quinta-feira, maio 06, 2010

QUE ORGULHO É ESTE?

Um projeto faraônico de Estádio para Copa do Mundo de 2014 não é conduta de orgulho, mas soberba. A mais cara entre as idéias arquitetônicas das cidades sedes é também a de futebol mais insignificante. Neste ponto, o contraste denota arrogância, pratica-se a prepotência de fazer o impossível apenas para marcar uma passagem pública no poder, como se obras de grande impacto financeiro fosse o único meio de Homens Públicos entrarem para a história.

Como sentir orgulho de um futebol recalcado na gestão, falido como competição e inexistente como esporte nacional? Com representante apenas na série D do Campeonato Brasileiro, criada este ano, o futebol afundou nas cheias da incompetência e se apresenta para a copa do mundo como um futebol faraônico, pior que as disputas de campeonato amador e porque não dizer de “peladão”, esta sim, mais atrativas ao público que lotam os campos de várzeas para sua prática, com à apresentação de times amadores.

José Miguel Wisnik em seu livro Intitulado, Veneno Remédio: O futebol e o Brasil (Companhia das Letras, 2008) classificam os estudos de grande abrangência sobre o futebol, à abordagem as questões políticas, socioeconômicas e comportamentais em torno do esporte bretão, costumam deixar de lado o essencial: o jogo em si, aquilo que faz dele uma atividade capaz de apaixonar bilhões de pessoas dos mais remotos cantos do mundo, e porque não dizer da Amazônia, como foi a festa de comemoração de Manaus como sede em 2014, onde o jingle de “Eu tenho orgulho de ser amazonense” imperou nos alto-falantes do Estádio Vivaldo Lima, fazendo com que a população chegasse ao delírio.

O futebol, tal como foi incorporado e praticamente reinventado no Brasil, tem muito a dizer, com sua linguagem não-verbal, sobre algumas de nossas forças e fraquezas mais profundas, ajudando a ver sobre outra ótica as questões centrais de nossa formação e identidade. Partindo dessa premissa, os governantes aproveitam-se de projetos sociais e esportivos, tais como: Jovem Cidadão, Esporte e Lazer da Cidade e programas como o Segundo Tempo, para utilizar de mão de obra dos bolsistas e acadêmicos de Educação Física, como massa de manobra para seus projetos faraônicos e megalomaníacos.

É com esta visão que, temas recorrentes da nossa realidade futebolística vem a tona, como a “democracia racial” e o “homem cordial” e a degustação antropológica de influxo cultural e estrangeiro, encontrando aqui um viés inesperado e original como um corta-luz, um drible de corpo, porque não chamar de finta, um lançamento com efeito ou uma folha-seca; Jogadas que os craques brasileiros e porque não dizer “políticos-craques” inventaram ou desenvolveram, encontrando novos caminhos para chegar ao que é a vitória da politicagem.

O bordão utilizado para enaltecer a escolha do Estado como Sub-sede da copa de 2014 e fortalecer a campanha “orgulho de ser amazonense”, do governo, brinca com a fonética, maquia a realidade socioeconômica e esportiva do Amazonas e reinventa o significado do vocábulo “orgulho”. Brinca com a fonética porque deixa escapar, na pronúncia do narrador uma simples campanha política.

Maquia a realidade porque desvia a atenção apenas para o que está aparentemente bom e reinventa o sentindo de orgulho porque valoriza a soberba, a arrogância e a vaidade em detrimento do brio e da altivez. Essa é a genialidade da propaganda: desfigurar real e enganar.No esforço de rotular o orgulho, seja lá qual for ele, a publicidade oficial flerta com a vergonha amazonense. Afinal há mais motivos para encobrir a cara do que mostrá-la ao mundo, isso tudo é pouco para um Estado que almeja atrair todas as atenções mundiais, mas corre o risco de decepcionar. A torcida é para que a sociedade amazonense mande para escanteio a omissão e contra-ataque os desmandos públicos. Apenas assim é possível não só salvar como sentir o orgulho de ser amazonense.

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