quarta-feira, abril 25, 2012

Desprezo pelo saber

É difícil entender a contratação de professores com salário de valor menor que o de maqueiros pela Prefeitura de Manaus. Sem menosprezar a importância dos profissionais da maca, que pegam pesado no transporte de doentes, feridos e mortos, mas nivelar por baixo o saber e o conhecimento é desprezar a educação como valor indissociável da condição humana. Carregar pessoas para prestar-lhes socorro é tarefa inquestionável e o servidor deve ser muito bem pago, pois a função é primordial para salvar vidas. Mas subvalorizar o professor é insano, pois cabe a este formar pessoas para a vida com dignidade.

Esse tipo de política pública é um recado aos pais. Fica evidente, com professores mal pagos, que a escola pública oferecida aos filhos não inspira confiança. Não porque professores com baixos salários vão dar aulas ruins, o que depende do caráter do profissional, apesar da premissa ser verdadeira em muitos casos, mas a má remuneração é uma causa também indiscutível de ensino precário. O baixo vencimento obriga o professor a acumular disciplinas e aumentar a carga horária de trabalho, eliminando o tempo disponível para o aperfeiçoamento profissional e, consequentemente, para proporcionar um ensino melhor. A preocupação maior passa a ser o cumprimento do planejamento escolar sem o aprofundamento do conteúdo das disciplinas.

Ao considerar o professor um profissional de menor valor, tanto financeiro quanto humano, os burocratas roubam dos jovens o direito à ascensão social, pois lhes castram o acesso ao poder do conhecimento, essencial à competição profissional e aquisição de bens, que é um dos sentidos da vida em sociedade. Valores morais, como se sabe, se adquire em casa, na família. Mas o saber é intrínseco à escola. E o conhecimento pleno, que resulta no bem-estar social, só com bons e bem pagos mestres.

Não dá para compreender, então, como os próprios professores se calam diante de tão evidente desprezo. Como transmissores do saber e do conhecimento são, também, difusores do pensamento. Ao ensinar, bem, ensinam-nos a pensar melhor sobre o nosso lugar no mundo e fornecem o estímulo necessário para aprendermos infinitamente. E conhecer é poder, porque aprender é tomar consciência daquilo que não se tinha, é ver o que não se via, é ouvir, sentir o dom, divino ou não, de ser humano. Isso nos dá oportunidades maiores do que se tinha antes, seja para usá-las com responsabilidade social e ambiental ou apenas para atender aos interesses pessoais. Usando uma metáfora eternizada por mestres da literatura, conhecer nos permite se distanciar da cegueira da ignorância e da estupidez, principalmente política, de se livrar do doutrinamento ideológico e nos permite buscar uma vida com reflexão e mais sociável. Em vez de deixar a vida nos levar, o conhecimento assegura que possamos levar a vida que quisermos, para o bem ou para o mal.

A menos que desejem carregar o fardo da educação pública de baixa qualidade como nunca antes neste País, os professores precisam se libertar das correntes do aparelhamento sindical pelas ideologias políticas esquerdistas ultrapassadas, que engessam o próprio profissionalismo, e reagir contra ideias mal intencionadas de ensino sem valor. Mais do que bom salário, o professor deve conquistar respeito há muito perdido. O peso na consciência por formar uma sociedade ignorante deve ficar com os políticos imediatistas. Ao professor cabe a nobre missão de dotar a sociedade das condições necessárias para moldar o caráter e evitar que o cidadão fique deitado em macas pelo chão dos hospitais à espera de políticos salvadores da pátria. Estes já sabem como salvar a si mesmos.


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