terça-feira, maio 26, 2009

Lazer: Habilidades Históricas - 2009


LAZER: HABILIDADES HISTÓRICAS E EDUCACIONAIS
Há muito mais habilidades históricas e educacionais aplicadas ao lazer do ser, do que possa imaginar nossa vã filosofia.
É o que este livro apresenta ao leitor, privilegiado pela visão do autor, no sentido de trazer ao conhecimento e ao convívio daqueles que, de alguma forma ou por algum motivo maior não haviam ainda percebido a exata e tamanha dimensão do que é lazer.
O contraponto da educação para o trabalho e desta para o lazer, constitui preocupação das sociedades atuais, na busca incessante pela qualidade de vida encravada e escrava da urbanidade. As mudanças recentes sinalizam para uma reflexão maior sobre o que é desfrutar a vida, ante os paradigmas do pensamento mitológico da filosofia antiga e os paradigmas do homem contemporâneo. Tão difícil de ser vivido em sua plenitude, o lazer passou a ser um item a mais no cardápio da dieta lúdica das necessidades humanas. Tal consciência de que é preciso estimular cada vez mais o lado ludens de nossa civilização tão faber, passou a constituir nos tempos atuais em vigoroso campo de trabalho, à medida que o homus tecnologicus desenvolve cada vez mais tecnologias em favor de seu tempo dedicado aos interesses de sua sociabilidade, em particular no que tange à família e ao entretenimento, desde a idade juvenil até, quiçá, à melhor idade ou à Terceira Idade, como queiram.
Divertir-se sempre é a palavra de ordem para a superação dos preconceitos existentes sobre o que é lúdico. Tais preconceitos incluem ricos e pobres na direção do equilíbrio do balanço social do conjunto de fatores socioeconômicos que distanciam as pessoas entre si, contrariando princípios da universalidade do homem ludens, posto que, nem só de pão vive o homem. Do homo pai ou mãe às instituições religiosas, passando pelo contexto político-econômico o lazer constitui o ambiente meio para tornar a vida mais prazerosa e menos estressante, menos ociosa, menos reprimida, menos oprimida e muito mais menos. Sem atrapalhar o trabalho e os deveres o homem encontra nos lazeres da vida as amenidades para o trabalho difícil, pois fácil é divertir-se e esta é uma decisão voluntária do ser no exercício de sua dignidade cidadã.
Ser faber e ludens ao mesmo tempo é tarefa difícil para aqueles que não exercem seus afazeres com amor servil. Em meio à artificialidade do homo faber nasce o homo ludens integrados entre si em meio a estratégias de ruptura de seus destinos.
Lazer e permissão são sinônimos desde a Grécia antiga e que nos remetem ao ideário de liberdade do ser nas mais diversificadas formas de expressão cultural e religiosa. Os medos coletivos baseados no senso do pecado ainda continuam estigmatizando o lazer como causa dos fracassos espirituais ante a figura do mal em detrimento da figura do bem divino. Ledo engano. Aos pobres os rigores do trabalho e aos ricos os benefícios do lazer, constitui hipocrisia social-cristã no âmbito do cinismo das religiões como um todo, diferentemente ao que pregou Jesus Cristo, ou seja, o amor à natureza do ser de forma lúdica num convívio harmônico. Do proletariado feudal ao estilo burguês dos nobres o lazer continua sendo uma forma de distinção social sem, necessariamente, ser exageradamente levado à sério ou tratado de forma fútil.
Aventura, competição, vertigem, fantasia são alguns dos ingredientes motivacionais na formulação do tempero do lazer. Haja imaginação!
Como se divertir ante tanta imaginação? Eis a questão! O lazer como diversão pode ser praticado dentro e fora do ambiente doméstico. Entretanto, há que se levar em conta a diversidade de meios hoje disponíveis ao honro contemporaneus em termos de comunicação e convívio social. Isto vale tanto para os meios eletrônicos como para os ambientes de acesso ao público, particularmente aqueles que promovem a interação do homem com a natureza lúdica. Também se incluem neste contexto os segundo lares, ou seja, os sítios, chácaras e fazendas que servem tanto para o lazer familiar quanto para o trabalho e renda complementares, bem como os lugares que promovem as atividades sócio-recreativas e contemplativas, dando asas à expansão do lazer com liberdade.
Liberdade e lazer são estímulos à sexualidade do ser humano. Não obstante ao fortalecimento contínuo dos movimentos feministas, de forma aceitável ou não em relação aos dogmas existentes o sexo continua sendo visto como vilão da superpopulação global, em razão do ócio social mundial. Neste sentido, o sexo impõe a todos, responsabilidades na prática do lazer baseado no prazer sexual que motiva as relações humanas. O lazer constitui, então, em elemento fundamental para o entendimento e compreensão do corpo biológico, que sofre e que sente sensações de toda ordem e sorte, mas que sempre pedirá conforto em diversos climas de cunho psicológico, seja de caráter sagrado, profano ou até mesmo romântico. Quem sabe seja o lazer o segredo da vida feliz!?
Mas, então, por que é tão difícil divertir-se para ser feliz? Esta é uma questão inesgotável de argumentos. Entretanto, a corrupção aos ingredientes motivacionais já comentados anteriormente, constitui arma poderosa no sentido contrário da vida feliz. O outro lado da moeda do lazer pode representar o lado mal desta corrupção, a qual pode revelar-se na forma de violência e agressividade impulsivas, vícios escravizadores (químicos ou não), adivinhações e apostas, idolatrias equivocadas, além de outras. Pior do que todas estas mencionadas a "concretude" psicótica" insurge sobre os limites do indivíduo com a força de uma tormenta mental no campo das ilusões fantasiosas. Para vencer tais dificuldades o importante como regra é participar do jogo do lazer e não tão somente competir, pelo simples caráter desafiador dos ingredientes motivacionais. Lazer, prazer e trabalho são combinações, mas não se miscuem.
Entre o fazer algo e não fazer nada o tédio pode, também, constituir-se num aliado do mal contra o lazer prazeroso. Porém, este fazer ainda implica no caráter do que é produtivo e improdutivo em termos de uso do tempo e de sua administração, na luta pela superação dos estados biorrítmicos do homem, no que tange ao rompimento da inércia psicológica sobre o não fazer nada, tão característico das sociedades urbanas e rurais. Isto é, não há distinção para as diferenças individuais, do ponto de vista verbal, entre o ser urbano e o ser rural. Ambos se organizam em tribos humanas, mas sofrem influências astrais diferenciadas entre as luzes artificiais das cidades e as luzes naturais das estrelas, que de alguma forma afetam ou influenciam as razões existenciais de cada um, cuja liberdade em sua complexidade permite ao homem com sua inteligência vencer todo e qualquer tédio, através de suas habilidades históricas e educacionais aplicadas ao lazer.
Será que nada vence ou supera o lazer? Do ponto de vista conceitua) não. Entretanto, os hábitos da vida capitalista e não-capitalista estão intimamente ligados à disponibilidade de dinheiro. Pode até parecer um transe coletivo - mas não é. A distância
entre a pobreza e a riqueza está na indisponibilidade de oportunidades cidadãs e na falta de recursos sócio-culturais, impostos pelos vários modelos de poderes de domínio sobre o ser humano, cujos interesses garantem suas sustentabilidades, através do rompimento dos vínculos entre as estruturas sociais humanas, as quais deveriam ser fortalecidas em favor do nivelamento da qualidade de vida entre os povos, permitindo assim que o lazer pudesse constituir elo de integração, mediante a sua diversidade de aplicação, no sentido de corpos e mentes sadias. O fosso entre a classe rica e a classe pobre constitui na atualidade o espaço ocupado pela classe média, a qual sofre dilemas sócio-econômicos na tentativa de manter-se em patamares de satisfação e felicidade e na fuga ante inúmeras possibilidades de se tornar infeliz, do ponto de vista social capitalista. É a "psicologia da felicidade", que relaciona o estado capital da riqueza e da pobreza com os estados de felicidade e infelicidade. Entre um pólo e outro criam-se óbices ao lazer e tentativas de se justificar o ócio ao lazer.
As várias pontes existentes entre o faber e o ludens, entre o trabalho e o lazer, representam desafios da problemática humana no curso de seu relógio biorrítmico. Na facilidade do lúdico de antigamente encontrava-se o aconchego e o consolo para a alienação das gerações de outrora. Na dificuldade do ludens e na artificialidade do faber encontram-se os dilemas, os complexos e as síndromes das gerações atuais e futuras, cuja sustentab il idade desafia os especialistas de plantão. Qual será então a qualidade da aposentadoria desta e das futuras gerações?
Relaxar e gozar? Claro que esta não é a palavra de ordem ante a possibilidade da falência do ludens e do faber. Importante e necessário se faz, no sentido de desfrutar-se do lazer, como se fosse este um ideal de vida, seja no âmbito do trabalho, da família e/ou da religião. Resignação, choro, oportunismo, reivindicação e ganhos, são tipos de reações inerentes aos que se habilitam a administrar o tempo em favor da qualidade de seus lazeres. Entre a passividade e a pró-atividade daqueles que em algum momento se arriscam a dedicar parte de seu tempo privilegiando o lazer e renunciando temporariamente ao trabalho, há que se buscar o equilíbrio entre o sucesso e a felicidade. Flexibilizar! Esta é, então, a palavra de ordem. Compartilhar! Esta é a regra do bem viver, com animação a qualquer tempo, baseada nos costumes culturais de cada tribo, urbana ou rural.
Melhor do que estar submetido ao controle dos meios de comunicação de massa é praticar os ensinamentos explicitados ao final do parágrafo acima. Formar opinião não é tão fácil ou tão simples, quanto ser controlado pelo poder das comunicações. O homo faber parece ser mais vulnerável às causas e efeitos da mídia global. Por conseguinte, o homo ludens apresenta melhores defesas para o desenvolvimento de seu senso crítico ante o poder pelo poder em suas variadas formas de difusão e tentativas de controle. A contra-arma disto é o uso do poder cultural em defesa de cada indivíduo.
Fortalecidas as defesas humanas o ser precisa ser capaz de pôr-se receptivo, sem ser, obviamente, passivo, às habilidades históricas e culturais aplicadas ao lazer. Neste sentido, a contemplação deve sobrepor-se ao trabalho na construção do calendário biorrítmico do indivíduo. A cadeia produtiva do lazer não deve desconsiderar a pirâmide social formada pelo senso temporal do faber, até porque não trabalhamos vinte e quatro horas ao longo de um dia, mas trabalhamos intensamente ao longo de doze meses de estações, com suas. Neste contexto evoluímos desde Sigmund Freud até os xamãs intelectuais da atualidade.
Da teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882) depreende-se sobre as nuances entre diversidade e variedade. Neste sentido, ambas devem ser percebidas na estruturação das habilidades ante as possibilidades e oportunidades do ludens, como contribuição à composição e utilidade do corpo, dos membros, da imaginação, da curiosidade, de tudo que possa dar respostas ao biorritmo das pessoas no processo de co-educação das gerações atual e futuras, sem esquecer a tolerância ante as diferenças e indiferenças, no sentido mais amplo das relações sociais.
O futuro aponta, então, para a necessidade de se ter mais tempo para o que é ludens. Nesta linha de percepção há que se reduzir a jornada de trabalho oficial e extra-oficial. Isto é, otimizar a relação capital-trabalho preconizada no âmbito da doutrina marxista. Tal otimização pela redução da jornada de trabalho é questão de civilidade e não de caráter produtivo e remuneratório. O homo faber tem como desafio contínuo, a busca pela eficiência tecnológica em favor do lúdico. Se aquele é eficiente ao máximo, deveria ao mínimo ter seu tempo de ludicidade garantido em nome da recompensa pelo trabalho compensatório.
Por fim, as habilidades históricas e educacionais aplicadas ao que é ludens, trás à baila das sociedades contemporâneas inúmeras oportunidades e possibilidades de inclusão do homo faber na socialização do lazer e, não coincidentemente, na promoção da qualidade de vida do homo ludens e na expansão econômica do que é faber.
Carpem die!

Jorge Luis Garcez Geólogo e Consultor Ambiental

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