sexta-feira, fevereiro 26, 2010

PROMOÇÃO DA SAÚDE: UMA ABORDAGEM PARA A QUALIDADE

As questões emergentes sobre o enfoque da Qualidade de Vida relacionada à saúde, direcionam o debate atual contrapondo a declarada falência do modelo de atendimento em hospitais e clínicas destinado a "remediar" as enfermidades já instaladas e as propostas de redirecionamento dos recursos públicos para o fortalecimento de políticas de promoção da saúde. Surgem, por¬tanto, questões de caráter aplicado que passam a exigir dos gestores de saúde a definição de elementos prioritários para o fortalecimento da promoção da saúde das populações. Quais são e como proceder para que os investimentos tenham efeitos multiplicadores nas esferas de influência dessas ações? Há indicadores que apontam para abordagens complementares entre a avaliação individualizada dos problemas e condições afeitas à saúde das pessoas e um conjunto de ações públicas nas áreas da educação, habitação e outras que estruturam o conceito de atuação inter-setorial em ações concorrentes à Qualidade de Vida. Parece crescer a consciência sanitária para a resolução conjunta de problemas enfrentados, analisados e resolvidos pela ação po¬pular, acompanhada pêlos setores administrativos do poder público e respaldada com o apoio técnico e com recursos financeiros para a busca da Qualidade de Vida.
Na busca de maior esclarecimento sobre essas questões, pudemos notar, até o momento, neste capítulo, que as condições de saúde determinam as percepções e os sentimentos sobre o próprio estado de Qualidade de Vida. Ponderamos, também, que o estilo de vida, estruturado por hábitos e comportamentos influencia a saúde individual e a conseqüente Qualidade de Vida. Consideramos que nossa saúde é controlada e limitada, em especial, pela expressão estrutural e funcional do patrimônio genético individualizado e único. Sabemos que a expressão genômica é ampliada ou reduzida, em razão da capacidade adaptativa do organismo de reagir aos estímulos ambientais sobretudo no que diz respeito às condições de saúde. Dessa forma, estabelecendo vínculos entre as premissas e os argumentos, pode parecer extremamente simples atingir os padrões convencionados ao que é caracterizado como o "ideal de vida saudável". Mas, na realidade, como se promove saúde?
Em publicação recente, Buss (2001) conceitua claramente a Promoção da Saúde. Principia por expressá-la como estratégia promissora "para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornes", i.e., não se tra¬ta de um fim em si mesmo, mas de transformar realidades so¬ciais a partir da saúde". A seguir, distingue que o entendimento da saúde se faz em dois sentidos: no mais estrito deles, consiste nas ações dirigidas às mudanças de comportamento das pessoas, de natureza individual, familiar e "no máximo no ambiente das culturas das comunidades em que se encontram". No segundo sentido, entretanto, identifica os determinantes gerais das condições de saúde como protagônicas e reconhece a saúde como produto de amplo espectro de fatores relacionados à Qualidade de Vida: suas atividades se situam, portanto, "mais voltadas ao coletivo de indivíduos e ao ambiente, compreendido num sentido amplo de ambiente físico, social, político, econômico e cultural, por políticas públicas e de ambientes favoráveis ao de¬senvolvimento da saúde".
A observação realista dos resultados atingidos pelas políticas públicas dirigidas à saúde demonstra boas intenções para a destinação de recursos e ações, mas erra o alvo ao investir no modelo de atuação curativa e nas abordagens polemica de con¬trole e mudança individualizada dos hábitos e comportamentos. Esse modelo de ação curativa tem-se mostrado ineficiente ao diri¬gir recursos apenas à rede de atendimento de serviços de saúde, tendo em conta os elevados custos de implantação, manutenção e investimento na atualização de equipamentos, gastos com materiais de consumo, além dos custos relativos aos encargos pessoais e administrativos. Torna-se mais ineficiente, ainda, por dar conta de atender mal e a uns poucos, os que acorrem ao "serviço de saúde" apenas quando a enfermidade já se dá por instalada, ten¬do sido destruída importante parte da condição orgânica e emocional, provavelmente vital, para dar conta das reações ao curso do processo patológico e/ou de reabilitação. Constata-se, portanto, que o modelo de atenção à saúde individualizada, idealizado, praticado e reproduzido há décadas, não foi capaz de prover condições de vida que permitam às pessoas a expressão do po¬tencial biológico e cultural acumulado pela evolução humana.
Alguns países desenvolvidos, partidários da implementação de políticas públicas de saúde, considerada direito fundamental do cidadão e responsabilidade do Estado, investem seus recursos era um conjunto de elementos essenciais. São ações voltadas para:
 Educação;
 Saneamento;
 Imunização;
 Suprimento de alimentos;
 Abastecimento de água potável;
 Prevenção de doenças endêmicas;
 Distribuição de medicamentos;
 Tratamento e prevenção de doenças comuns.
Essas ações são preconizadas pela OMS, especialmente divulgadas na Declaração de Alma-ata, documento produzido em 1978, na Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde. No entanto, mesmo nos países considerados desenvolvidos, acumulam-se contingentes expressivos de grupos popula¬cionais atingidos por doenças metabólicas, reumáticas, oncológicas e associadas a estilos de vida inadequados à manutenção de padrões de Qualidade de Vida considerados ideais.
Vimos nos tópicos iniciais que os instrumentos de avaliação sobre a Qualidade de Vida centram-se na integração de concepções subjetivas (percepção individual) e na multidimensionalidade (vários domínios de relações do indivíduo com o meio). Além da definição da OMS e do instrumento idealizado para avaliação da Qualidade de Vida (WHOQOL-100), a maior parte dos instrumen¬tos mais utilizados na avaliação da Qualidade de Vida também considera as percepções individualizadas como a principal fonte de dados. Interessa saber o que o indivíduo percebe sobre sua Qualidade de Vida diante do mundo de relações. Os conceitos de Qualidade de Vida atribuem significados diferenciados segundo as faixas etárias consideradas, os aspectos históricos, culturais e de estratificação social, baseando-se especialmente nas sensações vividas e interpretadas nos domínios biológicos, psicológicos, emocionais e de relacionamento com o ambiente. Não há, portanto, como desconsiderar a importância da avaliação individual.

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