quarta-feira, fevereiro 17, 2010

ZONA FRANCA VERDE

A região amazônica é hoje pelo menos duas vezes mais rica do que há três décadas, segundo indica o PIB dos estados que a compõem. Esse crescimento econômico, no entanto, se deu em grande parte graças a atividades que têm como base a destrui¬ção da floresta — a exploração madeireira e a pecuária exten¬siva. Quem estuda a Amazônia a sério concorda que, para evi¬tar que a região continue a ser explorada de forma predatória, é preciso desenvolver atividades econômicas que não exerçam pressão sobre a floresta, promo¬vam riquezas e assegurem emprego e renda à população. A experiência mais bem-sucedida nesse sentido, até agora, é a Zona Franca de Manaus, um enclave de eficiência tecnológica na Amazônia. Criada em 1967, como parte do pla¬no do regime militar de integrar a Amazônia ao restante do país, essa região de livre-comércio compreende uma área de 10000 quilômetros quadrados, in¬cluindo a capital amazonense. Para via¬bilizar seu projeto, o governo federal passou a conceder incentivos fiscais às empresas que se dispusessem a instalar fábricas no meio da selva.
A isenção fiscal sobretudo impostos sobre produtos industrializados (IPI) para mercadorias que entram e saem da área, resultou na criação de um dos maiores e mais diversificados complexos industriais da América La¬tina. Pouco mais de quatro décadas após sua fundação, a Zona Franca de Manaus concentra 550 indústrias mo¬dernas, que fabricam desde lentes of¬talmológicas até motocicletas. No ano de 2008, essas companhias alcançaram juntas, um faturamento de 60 bi¬lhões de reais, o dobro do PIB da Bolívia. Nessa conta não estão com¬putados os resultados obtidos pelas duas centenas de empresas dos setores de comércio e prestação de serviços que gravitam em torno das fábricas.
Até o início da década de 1990, a Zona Franca de Manaus funcionava basicamente como um entreposto para a importação de produtos, sobretudo eletroeletrônicos. Na maior parte dos casos, os equipamentos eram apenas montados no PIM e, depois, distribuídos para o resto do país. Após a abertura da economia brasileira ao mercado in¬ternacional e a redução generalizada das alíquotas de importação, antes res¬trita à Zona Franca, as indústrias locais tiveram de se reinventar para sobrevi¬ver. Graças aos investimentos em tec-nologia e à intensa qualificação da mão de obra, elas conseguiram agregar valor à produção e tornar-se competiti¬vas. Atualmente, uma média de 30% dos componentes de seus produtos são fabricados na própria região. Outros 20% são produzidos em outros estados brasileiros. No ano passado, as com¬pras de insumos feitas dentro do Brasil pelas indústrias do pólo ultrapassaram a casa dos 14 bilhões de reais. Em al¬gumas fábricas, o índice de nacionalização da produção é muito superior.
Para que o pólo industrial de Manaus se consolide, falta desatar alguns nós. Um deles é o da infraestrutura logística da região. Manaus é ainda hoje uma cidade praticamente isolada: o acesso a ela só é possível de avião ou por meio de longas viagens de barco ou navio. Há também o gargalo da energia, que, a exemplo do que acontece no restante do estado, é alimentada pelo poluente e caro óleo combustível. Ainda na visao da logística, é necessário que a estrutura portuária da cidade seja mo¬dernizada. A orla de Manaus, ao longo do Rio Negro, é um verdadeiro caos, com o engarrafamento diário de cente¬nas de embarcações de passageiros e de cargas.
A consolidação da Zona Franca de Manaus passa também pela capacidade das indústrias locais de agregar mais valor a seus produtos. Para isso, ajuda¬ria atrair uma indústria de semicondu¬tores para a região. Atualmente, esses dispositivos, que funcionam como o "coração" de diversos equipamentos, são todos importados o que encare¬ce muito os custos, "Esse melhoramen¬to só será possível se houver uma deci¬são política de transformar o pólo em um centro de produção de ciência e alta tecnologia, como ocorre no Vale do Silício americano". Entre os produ¬tos que utilizam a microeletrônica es¬tão os marca-passos, os aparelhos des¬tinados a suprir deficiências motoras e sensoriais, os vinculados a defesa e gestão de território e os associados aos conversores da TV digital. A ampliação da Zona Franca de Manaus em direção à alta tecnologia produziria empregos suficientes para modificar a vida de mi-lhares de habitantes da Amazônia.
A criação de pólos semelhantes ao de Manaus poderia transformar a economia da Amazônia. Com investimentos maciços em educação e formação de mão de obra, estados cuja economia, se baseia no extrativismo e na pecuária, poderiam deslanchar como centros industriais capazes de desviar da floresta atenção de seus habitantes. Em Rondônia, um novo pólo que alcançasse metade do sucesso da Zona Franca de Manaus seria suficiente para triplicar PIB do estado. Em estados menores como Acre e Amapá, um pólo industrial os faria produzir doze vezes mais riquezas do que agora. É o desenvolvimento de costas para a floresta.

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