sábado, abril 10, 2010

ATE QUE ENFIM UMA PRAÇA, QUE NOS DEIXOU SAUDADE

A Praça da Saudade ou 5 (cinco) de setembro foi fundada em 1865 em frente ao antigo cemitério da cidade, conhecido como cemitério da saudade, onde hoje está localizada a sede do Rio Negro Clube. Ela fica entre as ruas Epaminondas, Simão Bolívar, Ferreira Pena e Ramos Ferreira. Seu limite original se estendia até o Instituto de Educação – IEA. Conhecida como Saudade, a praça de fato se chama 5 de setembro em homenagem a elevação do Amazonas à condição de província. O monumento homenageia o homem que à época lutou para a conquista: João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Apesar da importância da data, o nome que realmente pegou foi o de Praça da saudade.

Nesta Praça tivemos a construção de um prédio na década de 1960, reza a “lenda amazônica” que a obra foi construída para afrontar torcedores e dirigentes do Rio Negro. Independente do motivo, o ato foi uma tragédia para o desempenho original da praça. Neste mesmo prédio funcionou a Secretaria Estadual de Educação e Cultura, Secretaria de Habitação do Amazonas e Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos.

Com decisão de restaurar o espaço, a prefeitura esboçou novo projeto, que pretende seguir as linhas originais da época de sua construção. A obra orçada em R$ 2,2 milhões, teve que receber um aditivo no valor de R$ 571 mil para ser concluída, como é comum em obras neste Estado.
O caso da Praça da Saudade, onde uma rivalidade esportiva destruiu a beleza da Praça. Na década de 50, o ex-governador e presidente na época no Nacional Futebol Clube, Sr. Plínio Ramos Coelho(1955 - 1959) e (1963 - 1964), iria receber o cargo do então governador Gilberto Mestrinho e resolveu insultar o Rio Negro com a construção bem em frente à sede do clube rival, mesmo sabendo que é proibido construir prédios em logradouros públicos.

O Atlético Rio Negro Clube foi arquitetado e projetado com uma vista panorâmica para a frente da Praça da Saudade e isso ficou impossibilitado pela construção do prédio (foto 1). Os diretores do clube na época se revoltaram e tentaram impedir a construção, mas não havia um peso político para combater o poder público e somente em setembro de 2007 começou a sua demolição.


Foram anos de espera, década de um erro que revelou de forma exemplar o descanso com o patrimônio arquitetônico da cidade a partir da quebra da economia amazonense baseada há Hevea Brasiliensis, a conhecida seringueira, que com seu leite viscoso, colocou o Amazonas no mapa do Brasil. A queda do “mostrengo”que enfeava a praça da Saudade aponta para o resgate de uma história.

De suntuosa e opulenta capital dos "seringueiros" - como se referiu o escritor e reportes nas horas vagas Euclides da Cunha – a decadente e esquecida pelo país, Manaus mergulhou em sua depressão econômica que durou meio século após a quebra da borracha (1890 - 1920). Tempo suficiente para garantir a extinção de grande parte das casas, palacetes e praças construídas com o dinheiro do latex.

As Praças foram as que mais sofreram. Quando não apagadas do mapa da cidade, sofreram processo de desfiguração, como foi o caso da Praça da Saudade que brindada há 40 anos por uma construção extra de péssimo gosto na parte frontal encobrindo totalmente o monumento a João Batista Figueiredo Tenreiro Aranha, que foi o primeiro presidente da província do Amazonas de (01 de Janeiro de 1852 a 27 de Junho de 1852) e uma piscina com duas estátuas em bronze de gosto duvidoso, ficou impossibilitada de ser vista por quem passava pela rua Epaminondas, no centro.

Prefeitura resgata história e tradição ao recuperar Praça.

A volta dos caramanchões e a reconstituição do projeto original da Praça da Saudade é só uma questão de tempo. A determinação da Prefeitura é retomar a praça em sua forma original, trabalho que inclui as residências no entorno como aconteceu com o Largo de São Sebastião para que a população tenha orgulho deste importante logradouro público.

O projeto de revitalização preparado pelos técnicos do Instituto Municipal de Planejamento Urbano - IMPLURB e da Secretaria de Estado de Cultura - SEC, resgata a história da Praça e prevê a volta dos caramanchões que existiam em suas laterais. A idéia é fazer com que a Praça da Saudade seja utilizada não apenas como área de lazer, mas também como um espaço cultural, a exemplo do que acontece hoje na Praça São Sebastião.

Revitalização traz monumento de volta.

Pouca coisa restou da Praça atual. Todas as intervenções que foram feitas ao longo dos anos e que descaracterizaram a Praça do traçado original foram retiradas. Além do prédio, que foi demolido, assim como os banheiros públicos e o palco, foram removidos também, o espelho d'água e as estátuas que representam o homem primitivo e o homem moderno assim como o monumento a Bíblia.

O único monumento que faz parte da história da Praça da Saudade, a estátua de Tenreiro Aranha, primeiro presidente da Província do Amazonas, foi retirada há alguns anos. A Secretaria de Estado da Cultura fez a restauração do monumento ao mesmo tempo em que a Prefeitura Municipal de Manaus concluio a obra de recuperação do traçado original da praça.

No traçado original da praça, datado de 1932, o monumento a Tenreiro Aranha ficava no centro e a partir dele surgiam os passeios em forma radial com oito braços de acesso e duas circunferências ao seu redor que por sua vez possibilitavam o tráfego ao redor da praça. Foi sobre esse traçado que trabalharam os técnicos do Implurb e da Secretaria de Estado da Cultura (figura 2).


Bancas padronizadas.

Todo o comércio ambulante foi retirado da praça e será recolocado no entorno, onde a SEC executará um trabalho de revitalização das residências, algumas delas sendo transformadas em centros gastronômicos, a exemplo do que aconteceu no Largo de São Sebastião. Cento e dezenove pessoas foram cadastradas pela Associação dos Expositores da Praça da Saudade. Essa lista será comparada ao levantamento feito pelo Ministério Público Estadual.

A proposta apresentada pelos técnicos prevê no espaço físico da praça apenas bancas de tacacá e de revista, e telefone público, todas seguindo o estilo adotado no Largo, e ainda, alguns vendedores de pipoca. As demais atividades que hoje se estabeleceram no local ficarão no entorno.

Uma História continuada...

Em Manaus, os homens públicos tem como praxe a construção de prédios em praças públicas, além da desfiguração da arquitetura, outras simplesmente desapareceram como foi o caso da praça que existiu onde hoje funciona o Instituto Federal do Amazonas – IFAM, antigo Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET, na Av. 07 de Setembro. Há também o exemplo da Praça da Cachoeirinha, onde hoje está localizado o Hospital Militar de Manaus – HMM. Existem ainda as que foram privatizadas como é o caso da Praça General Osório (1808 - 1879), onde acontecia o Festival Folclórico do Amazonas. O exemplo que mais chocou foi o ocorrido no bairro da Praça 14 de Janeiro com a extinção da Praça 14 de Janeiro, a Praça que deu origem ao bairro do mesmo nome, hoje ela é um aglomerado de boxes, lojinhas, quadra de escola de samba e até a Igreja tomou parte do espaço público, e o que é o mais impressionante: Tudo isso aconteceu a menos de 10 anos. Aproveitando a oportunidade, estava esquecendo do também absurdo da ocupação da Praça Francisco Pereira da Silva (1890 - 1973), Deputado idealizador do Projeto da Zona Franca de Manaus, atual Pólo industrial de Manaus - PIM, mais conhecido como Bola da Suframa que tem um Anfiteatro utilizado umas ou duas vezes no ano, como também houve a construção do Centro Cultural dos Povos da Amazônia – CCPM. Fico com o poema do grande Mário Quintana (Poeminha do contra)... Todos aqueles que aí estão travessando o meu caminho, eles passarão. Eu passarinho! É demais com o descaso público e nínguem diz nada...

3 comentários:

Eliana Bahia disse...

O artigo serve de alerta , a rena do patrimônio cultural no Brasil está vivendo um momento novo. O Decreto 3.551,4/08/2000,que instituiu o inventário e o registro do denominado "patrimônio cultural imaterial ou intangível",decortinou-se um panorama que alterou radicalmente a correlação de forças até então vigente.Assim,parece-nos justo afirmar que se processa uma revolução silenciosa.Parabéns!

Juçara Menezes disse...

Sou repórter, louca por História e mais ainda por Manaus. Adorei o texto: explicativo, bem escrito e saudosista, típico dos que sentem e vivem a cidade que vai aos trancos e barrancos, como sempre, tentando recuperar seu passado!
Parabéns! Que tenhamos mais bons pares para celebrarmos o passado com o presente!

Prof. Dr. Vanderlan Santos Mota disse...

Estimada Juçara, Obrigado pelo comentário referente ao artigo da Praça, estes momentos históricos estão enraizados em nossos pensamentos, muitos outros virão, haja vista, que se tratando de politicas públicas nossos governantes deixam muito a desejar.
Grato.

Postar um comentário

Blog do Barba, deixe seu comentário.