seus veículos verdadeiros bólides. E o que se lix. Por isso não é
de espantar que Manaus tenha recebido a pior classificação no quesito
mobilidade urbana, entre as sedes da Copa do Mundo de 2014. Mobilidade
significa vias organizadas, limpas e seguras. Além de calçadas que para o poeta
Charles Baudelaire, que nelas costumava
flanar, significam modernidade, há a questão do transporte público de massas, a
questão do estacionamento e a estruturas do trânsito. No item calçadas nossa
cidade regrediu ao nível das aldeias mais infectadas e subdesenvolvidas. Mas
isto não parece comover as autoridades municipais, muito menos aos vereadores.
Para estes últimos, o assunto do momento é o auxílio paletó (que, aliás, os faz
mais caipiras) e os subsídios do 13º, 14º e sabe-se lá que mais mumunhas vivem
arrancando do erário público. Há na publicidade mentirosa da Prefeitura de
Manaus um tal de Choque de Ordem em andamento. Só se for choque nos cofres
públicos para favorecer as empreiteiras como a Delta e a Esparsanco, pois no
mundo real das calçadas degradadas e da malha urbana apodrecida o que há é o
choque da desídia. O estacionamento de veículos segue a mesma permissividade
implantada como política de Estado. Lojas e restaurantes privatizam as calçadas
em estacionamentos exclusivos. Na avenida Getúlio Vargas há um restaurante que
atravanca a calçada com os carros de incautos fregueses, que pelo nível da
cozinha bem merecem o diploma da barbárie. Outro dia vi duas viaturas do Detran
estacionados naquela calçada, provavelmente comendo de graça a gororoba
suspeita que ali servem. Na praça Oswaldo cruz, a Praça da Matriz, os infectos
restaurantes que ocupam o passeio público são casos de vigilância sanitária, se
isto existisse na cidade. É demais para um coração hipertenso de um simples
mortal.
Autor: Márcio Souza.
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